Operação da PF paralisa praticamente 100% da exportação brasileira de carne

Notei que há certa confusão entre os críticos dos críticos da operação Carne Fraca. Confunde-se à crítica à burrada da PF com defesa dos frigoríficos.

Alguém chegou a dizer que o Brasil não exporta tanta carne assim, porque seriam “apenas” 20% do total produzido.

Bem, o Brasil é o maior exportador mundial de carne. Se isso é pouco, não sei o que poderia ser muito.

Outros continuam acreditando nas acusações da PF sobre presença de “carne podre” e “papelão”. A denúncia da PF foi inepta. Não encontraram nenhuma carne podre. Nenhum papelão. Esse é o principal problema. A PF baseou suas acusações em trechos de conversas ao telefone, ao invés de usar seus próprios peritos e analistas. Em dois anos de operação, a PF fez apenas uma análise. E são mais de cinco mil unidades no país, quase todas com certificação internacional.

Além disso, a cadeia industrial é um ecossistema delicado, como qualquer sistema econômico complexo.

Se se quebrar as grandes cadeias, haverá quebradeira generalizada de transportadoras, produtores, distribuidores, exportadores, traders, consultores, veterinários, com reflexos sobre várias outras cadeias econômicas interligadas, que formam a indústria, como os produtores de ração, de remédios, de insumos, de infra-estrutura para estábulos, numa escala gigantesca, visto que somos um país com 206 milhões de pessoas, que mantinha, até o momento, um dos maiores consumos de carne do mundo.

Outros dizem que a “demanda vai continuar”.

Ora, claro que vai, mas muito menos, sobretudo porque os que vão perder o emprego vão consumir muito menos carne.

Por fim, há aqueles que alegam que a grande mídia defendem as frigoríficas e atacam a operação federal, então a blogosfera não poderia ficar do mesmo lado da grande mídia.

Ora, ela faz isso agora, depois do estrago feito. Foi ela – a grande mídia – que deu cobertura à coletiva do delegado, e, sobretudo, foi a grande mídia que alimentou essa obsessão pelos holofotes entre autoridades repressivas.

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No Globo:

A revelação de um esquema de corrupção que colocou sob suspeita 21 frigoríficos, na Operação Carne Fraca da Polícia Federal, causou uma queda substancial na média diária exportada de carnes bovina, suína e de franco para o mundo. Segundo o Ministério de Indústria, Comércio Exterior e Serviços, na última terça-feira o total vendido ao exterior, que ficava em torno de US$ 63 milhões por dia, caiu para US$ 74 mil. Esse cenário, já repassado ao Palácio do Planalto nesta manhã, preocupa o governo brasileiro, que vem tentando evitar que o Brasil perca mais mercados.

(…) Em 2016, as carnes ficaram em segundo lugar na pauta de exportações do Brasil, com US$ 14,210 bilhões, só perdendo para os produtos do complexo soja (US$ 25,418 bilhões). A participação de carnes em geral no total ficou em 16,73%.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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