Pesquisa Vox explica histeria midiática e pressa da Lava Jato

A Lava Jato não dá ponto sem nó.

Desde o início, a operação trabalhou com o conceito de “timing”. O modus operandi, na verdade, vem desde a Ação Penal 470, com seus julgamentos agendados sempre às vésperas de eleição.

As delações da Odebrecht, da mesma forma, vieram no momento certo: duas semanas antes do depoimento de Lula para Sergio Moro, dando munição à Globo para disparar contra o ex-presidente numa escala crescente.

A intensificação do fogo cerrado da mídia/Lava Jato contra Lula, porém, tem outra razão, ainda mais forte: o crescimento de Lula nas pesquisas, confirmado pela mais nova pesquisa Vox Populi/Cut.

Se não acredita na Vox Populi, por causa de seu patrocinador, lembre-se de que ela confirma sondagens realizadas há pouco tempo por Ibope, Datafolha, Instituto Paraná e Instituto Nassau. Eu deixei, ao final do post, imagens e links dessas outras pesquisas.

A pesquisa de campo foi realizada entre os dias 07 e 10 de abril, ou seja, antes da delação da Odebrecht, que motivou extensas reportagens contra Lula nos telejornais.

Entretanto, como as delações atingiram todos os espectros políticos, e apesar do foco da mídia continuar sendo o ex-presidente Lula, ainda não se pode dizer como será o seu impacto. Na minha opinião, Lula pode até perder um pouco de votos, mas não muito, na medida em que não se encontrou nada de concreto contra o ex-presidente. Como seus principais adversários foram diretamente atingidos, os prejuízos são, de certa forma, distribuídos. À diferença dos tucanos, que não tem militância orgãnica, Lula tem a sua, muito forte, a qual, depois de vários anos de conspirações midiático-judiciais, está bastante vacinada contra armadilhas jurídicas.

Antes de analisar a pesquisa, eu sugiro uma coisa aos internautas e ao campo progressista: cuidado com o salto salto. O histórico de pesquisa no Brasil mostra que, em se tratando de Lula e PT, as pesquisas tem errado “a favor” deles (deles, Lula e PT), possivelmente por causa das campanhas jurídico-midiáticas, que são cada vez mais agressivas e densas. A situação do PT em 2018 não será fácil, porque os adversários não parecem mais dispostos a fazer a disputa no campo das ideias. A mídia alimentou, cuidadosamente, deliberdamente, um núcleo social fascista, e empurrou esse núcleo contra o PT, enquanto assiste a tudo em silêncio cúmplice. Esse núcleo social fascista não se restringe às suas franjas aparentemente ridículas, como o MBL. Ele tem forte representação no Estado, assim como o fascismo original tinha presença no judiciário alemão e italiano.

Será um desafio muito grande, para o PT, desconstruir a agressividade fascista, as conspirações midiático-judiciais, e conduzir uma campanha minimamente programática. Para isso, precisará, mais que nunca, de uma comunicação democrática, livre, autônoma. O tempo dos publicitários milionários, como João Santana e Duda Mendonça, terminou. 2018 será o ano da política.

Dito isto, vamos analisar a pesquisa, quadro por quadro.

No quadro acima, nota-se uma transformação química operada pelo impeachment/golpe. A aprovação a Lula dispara depois daquela votação na Câmara liderada por Eduardo Cunha. O que é sintomático: a mídia reuniu todas as suas forças às vésperas do golpe, para neutralizar a influência de Lula sobre a opinião pública e sobre a Câmara. Mas ela não consegue manter esse nível de tensão por muito tempo. Ela voltou à fazê-lo agora, por causa das delações da Odebrecht, mas como é obrigada a veicular também denúncias contra tucanos, o jogo fica zerado, embora dando margem para o aparecimento de um salvador da pátria.

É sempre interessante notar como a rejeição aos tucanos cresce vegetaticamente. O PSDB é um partido organicamente impopular.

A rejeição a Lula tem caído rapidamente. Outros institutos já detectaram isso. Ainda vamos saber os efeitos dessa nova onda de ataques. O fato, porém, de que Lula agora está “afiado”, defendendo-se, lhe dá uma arma nova. Lula, aparentemente, está usando a projeção dada pela mídia, para lhe atacar, para crescer na opinião pública. Falem mal, mas falem de mim!

Outro dado que comprova a impopularidade orgânica do PSDB. O fato do partido ter se aliado ao governo Temer é outra explicação para que tucanos absolutamente blindados pela mídia, como o Príncipe FHC, tem visto sua aprovação cair.

Dória tem de comer muito feijão com arroz ainda. E ele tem de parar de chamar os outros de “Lula” na rua.  No sudeste, ele é engolido por Marina Silva e Bolsonaro.

Dória ainda não é conhecido. O gráfico acima sugere uma possibilidade estranha: um segundo turno entre Lula e Bolsonaro.

O PSDB ainda tem votação muito concentrada no Sudeste. O Nordeste está se voltando para Lula com uma força épica.

 

Jair Bolsonaro tem quase três vezes mais votos do que Aécio, entre o eleitor com renda superior a 5 salários. E mesmo Lula vence com folga nesta faixa de renda. Entre os pobres, Lula mantém a majestade. A crise está fazendo, possivelmente, o eleitor de classe média baixa voltar a pensar como classe trabalhadora, e a votar em Lula.

A força de Jair Bolsonaro está muito concentrada em setores de elite do sul e sudeste. Ele tem 20% dos votos de quem possui ensino superior completo, o dobro de Marina Silva e quase quatro vezes mais que Aécio. Mas Lula ainda ganha, com folga, em todas as faixas de escolaridade.

A força de Lula no Nordeste atingiu uma força inacreditável. Isso acarreta um fenômeno curioso. Obriga toda a classe política nordestina a se aproximar de Lula. E ainda obriga o governo federal, que é tucano, a investir no Nordeste, para tentar não perder muito.

O histórico de Aécio é curioso. Repare que, em abril de 2016, ele tinha 17% contra 29% de Lula: uma diferença de 12% em favor de Lula. Agora, após um ano de golpe, Lula tem 44% e Aécio, 9%: diferença de 35% em favor de Lula! O golpe fez muito mal a Aécio e aos tucanos em geral. Marina, contudo, também perdeu. O eleitor não parece muito satisfeito com o silêncio cúmplice da candidata.

 

Os 36% espontâneos de Lula são um número extraordinário. Acho que nunca um candidato presidencial jamais teve tanta força um ano antes da eleição. Os 6% de João Doria e a ausência de Jair Bolsonaro na espontânea sugerem que o segundo turno de 2018 deverá ficar mesmo entre Doria e Lula.

 

Os tucanos estão perdendo força diante de Lula.

Marina, igualmente, está minguando.

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Íntegra da pesquisa Vox.

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Outras pesquisas recentes:


Ibope – avaliação Temer – 17 a 19 de março de 2017 – link

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Datafolha – intenção de voto para 2018 – 07 a 08/12/2016

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Pesquisa Instituto Nassau, em Pernambuco – 23 e 24 de março de 2017 – link

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Instituto Paraná Pesquisas – Em Minas Gerais – 31 de março a 05 de abril de 2017 – link

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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