A Greve Geral e a paz que não devemos seguir

Parte do clipe "a minha alma" do Rappa.

Foto: retirada do clipe “A Minha Alma”, o Rappa, no Youtube

Por Tadeu Porto*, colunista do Cafezinho

Minha geração passou a adolescência inteira fascinada com a música do Rappa, “A Minha Alma”. Eu mesmo ficava horas vidrado no Disk MTV esperando o clipe desta música – uma revolução na época – cuja letra possui, dentre as ótimas frases, uma que é simplesmente fantástica:

“Paz sem voz, não é paz é medo”.

Conseguimos imaginar quantos cidadãos ou cidadãs têm voz no Brasil? Não é difícil inferir que pouquíssimas pessoas conseguem expor suas necessidades, problemas ou mesmo sonhos para algum fórum de tomada de decisão social (estou falando simplesmente de expor, quando o assunto é fazer acontecer o quadro é ainda bem pior, certamente).

Convenhamos, numa sociedade assim, tipo a pequena sereia Ariel depois de ser amaldiçoada pela bruxa Úrsula, não existe muita paz para seguir.

A não ser, claro, a paz dos poderosos.

A paz de Michel Temer, por exemplo, que distribui cargos a rodo para passar reformas “que são necessárias ao país” (as mudanças são tão importante que precisa “comprar” parlamentar para ter voto). Ou a paz do STF, que em meio a uma mega crise fiscal – que faz milhares de funcionários públicos viverem sem renda! – libera honorários acima do teto constitucional para legalizar os super-salários.

Estamos longe de ser o país da pomba branca, afinal, vivemos sob a ameaça constante do medo: de perder empregos, de sofrer com a violência diária e de não conseguir fechar as contas que garantem o básico para uma vida justa.

As únicas pessoas em paz por aqui, são mega empresários (mídia incluída) e políticos do establishment. As colheres de chá que Gilmar Mendes deu a Aécio Neves e Eike Batista, por exemplo, estão longe de ser o tratamento da realidade nacional, bem representada pela perseguição que a justiça faz ao estudante Rafael Braga, preso e condenado a uma pena absurda por portar uma garrafa de desinfetante.

Assim, não é de surpreender que alguém queira fechar uma ou outra estrada por algumas horas (coisa que o acaso com um acidente de trânsito faz facilmente) para poder ser escutado. É de se esperar, também, que a ira de cidadãos ou cidadãs quebre uma pequena vidraça de bancos como o Itaú, implacável com as dívidas de seus clientes masque este teve uma dívida de 25 bilhões perdoadas pelo governo golpista [vale lembrar que estamos numa realidade fiscal muito difícil e o presidente do BC é ligado ao banco dos Setúbal].

Por isso, eu respeito demais quem não quis sentar na poltrona no dia do domingo, procurando novas globos de aluguel. Aquelas pessoas que armaram sua alma para, por um único dia, aponta-lá na cara do sossego de uma elite que passou mais de 500 anos explorando terras e pessoas no Brasil.

Minha admiração vai para as quase 40 milhões de pessoas que saíram de casa, enfrentaram ameaças do empregador e o corpo armado do Estado para fazer a maior Greve Geral que esse país já viu.

As pessoas que não querem seguir aquela paz, de Temer, Cunha e Aécio, admitindo.

Tadeu Porto é diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense. Sigam-o no Facebook! :)

P.s. Deixo aqui um link para escutar a música “A Minha Alma”, do Rappa. Fantástica!

 

Outro texto: O achaque de Cunha hoje é de Temer

 

Se havia dúvidas que Temer e Cunha e vice e versa….

 

Tadeu Porto: Petroleiro e Secretário adjunto de Comunicação da CUT Brasil
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