Lava Jato e Estadão: unidos na convicção sem provas

Imagem: Primeira página do Estadão quando da ascensão de Michel Temer à Presidência

No embalo das alegações finais dos procuradores da Lava Jato contra Luiz Inácio Lula da Silva, o jornal O Estado de São Paulo sacou da mesma convicção sem provas dos intocáveis de Curitiba para requentar denúncia contra o ex-presidente.

“Banco suíço denuncia contas usadas pela JBS para Lula e Dilma”, diz o título da matéria que, além da mais absoluta falta de provas para afirmar isso, erra no tempo do verbo. O banco em questão chama-se Julius Baer e na verdade já denunciou as tais contas, como avisa o jornal no subtítulo, “antes da delação de Joesley” Batista, dono da JBS.

As contas? São aquelas mesmas que sempre estiveram em nome de Joesley, sempre foram movimentadas por ele, só por ele, mas que, segundo o dono da JBS, serviam a Lula e à ex-presidenta Dilma Rousseff.

No meio das bombas reveladas por suas gravações, atingindo o presidente Michel Temer e Aécio Neves com a prova da voz gravada, Joesley disse que contas no nome dele na Suíça eram, na verdade, de Lula e Dilma. Para provar o que dizia, tinha, apenas e tão somente, a própria palavra.

É preciso falar de Lula para que um acusado da Lava Jato tenha sua delação aceita e possa usufruir dos prêmios dela decorrentes, dos quais o menos agradável é a tornozeleira. Precisa-se “Dilma panela pra fritar Lula”, como bem definiu o Porta dos Fundos, e daí surgem denúncias desse tipo.

Léo Pinheiro primeiro mofa na cadeia porque sua delação não cita Lula, não tem provas, nada contra o ex-presidente. Depois muda de ideia e diz o que os procuradores querem ouvir, que Lula isso, Lula aquilo, e que não tem provas porque, vejam só a sagacidade, Lula mandou destruir.

Joesley tem contas na Suíça no nome dele, movimenta e sempre movimentou essas contas, mas diz que, assim, pra falar a verdade pedida pelos procuradores, as contas são de Lula e Dilma. E a grande mídia, eufórica, monta um estardalhaço em cima disso que acaba obrigando William Waack a ler um desmentido no Jornal Nacional, ao vivo.

As contas não são de Lula e Dilma, informou o apresentador, constrangido, e ontem, como se nada disso tivesse acontecido, nem o ridículo da denúncia nem o desmentido, o Estadão voltou ao assunto.

Afirmou de novo, no título, que as tais contas da JBS eram para Dilma e para Lula sem nenhum outro embasamento para isso além do que foi dito por Joesley. Com uma decisão antiga do banco, requentou a história mantendo o ridículo de considerar de Lula e Dilma, no título, contas em nome somente de Joesley.

E o fez na esteira do pedido de Dallagnol e cia para que o juiz amigo reconhecesse a dificuldade imensa de se conseguir provas contra Lula. O pedido vai junto das alegações nas quais os procuradores pedem também que o juiz reduza a pena de Léo Pinheiro e demais delatores que, enfim, falaram de Lula.

E o Estadão leva a sério essas alegações, baseadas unicamente na grande bolota com o nome de Lula do inesquecível powerpoint de Dallagnol, envolta pelas bolotas menores com todas as mazelas do país. E leva a sério as contas em nome de Joesley que são de Lula e Dilma, o mesmo jornal que outro dia publicou editorial rompendo com os métodos de Sergio Moro.

Mas aí o caso envolvia um amigo, e pode envolver muito mais relacionado à chamada grande mídia, como revelou Renato Rovai, hoje, em seu blog. A diferença é que, nesse caso, com relação a Temer e à mídia, há muito mais a ser mostrado do que uma inabalável convicção.

Luis Edmundo: Luis Edmundo Araujo é jornalista e mora no Rio de Janeiro desde que nasceu, em 1972. Foi repórter do jornal O Fluminense, do Jornal do Brasil e das finadas revistas Incrível e Istoé Gente. No Jornal do Commercio, foi editor por 11 anos, até o fim do jornal, em maio de 2016.

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