Só Deus, contra o cinismo

Foto: Divulgação

Por Denise Assis, jornalista e colunista do Cafezinho

A palavra cinismo tem origem no grego: Kynismós. Em latin, cynismu. Seja qual for a sua origem, porém, o termo trespassou séculos, chegou ao Brasil e estacionou. O cinismo parece ter se impregnado de tal forma à vida nacional, que nada abala os que se aboletaram no governo. Têm a certeza da impunidade tatuada na alma. Estão levando a tal ponto as suas ações nefastas, que nada mais nos impacta. É como estar na neve. Depois de zero grau, tanto faz menos 10, ou menos 30. Que Deus nos proteja da indiferença!

Não fora o cinismo crônico, como explicar que um comandado siga as instruções de seu “amo”, cometa um crime comum, de bandidagem clássica, e depois de confessar, devolver o produto do delito – uma mala, contendo R$ 500 mil – com toda a sociedade assistindo às gravações que registraram a origem da ordem para o recebimento, e nada aconteça com o “mandante”?

Como entender que um promotor ainda preso ao hábito estudantil de apresentar trabalho em grupo, em Power point, leve o Ministério Público a pedir a condenação de um ex-presidente da República, com base em suas “convicções”?

Provas? Para quê? Basta a narrativa.

E tem o caso daquela senhora, que assinou ordens de depósitos no exterior de somas muito além do salário do marido, mas se safou, pois o juiz, com fama de mau, não viu nada de esquisito nisso… Acreditou piamente nos argumentos do advogado de defesa, ligado à sua esposa.

E, ainda, as atividades daquele senador, acostumado a escapar de uma fileira de acusações que, flagrado em conversas nada republicanas com um juiz do Supremo e um empresário, foi apenas afastado de suas funções. E vida que segue.

Os corredores do prédio da Fazenda, no Rio de Janeiro, vivem abarrotados de pobres diabos, com pilhas de recibos nas mãos, tentando agendamento para explicar ao Fisco onde foi que colocaram seus míseros tostões. Por que será, que esse mesmo leão, tão voraz com aposentados, pensionistas, não percebeu a derrama de bilhões circulantes por estradas e atalhos alternativos, indo desembocar nas contas de políticos influentes, a começar do número um?

Elitista, esse leão… Não gosta de pobres. Classe média, então, nem pensar. Tem birra daqueles sujeitos que adoram gastar num plano de saúde. Para esses, a malha fina, a aporrinhação, a burocracia emperrada, o acordar cedo para fazer mil tentativas de conseguir o tal atendimento eletrônico. Tudo aquilo que os senhores de Brasília nem sequer imaginam a existência, pois têm a vida ganha e gerenciada por assessores.

O cinismo, minha gente, é este despir-se do sentimento da vergonha e de qualquer generosidade em relação à dor do outro. Os cínicos são os que não se preocupam a não ser consigo próprio. Pois é bom que comecem a perder noites de sono. Uma hora o povo acorda e se farta de pagar a conta. Que Deus nos livre do cinismo, amém!

Luis Edmundo: Luis Edmundo Araujo é jornalista e mora no Rio de Janeiro desde que nasceu, em 1972. Foi repórter do jornal O Fluminense, do Jornal do Brasil e das finadas revistas Incrível e Istoé Gente. No Jornal do Commercio, foi editor por 11 anos, até o fim do jornal, em maio de 2016.
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