João Doria quis apresentar a tragédia da seca no nordeste como atração turística

10/6/2017- São Paulo- SP, Brasil- O prefeito de São Paulo, João Doria, participa do programa SP Cidade Linda realiza a partir deste sábado (10) serviços de zeladoria na Avenida dos Bandeirantes, na Zona Sul da capital paulista. Na 24ª edição do programa, ações de limpeza, manutenção, jardinagem e revisão da sinalização acontecerão nos seis quilômetros da avenida. Foto: Leon rodrigues / SECOM-PMSP

(Quer enganar quem? Foto: Leon Rodrigues / SECOM-PMSP)

Por Pedro Breier, colunista do Cafezinho

João Doria propôs, em 1987, quando era presidente da Embratur, transformar a tragédia da seca no nordeste em atração turística.

Segundo a revista Zebu (edição 58, página 23, neste link), Doria defendeu a redução das verbas que seriam utilizadas na irrigação do nordeste para aumentar as de turismo e “exibir os flagelados da seca porque os habitantes do eixo Rio-São Paulo só conhecem a seca através da imprensa”.

Esta inominável ideia permite-nos vislumbrar o que a ideologia de direita esconde, mas que está lá no fundinho do coração de cada conservador.

É a ideia de que muitos nasceram para sofrer, trabalhar feito condenados e servir, enquanto uns poucos iluminados nasceram para serem servidos.

Toda a balela da meritocracia e o discurso de que o Estado não se meter na economia é melhor para todo mundo serve para enganar trouxa. A visão de mundo da direita não apenas convive bem com a desigualdade social, mas entende-a como essencial para o funcionamento “normal” da sociedade.

Se os candidatos à destra fossem sinceros nas campanhas eleitorais não elegeriam nem um mísero vereador no Brasil inteiro.

Ainda bem que de vez em quando eles não se contêm e fazem na vida pública o que costumam fazer somente na privada, como demonstra gloriosamente Doria.

Ele teve a pachorra de dizer, hoje, que Lula deve poder concorrer em 2018 para perder as eleições e para “não criarmos um mártir e a vitimização que pode eternizar a figura de um mito que não é mito”. “Vamos enterrar o mito, vamos enterrar o Lula”, bradou.

Lula é o cidadão que resolveu levar água e luz para o nordeste, ao invés de turistas, e permitiu que um povo sofrido passasse a ter um pouco, que seja, de dignidade. Não por acaso, o presidente mais popular desde Getúlio Vargas.

É assustador que o prefeito da maior cidade do país apresente sinais tão fortes de megalomania e descolamento da realidade.

O problema, para os aristocratas do século XXI, é que o desejo de liberdade do ser humano, que move a roda da história, é imparável.

O destino inexorável do povo do nordeste e de todos os povos oprimidos do mundo só pode ser um: o da libertação.

Abaixo, notícia sobre a canalhice de Doria no jornal O Globo de 2 de julho de 1987 e notas na Folha de São Paulo e na Gazeta Mercantil:

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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