Michel Temer, um cadáver insepulto no Planalto

Perdeu, Michel

Por Denise Assis*

“Escravos de Jó jogavam caxangá/Tira, bota deixa”…

O momento político remete à cantiga popular infantil. Temendo ser derrotado na Câmara, Michel exigiu que fossem trocados 17 parlamentares na CCJ (dez titulares e sete suplentes), a fim de tentar derrubar o relatório do deputado Sérgio Sveiter e rejeitar a abertura do processo aberto contra ele, por conta de uma denúncia da Procuradoria Geral da República.

Eu assisti, tu assististe, ele assistiu. Nós assistimos, enfim, todos viram os crimes serem cometidos frente às câmeras de TVs, e assentidos pelo próprio Michel, em um pronunciamento oficial. Ainda assim, ele vale-se de manobras as mais rasteiras para não descer de um cargo que ocupou em conseqüência de uma “molecagem”, do senador derrotado, denunciado, afastado, e “inocentado”, Aécio Neves. Uma delas, botar em leilão milhões em verbas oficiais, na compra de deputados que possam salvar-lhe a pele.

Depois de todas estas jogadas, típicas da política mais chinfrim, que não é de hoje faz “agrados” a deputados ruralistas e nordestinos, principalmente, um jornal de grande circulação estampa na primeira página chamada em que qualifica os que já externaram o voto pela decência e pelo afastamento de Michel, de “rebeldes”. Michel ainda estendeu as benesses a prefeituras encalacradas, fazendo adiantamento de repasses de verba. Neste ponto, o diário faz uma avaliação do “placar” e prevê que Michel sairá vitorioso desta peleja.

Ledo engano. Ainda que o painel da Câmara, que Deus nos livre, aponte para um resultado aritmético favorável a ele, Michel já perdeu: a parca biografia que conseguiu construir a duras penas, em sua trajetória de político de gabinete. Perdeu a vergonha na cara, perdeu a decência, perdeu o apoio de parte dos seus pares, entre os quais nunca obteve simpatia absoluta. Perdeu a governabilidade, tendo que saltar, daqui por diante, de uma pinguela a outra para superar crises incontornáveis. Perdeu a popularidade que nunca teve. E, cá para nós, sabe-se lá, deve ter perdido até mesmo a “admiração” da recatada, no lar.

Não se vai longe arquitetando golpes, acumulando mentiras, traindo e manipulando. Michel, tal como Cabral, exagerou na dose de se “prevenir”, para que tudo corresse a seu favor. Não Michel. As ruas não o toleram, o mercado apenas o suporta como síndico de uma pauta dele, mas distanciada dos direitos do povo a quem você deveria servir.

Não se iluda, Michel. A fatura virá. Pode não ser pelo painel eletrônico – embora nunca seja demais acreditar que a decência dos deputados, ainda que temporária e utilitarista, por estarmos à beira das urnas em 2018 (?) irá prevalecer. Ela chegará. Estamos nos preparando para assistir o povo virando-lhe as costas e a história deixando registrado que você, Michel, perseguiu trabalhadores, sonegou direitos adquiridos, vendeu o país aos estrangeiros, abandonou os desvalidos à própria sorte e negou aos estudantes o direito ao saber humanista, o acesso às universidades, e remédios baratos aos enfermos. Pense em Michelzinho tendo que estudar a sua trajetória, daqui a uns anos, adolescendo. Reserve uma graninha para o terapeuta. Talvez seja necessário.

* Jornalista e colunista de O Cafezinho

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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