O lançamento do filme da Lava Jato – uma peça de propaganda de baixíssima qualidade

(“A lei é para todos”, menos para os amigos da Globo)

Por Pedro Breier

Leiam, caras leitoras e queridos leitores, o inacreditável início da matéria do Globo sobre os “bastidores do lançamento do filme da Lava Jato”:

Do outro lado do corredor do Park Shopping Barigui dava para sentir o perfume dos convidados da noite de pré-estreia do filme “Polícia Federal – A Lei é para Todos”, em Curitiba, nesta segunda-feira. Clientes observavam a movimentação atípica de cinegrafistas e fotógrafos, enquanto a elite do Judiciário Federal curitibano chegava à sessão do primeiro filme da Lava-Jato.

Nesta noite, o longa ocuparia as oito salas do complexo, mas juízes, delegados e elenco do filme tomariam apenas uma delas, justamente a mais cobiçada, onde se sentariam mais tarde, na companhia das mulheres, os juízes de Curitiba, Sergio Moro, e do Rio, Marcelo Bretas, na primeira aparição pública traduzida em apoio mútuo, como dupla.

– Se jogarem uma bomba na sala 5… imagine o luto. Deve ser por isso que a pulseirinha é preta – brincava em uma rodinha de colegas o juiz Marcos Josegrei da Silva, o segundo mais pop da Justiça Federal em Curitiba, à frente de operações como “Hashtag” e “Carne Fraca”.

“Perfume dos convidados”; “elite”; “a mais cobiçada”; “o segundo mais pop”.

Poderíamos esperar expressões como estas em uma matéria da sessão de fofocas, talvez sobre a mais nova coleção lançada pelo segundo estilista mais pop do mundo, que contou com a modelo mais cobiçada do momento desfilando com roupas que ninguém usaria.

Na distopia chamada Brasil 2017, o perfume dos convidados é destacado em uma matéria sobre delegados, juízes e procuradores (a elite do judiciário, uau!), os quais foram alçados a pop stars por uma mídia especialista em manipular, controlar e golpear a nossa democracia.

O trailer não deixa dúvidas sobre a qualidade do filme. Os diálogos são nível novela da Globo. Um deles: Paulo Roberto Costa pergunta, ao fazer a sua delação, “por onde eu começo?” e é respondido dramaticamente, provavelmente por Dallagnol: “do começo”. Não dá uma vontade louca de ir ao cinema ver este clássico instantâneo?

Se a péssima qualidade fica evidente no trailer, o objetivo político do filme é mais escancarado ainda. “Eles montaram a maior operação anticorrupção do mundo”, anunciam em letras garrafais. Esqueceram de complementar que o resultado da grandiosa operação foi um golpe que levou ao poder o governo mais corrupto do mundo.

Alberto Youssef é o primeiro vilão a aparecer. Será que o filme mostrará que Youssef já tinha feito um acordo de delação premiada com Sérgio Moro no caso Banestado e estava proibido, por lei, de fazer outro caso voltasse a cometer crimes? Não precisamos ver a película para saber a resposta.

As críticas à seletividade da operação também dão as caras. O pai de um dos integrantes da Lava Jato questiona o filho: “Vocês estão sendo seletivos!”. O filhão responde, triunfante: “Quem cai na nossa mão é investigado. Até parece que eu não votei neles também. Eu fiz campanha, esqueceu?”. O pai baixa a cabeça, desnorteado. Refutem essa, petralhas.

Na vida real, os delegados da Lava Jato faziam campanha para Aécio Neves – aquele mesmo que falou em matar delator e continua livre, leve e solto no Senado – e xingavam Lula e Dilma nas redes sociais.

A última frase do trailer é de Youssef, o duplamente perdoado por Sérgio Moro: “Veja bem, o Planalto sabia de tudo”. Mais alguém lembrou da grotesca capa da Veja na eleição de 2014?

Certamente ninguém questionará, no filme, por que as ações da Lava Jato e os vazamentos ilegais para a mídia conservadora coincidem espetacularmente com a agenda da direita desde 2014 até hoje. Apenas alguns singelos exemplos: o vazamento que propiciou a capa da Veja em 2014; o vazamento dos áudios que envolviam até a presidenta da República (!), os quais foram usados para impedir a posse de Lula como ministro da Casa Civil; as prisões imediatamente anteriores à eleição de 2016, as quais interferiram, sem sombra de dúvidas, no processo eleitoral; a condenação de Lula logo após a aprovação da reforma trabalhista, recentemente.

O último ato do filme é a condução coercitiva de Lula. A absurda divulgação dos áudios grampeados de Lula, Dilma e outras pessoas, que ocorreu apenas alguns dias depois e foi o ato mais explícito de Moro para sacramentar o golpe, ficou, providencialmente, de fora. Ia dar trabalho explicar, não é? Moro teve até que pedir “escusas” ao STF…

O patético filme sobre a Lava Jato engana apenas quem quer ser enganado, a nossa elite pop e perfumada – e haja perfume para disfarçar a podridão moral.

O Brasil real, que mata um leão por dia para sobreviver, já percebeu o que está acontecendo. A liderança inconteste do grande vilão da Lava Jato nas pesquisas para a presidência não deixa dúvidas disso.

 

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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