Faz sentido um trabalhador ser de direita?

(Respondendo objetivamente: não. Charge: Jota)

Por Pedro Breier

A galera da pelada de segunda-feira aqui em São Paulo me “zoa”, como dizem os paulistanos, por ser de esquerda.

Eu normalmente respondo com uma pergunta: tu é trabalhador? Após a resposta positiva, eu aviso que a pessoa deveria, então, ser de esquerda.

O governo Temer, explicitamente de direita, comprova perfeitamente a validade da teoria de que se a pessoa pertence à classe trabalhadora, deveria ser de esquerda.

O último ataque do governo mais impopular da história aos trabalhadores foi uma portaria publicada ontem que restringe o conceito de trabalho escravo, ou seja, dificulta a libertação de escravos.

Vou escrever de novo porque não é algo banal: o governo federal acaba de dificultar a libertação de escravos a pedido da bancada ruralista. O Sakamoto dá mais detalhes do absurdo da medida aqui.

Antônio Carlos de Mello Rosa, coordenador do Programa de Combate ao Trabalho Forçado da Organização Internacional do Trabalho, falou o seguinte sobre a portaria:

A OIT lamenta essa regressão na luta contra o trabalho escravo. Este documento, de uma vez só, impede o trabalho da fiscalização e esvazia a lista suja. Ao obrigar que um policial lavre um boletim de ocorrência, impede ações de resgate. Se um auditor fiscalizar uma obra e constatar que há trabalhadores escravizados, não poderá resgatá-los.

Esta aberração é mais uma a entrar no rol dos brutais ataques aos trabalhadores perpetrados pelo governo federal, somando-se à PEC do teto dos gastos, que garante a drenagem de recursos públicos para o mercado financeiro e congela os investimentos pelos próximos 20 anos, e a reforma trabalhista, que contemplou somente os interesses dos patrões e dificultou enormemente a vida dos empregados.

Temer e seus comparsas ainda não desistiram de aprovar a reforma da previdência, que fará com que muita gente pobre morra antes de conseguir se aposentar.

A direita diz que tudo isso é para o bem de todo mundo, é necessário para a economia crescer e blá blá blá.

A verdade é que aumentar o número de desempregados e, consequentemente, diminuir o valor do trabalho é parte essencial do projeto econômico deles para que a margem de lucro dos empresários não diminua durante a crise.

É por isso que não há na televisão e nos grandes jornais e revistas um mísero debate sobre as diferenças de visões e projetos entre direita e esquerda.

Para estes, vale mais a pena criar uma cortina de fumaça permanente, resumindo a política a escândalos policiais, do que discutir projetos seriamente.

Afinal, não fosse assim, a população poderia se dar conta do projeto da direita para o país, o que seria um desastre. Para a direita.

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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