O inimigo nº 1

(A pose e o ar de seriedade servem para passar credibilidade e disfarçar a manipulação pesada)

Por Pedro Breier

No fim de semana que antecedeu a tão absurda quanto previsível condenação de Lula pelo TRF 4 este colunista teve o desprazer de assistir a um trecho do Faustão e o início do Fantástico, os sofríveis programas dominicais de sempre da Globo.

Depois de ver Fausto Silva desfiar o seu rosário de piadas machistas, gordofóbicas  e preconceituosas em geral, todas absolutamente sem graça nenhuma, por óbvio – esse tipo de programa televiso que fomenta nossos instintos mais vis será visto, no futuro, com o desprezo que merece – começou o “show da vida” (risos).

Tadeu Schmidt, outrora o apresentador dos gols da rodada que tentava deixar o futebol engraçadinho para ser consumido pela família inteira, anunciou na abertura do programa, com voz grave, uma pomposa “investigação especial”. Tratava-se de uma matéria sobre, pasmem, roubo de celulares. Por meio de um “aplicativo espião” um repórter perseguia os “bandidos” e “criminosos” – termos usados de forma enfática pelos apresentadores.

Dois dos grandes bandidos que assolam o nosso país e foram desmascarados pela Globo: um gari e uma empregada terceirizada de um órgão do governo do Estado do Rio Grande do Sul.

A manipulação é grotesca, porém eficaz.

A rede de televisão que controla a comunicação no Brasil apresenta como criminosos aqueles para os quais se quer direcionar o ódio e o medo da população. É o bandido pé de chinelo, que tem um subemprego e rouba celulares para incrementar seus parcos rendimentos.

A Globo foi pega em um caso de sonegação na compra de direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2002. O processo contra a Globo chegou a ser roubado por uma funcionária da Receita. A emissora nunca apresentou o comprovante de quitação da dívida tributária.

Sonegar é o verbo eufemístico que usamos para o que é, na prática, roubo de dinheiro público.

Ou seja: a bilionária família Marinho, dona da Globo, “sonega” milhões e quer vender a ideia de que o problema do Brasil são os ladrões de celular.

Tal expediente faz parte de um sofisticado esquema de manipulação da informação que busca fazer com que as pessoas achem que o problema do país são esses ladrões pés de chinelo – em geral, pretos e pobres – e esqueça dos verdadeiros ladrões, que andam de terno e gravata e comem em restaurantes ridiculamente caros.

Jogar a classe média contra a população marginalizada também serve para legitimar a ação autoritária e com evidente viés classista e racista da polícia. Tal ação destrói a vida de milhares de jovens excluídos ao jogá-los em um dos sistemas prisionais mais brutalmente medievais do mundo. Assim se dá a perpetuação da miséria no Brasil e nos países pobres em geral.

A criminalização da política promovida em larga escala pela mídia hegemônica também é absolutamente seletiva. Aos bandidos amigos, os da direita, proteção. No máximo alguns peixes grandes são sacrificados como estratégia para sustentar a pose de imparcialidade.

Já os políticos da esquerda são massacrados diuturnamente, tendo cometido crime ou não. Experimente pensar em comprar um apartamento no Guarujá para você ver o que acontece.

Portanto, devemos ter sempre em mente quem é o nosso inimigo nº 1: o oligopólio midiático, cujo comando é tão Global que podemos chamar de monopólio.

Depois de consumada a violência judicial contra Lula no último dia 24, o campo progressista voltou suas baterias, acertadamente, para o judiciário, que está retirando da eleição o líder das pesquisas por meio de uma condenação bisonha.

Entretanto, não podemos esquecer jamais que o judiciário é apenas o braço armado do comando central, o cérebro – ao menos aqui no Brasil, já que há interesses geopolíticos internacionais envolvidos – por trás dos golpes que vimos enfrentando.

Moro só teve peito para condenar Lula porque foi erigido ao posto de super-herói pela máfia midiática. Os desembargadores do TRF 4 apenas obedeceram ao comando da Globo e de seus parceiros. O STF come na mão dos donos dos meios de comunicação.

O caso de Marcelo Bretas é emblemático. O “Moro do RJ”, que postava fotos com fuzis nas redes sociais para mostrar toda sua masculinidade, foi atacado pela Folha poucos dias após o julgamento de Lula no RS, o que indica que talvez tenha chegado a hora da mídia familiar começar a colocar os juízes em seu devido lugar, depois de devidamente usados. Pego em flagrante tentando arrumar mais e mais penduricalhos salariais, botou o rabo entre as pernas e despediu-se do twitter pateticamente.

É a mídia, com todo seu poder inconstitucional, quem decide, a seu bel prazer, se um juiz deve receber aplausos ou  merece ser execrado.

A esquerda deve ter sempre a clareza de que a grande inimiga, capaz de criar falsos heróis, destruir reputações e determinar o pensamento político de milhões de brasileiros, é a mídia corporativa.

A militância progressista deve exigir de todos os candidatos do nosso campo que firmem compromisso com a democratização da mídia. Se não der para ganhar uma votação dessas no congresso de cara, que se paute o tema na sociedade insistentemente.

Os espaços de poder conquistados duramente pela esquerda devem ser usados prioritariamente para a luta contra o monopólio midiático. De resto, colocar esse assunto na boca do povo é dever de todos nós.

Antes de vencermos a batalha contra a mídia mais golpista do planeta não venceremos as demais.

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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