População rejeita violentamente privatizações (e não acredita na inflação baixa)

A pesquisa foi feita ao final de novembro do ano passado e divulgada no dia 26 de dezembro, no período de Natal/Reveillon, como que de propósito para circular bem pouco. E não recebeu a devida atenção da mídia, nem mesmo da alternativa.

Então eu a republico aqui. Os dados são muito recentes e atuais, e mostram um repúdio violentíssimo da população à privatização da Petrobras e de qualquer outra estatal. Isso significa que os movimentos do governo Temer e do congresso, com apoio da mídia, vão na contramão da vontade popular.

Os gráficos mostram que mesmo entre os que ganham mais de 10 salários mínimos – uma elite que representa uma parcela ínfima da população – as opiniões são dividas quanto à privatização.

E aí entra um problema na pesquisa, derivado da profunda concentração de renda no país. É que há um setor social invisível, que não aparece nas pesquisas, porque sua opinião não é apurada. É aí que você encontrará a aprovação aos programas de privatização, até porque as elites financeiras estão posicionadas – com ações na bolsa – de maneira a lucrar com eles.

Ou seja, a elite financeira nacional é profundamente corrupta, porque olha a privatização de um ponto-de-vista estritamente de seus próprios interesses pessoais, e não para o problema nacional como um todo.

A corrupção da imprensa brasileira é um problema ainda maior, e mais chocante, porque ela omite – e mente – acintosamente para o público, ao promover um debate viciado, não plural, escondendo as opiniões de especialistas contrários à privatização, e, sobretudo, não fazendo comparativos decentes com a situação das nações desenvolvidas, que vivem hoje um movimento contrário, de reestatização de seus serviços públicos.

Mais grave ainda é que a imprensa brasileira tem feito de tudo para esconder, criminosamente, informações sobre as privatizações já levadas a cabo pelo governo Temer, desde o golpe.

Isso é uma corrupção muito pior do que qualquer desvio de verba pública, porque um desvio não aliena, para sempre, o patrimônio do povo! Já a privatização sim! E sem conhecimento do povo! Ou seja, o povo é roubado duas vezes! O seu patrimônio é roubado, e o seu direito de saber que o seu patrimônio foi vendido, também lhe é surrupiado!

Outro ponto interessante na pesquisa abaixo é que a população, em todas as faixas de renda, consideram que os preços dos combustíveis – em especial o gás de cozinha e a gasolina – cresceram “muito” nos últimos meses.

Esses números explicam o ceticismo da população em relação aos índices de inflação apurados pelo IBGE.

O impacto do preço do gás e da gasolina no orçamento das famílias brasileiras tem sido muito alto, e é, de fato, muito estranho que os índices de inflação não estejam capturando essa realidade.

Neste ponto, eu posso até estar enganado, mas é inegável que essa é outra consequência dramática do golpe de Estado de 2016: diante do descrédito generalizado de um governo que tem a pior aprovação da história, e um histórico de perseguição contra todo servidor público que contraria seus interesses políticos, por que acreditar nos índices oficiais de inflação?

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No Datafolha

70% são contra privatizações no Brasil

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DE SÃO PAULO

Sete em cada dez brasileiros (70%) são contra a privatizações, isto é, que empresas do governo sejam vendidas para empresas particulares. Uma parcela de 20% é a favor, e os demais são indiferentes (2%) ou não responderam (7%).

Na fatia masculina, 28% são a favor de privatizar estatais, o dobro do verificado entre mulheres (13%). A privatização também encontra melhor acolhida entre os brasileiros com nível superior de ensino (33%) do que entre aqueles que estudaram até o ensino médio (20%) ou fundamental (14%). Quanto mais alta a renda, também é maior a preferência por privatizar empresas públicas: entre os mais pobres, com renda mensal familiar de até 2 salários, 13% são a favor; na parcela com renda de 2 a 5 salários, o índice fica em 24%; entre quem tem renda de 5 a 10 salários, atinge 32%; e na fatia mais rica, com renda superior a 10 salários, a opinião favorável à privatização de empresas públicas vai a 55%.

Entre os grupos de potenciais eleitores dos nomes que vêm sendo cogitados para a disputa da Presidência em 2018, nenhuma forma maioria a favor das privatizações. Considerando o cenário eleitoral que reúne Lula, Bolsonaro, Marina, Alckmin e Ciro como principais candidatos, os que optam por Lula são os mais contrários a privatizações (80%, e 10% são a favor). Na sequência aparecem os que preferem Ciro (76% contra, 19% a favor), Marina (70% contra, 17% a favor), Bolsonaro (58% contra, 35% a favor) e Alckmin (54% contra, 36% a favor).

A opinião sobre a privatização da Petrobras segue a mesma tendência: 70% são contra, e 21% a favor, com os demais se dividindo entre indiferentes (1%) e sem opinião (8%). Também são mais favoráveis a vender a petrolífera os mais escolarizados (31%), os mais ricos (47%) e os que declaram votar em Bolsonaro (38%) e Alckmin (33%).

Questionados sobre a participação de capital estrangeiro na Petrobras, ou seja, a venda de parte da estatal para empresas de outros países, 78% declararam posição contrária, 15% são favoráveis, e os demais são indiferentes (1%) ou não se posicionaram (6%). As opiniões favoráveis são menos frequentes quando o assunto envolve o capital estrangeiro: mesmo entre os mais ricos, a posição contrária é majoritária (55% contra, 43% a favor), e o mesmo é visto entre os mais escolarizados, no qual o apoio à venda de parte da empresa para o capital estrangeiro tem apoio de 25%, índice mais baixo do que o apoio à privatização da petrolífera sem a menção a empresas internacionais (31%) e à venda de empresas estatais de forma geral (33%).

A posição contrária a privatizações encontra respaldo na visão da maioria de que elas trazem mais prejuízos do que benefícios para o país, compartilhada por 67%. Para 24%, as privatizações trazem mais benefícios do que prejuízos, e há 9% que são indiferentes ou não opinaram.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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