Pela manutenção do artigo 1º. Simples assim

Denise Assis*

“Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido”. A adaptação livre do artigo 1º da Constituição Cidadã, de 1988, feita pelo advogado Heráclito Sobral Pinto, no dia 10 de abril, de 1984, no comício por eleições diretas, ecoou nos corações de todos os presentes no Centro do Rio, naquele início de noite. Sua fala o levou a ser aclamado por longos minutos. O país vinha da ressaca moral de uma ditadura cruel e tudo o que aquela massa comprimida nas ruas queria era votar para presidente.

Hoje, passados 34 anos, com um golpe a morder insistentemente os nossos calcanhares, o sentimento de urgência é o mesmo.

Queremos muito votar e escolher o novo presidente, posto que o atual entrou pela porta dos fundos e surrupiou o mandato da presidenta eleita, Dilma Rousseff, conforme agora é percebido por 47,9% da população, segundo pesquisa do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação, braço do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia. Para este percentual, não há mais dúvida de que sofremos um golpe.

No entanto, a cinco meses da data da eleição, marcada para o dia 7 de outubro, ainda não temos na mesa todas as cartas postas. Enquanto a direita oscila entre nomes pálidos e portadores de números anêmicos, a esquerda apresenta nomes consistentes com plataformas elaboradas e em condições de serem defendidas, como foi o que demonstrou Guilherme Boulos (PSOL), no programa Roda Viva, desta semana.

Quanto ao PT, segue de posse do que diz o Artigo 1º da Constituição que, mesmo enxovalhada e pisoteada, é a que vigora. Ora, se todo o poder emana do povo e é exercido para ele, que escolhe quem estará na condução do país, o que nos parece, hoje, embaralhado, a julgar pelos questionamentos dos “especializados”, pode ficar mais claro se tomarmos este princípio por norte.

Durante todos esses meses o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vigora no topo das pesquisas de opinião pública. Como sabemos, elas são (ou não são pra valer?), o reflexo do que o povo quer. Mesmo preso há um mês, depois de uma condenação pra lá de questionável, Lula é o mais lembrado em todos os levantamentos. Assim sendo, não há muito o que discutir. É colocar o seu nome na cédula e esperar que se confirme a tendência das pesquisas.

Qualquer outro rumo a ser tomado evidenciará o aprofundamento do golpe sofrido em 2016, além de ter reflexos perniciosos mundo afora e Brasil adentro. Ao impedi-lo de concorrer, o país estará rasgando definitivamente o que reza a carta magna. Estaremos ignorando a vontade máxima da população, e oferecendo ao povo apenas o que ele, em sua maioria, já demonstrou até aqui, que não quer.

Os maiores de 50 hão de se lembrar da brincadeira entre dois garotos, reproduzida num comercial de doces na TV da época. É o que estará acontecendo na eleição do faz de contas. A distribuição de doces na base do: “dois delicados para mim, um delicado para você”. E tirar do povo o seu poder de decisão é tão feio e antiético quanto a trapaça refletida no comercial de TV.

*Jornalista

Denise Assis: Denise Assis é jornalista e autora dos livros: "Propaganda e cinema a Serviço do Golpe" e "Imaculada". É colunista do blog O Cafezinho desde 2015.
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