A macabra semelhança entre João Amoêdo e Bolsonaro (e Alckmin, Meirelles, Álvaro, Marina…)

O Partido Novo se define, em sua página no Facebook, como o “resultado da iniciativa de cidadãos comuns com um mesmo objetivo: devolver poder ao cidadão e assim melhorar a vida das pessoas”. O patrimônio de quase meio bilhão – com “b” mesmo – de reais do seu candidato a presidente demonstra o quão comuns são os cidadãos do partido.

A Wikipedia fornece uma definição muito mais acurada do Novo: “um partido político brasileiro de direita alinhado às ideias do liberalismo econômico”.

Esta definição se aplica com perfeição às candidaturas de Bolsonaro, Alckmin, Meirelles e Álvaro Dias. Todas são de direita e alinhadas às ideias do liberalismo econômico. Excluindo-se as pautas ambientais, Marina Silva também entra nessa lista.

O modelo econômico adotado por cada candidato é o fator que delimita os campos, separando os interesses populares e os interesses do capital. É, portanto, a questão fulcral na eleição.

Para os defensores do capital – adeptos do liberalismo econômico – o Estado deve abster-se de investir em tudo o que interessa para a população: saúde, educação, transporte, etc. O que importa é não atrasar o pagamento da infinita dívida pública e, assim, garantir o lucro dos especuladores. Em uma economia liberal, é importante que o desemprego seja alto para que o valor dos salários possa ser rebaixado e, assim, aumente a taxa de lucro dos grandes empresários.

Ou seja, o liberalismo econômico convive muito bem com a pobreza e a miséria. Elas são parte fundamental do seu projeto, melhor escrevendo. Também a morte não é problema para os liberais, afinal, na “meritocracia”, se você não tiver dinheiro para pagar um plano de saúde, não merece ser tratado e, por consequência lógica, merece morrer. É, em suma, um sistema macabro.

O fato de o escandaloso lucro dos bancos brasileiros – cujas taxas de juros são das maiores do planeta – aumentar nos períodos de crise – mais de R$ 21 bilhões apenas entre maio e junho, 15% maior do que no mesmo período do ano passado – é outra evidência de que o 1% até prefere que o resto da população tenha dificuldades para sobreviver. Já que falamos em bancos, não poderíamos deixar de mencionar que alguns dirigentes do Itaú são os grandes financiadores do Partido Novo.

Claro que nada disso pode ser dito para a população. Usam-se, então, diversos artifícios.

Pintar o Estado como vilão é um deles. Daí o papo furado de “devolver o poder ao cidadão”, como se a guerra se desse entre o Estado e as pessoas. Na realidade, os Estados nacionais são as únicas instituições que têm estatura para defender o cidadão diante do poderio descomunal do capital e seus tentáculos (bancos, multinacionais, mídia, Judiciário).

As palavras que Bolsonaro decorou e os outros candidatos desenvolvem com um pouco mais de sofisticação – desregulamentar, desburocratizar, etc. – também fazem parte do arsenal retórico para esconder a tragédia social que resulta da aplicação dos dogmas liberais.

Outra tática usada pelos representantes do capital é simplesmente mudar de assunto. Daí a insistência exasperante de Bolsonaro nas pautas morais, de Álvaro Dias na Lava Jato, da mídia na questão da corrupção, e assim por diante.

Lula/Haddad, Ciro Gomes e Guilherme Boulos são as candidaturas relevantes que, cada uma a seu modo e com diferentes intensidades, propõem-se a enfrentar a barbárie liberal.

Amoêdo, Bolsonaro, Alckmin, Meirelles, Álvaro Dias e Marina podem diferir em questões pontuais e no modo como se apresentam. Temos o novo, o moralizador, o gestor, o homem do emprego (risos), o lavajateiro, a ambientalista.

Na questão que importa – o orçamento do país vai servir para garantir os investimentos públicos, o emprego e o bem-estar da população ou os lucros dos bancos e dos especuladores? – são idênticos: todos servem ao capital em detrimento dos interesses populares.

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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