Análise: a rejeição a Haddad na classe média

Segundo o Datafolha divulgado ontem, com pesquisas feitas no mesmo dia (02/out/2018), a rejeição ao candidato petista literalmente explodiu, em especial na classe média e entre eleitores mais instruídos.

Este é o cenário para o qual vínhamos alertando desde maio. Os petistas, assim como alguns analistas oficiais do PT, só olhavam a primeira página das pesquisas, que mostravam a força do lulismo, sem se ater às páginas seguintes, que traziam a rejeição terrível, dura, paralisante, a seu partido, na classe média, hoje maioria da população brasileira.

Vamos classificar aqui, nesta análise, como “classe média”, todos os eleitores com renda familiar acima de 2 salários.

É uma classificação bastante generosa e talvez excessivamente ampliada do conceito, então vamos dividir a classe média em três grandes grupos:

  • a classe média baixa, com renda familiar de 2 a 5 salários, correspondente a 37% do eleitorado (Datafolha);
  • a classe média média, que ganha de 5 a 10 salários, correspondente a 11% do eleitorado;
  • a classe média alta, que ganha acima de 10 salários, correspondente a 5% do eleitorado.

No total, os cidadãos com renda familiar superior a 2 salários correspondem a 56% do eleitorado. Os outros 44%, com renda inferior a 2 salários, pertencem a classe baixa.

Há aqui, uma divisão de gênero interessante, que vai explicar inclusive porque Bolsonaro é mais forte entre homens do que entre mulheres.

Entre homens, o percentual de indivíduos com renda familiar acima de 2 salários corresponde a 64% do eleitorado; entre mulheres, 49%.

Original:

A opinião dos segmentos de renda média tem um grande poder de disseminação, porque as redes sociais, obviamente, são dominadas por quem possui internet e um mínimo de tempo pessoal para fazer campanha, recursos que somente a classe média dispõe.

Entre eleitores com renda familiar de 2 a 5 salários, ou seja, que chamaremos aqui de “classe média baixa”, a rejeição a Haddad subiu 11 pontos em uma semana, para 48%.

É uma rejeição muito alta: para efeito de comparação, lembre-se que, semana passada, o eleitorado progressista comemorou o aumento da rejeição a Bolsonaro, na média geral para 46%. Hoje a rejeição média de Bolsonaro está em 45%.

Entre eleitores com renda familiar de 5 a 10 salários, a rejeição a Haddad subiu para níveis estratosféricos, 66%.  Este segmento representa, como já dissemos acima, 11% da população, mas entre homens chega a 14%.

Entre eleitores com renda familiar acima de 10 salários, a rejeição ao petista atingiu os mesmos 66%.

De onde vem essa rejeição?

Estes percentuais já estavam presentes desde as primeiras pesquisas eleitorais feitas no início do ano: correspondem à rejeição ao PT, fruto do desgaste natural de um partido que governou o país por 13 anos, e que não soube dar combate eficiente à narrativa midiática, a qual procurou desde sempre pespegar nele a pecha da corrupção.

Com a proximidade das eleições, era previsto que essa rejeição crescesse, porque a lembrança dos escândalos (midiáticos que sejam, não importa) é avivada na memória dos eleitores.

Os ataques pesados vindos da campanha tucana em rádio e tv, de um lado, e dos grupos que apoiam Bolsonaro, de outro, naturalmente ajudaram a elevar a rejeição ao petista.

Possivelmente, o desempenho de Haddad nos debates e entrevistas não tenha conseguido neutralizar esses ataques massivos.

O Datafolha fez também uma pesquisa sobre a opinião dos brasileiros sobre Lula: 51% acham que o petista deve continuar condenado e preso; 8% que deveria continuar condenado mas em prisão domiciliar; 37% que deveria ser perdoado e solto; 4 não souberam responder. Esses números são parecidos ao que víamos desde os primeiros dias da prisão de Lula.

Enquanto 78% dos que votam em Haddad acreditam que Lula deve ser solto, 82% dos que votam em Bolsonaro defendem a prisão.

As críticas que Boulos e Ciro fazem ao PT, nesse contexto, são perfumaria. É besteira atribuir-lhes qualquer importância na alta da rejeição a Haddad, sobretudo porque são críticas à esquerda, de caráter ideológico. Boulos, no debate, pôs em evidência as contradições do PT, ao se aliar com apoiadores do impeachment. Ciro Gomes, por sua vez, tenta se colocar como terceira via, um caminho do meio, mais equilibrado, ressaltando justamente o cenário de “guerra do fim do mundo” que seria um segundo turno entre Haddad e Bolsonaro.

A rejeição de Bolsonaro é muito concentrada no eleitorado feminino, mas esta caiu 3 pontos na última semana, de 52% para 49%, ao passo que a de Haddad subiu para 36%.

Entre eleitores homens, a rejeição a Haddad atingiu 47%, sete pontos acima da rejeição a Bolsonaro, que está em 40%.

Fernando Haddad também enfrenta problemas de rejeição entre eleitores com ensino superior, entre os quais sua rejeição subiu para 60%, ao passo que a rejeição de Bolsonaro neste segmento caiu para 42%.

 

O trunfo de Haddad, e o grande problema de Jair Bolsonaro, é o segmento que ganha até 2 salários de renda familiar, onde a rejeição ao deputado continua crescendo e já chega a 54% dos votos. É o povo com medo do que pode vir por aí.

Fernando Haddad, porém, que tinha rejeição baixíssimas entre os mais pobres, também viu esta crescer na última semana, para 27%.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.