A mais importante autocrítica não foi feita: da centro direita

Superando divergências. Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek conversam a respeito da Frente Ampla: tentativa de unir a oposição contra o regime 09/04/1967 / Agência O Globo

A hipocrisia pune. Lacerda precisou tentar se unir a Jango e JK (como ilustra a foto) para tentar evitar o avanço da ditadura, mas foi tarde demais.

Já tem um tempo que essa expressão “autocrítica do PT” está na boca da oposição. Todo petista já deve ter respondido pelo menos centenas de perguntas sobre isso, em todo lugar que vai discutir política.

Contudo, por mais irônico que seja, aqueles que sempre se arvoraram de cobrar uma mea culpa do PT nunca precisaram lamber suas feridas em público. O mais interessante disso foi o resultado dessa tragédia: vivendo uma bolha de ilusão, a centro direita foi engolida, justamente, pois não reconheceu seus erros grotescos perante o Golpe de 16, como se aliar ao fascismo explícito.

Não há duvidas que o radicalismo se apoderou da papel de protagonista na conjuntura da direita. Vejam, por exemplo, que os grandes símbolos do Golpe de 16 (dancinha verde amarela, bonecão inflável, MBL, Fiesp,) migraram diretamente para a campanha de Bolsonaro que hoje abocanha sozinha os simpáticos do antipetismo.

O centro-direita foi devastada pelo conservadorismo, arrisco dizer, mais xucro que esse país já viu. Os textos de Carlos Lacerda foram substituídos por tweets de Lobão, Roger e Gentili, e, se continuar assim, tudo que a direita política e democrática construiu aqui (até mesmo o Real) vai ser substituído pela política econômica do “vai pra Cuba” e a política social da escola sem partido.

Não é preciso ser especialista para ver, por exemplo, que o Congresso Nacional formado nessas eleições é uma aberração. O símbolo perfeito desse momento são os deputados que São Paulo, berço do conservadorismo, elegeu para essa legislatura, como Alexandre Frota.

Quando o fascismo ganhou corpo, nas agendas ultra conservadoras de Cunha, a direita deveria ter prestado mais atenção. Mas foi quando o nacionalismo ufanista apareceu com as bandeiras de Deus e a família, que ficou muito claro que o plano tinha desandado. Quem viveu ou conhece a época da ditadura, não menospreza o poder  que o conservadorismo tem de proteger o autoritarismo.

Veja, por exemplo, o fim melancólico da carreira política da candidata Marina Silva: mulher negra de biografia fantástica, considerada a grande terceira via desde 2010, Marina serviu de caixa para guardar os votos úteis de Bolsonaro, um dos maiores inimigos que a minoria que ela deveria representar já viu.

Essa eleição será um desastre pra direita democrática, mas vale lembrar que a esquerda não vai se beneficiar de jeito algum (pelo menos no curto prazo), afinal, a extrema direita quer aplicar a agenda do Capital de maneira feroz e autoritária.

Tadeu Porto: Petroleiro e Secretário adjunto de Comunicação da CUT Brasil
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