Lava Jato acelera processo de Atibaia contra Lula

Passada a eleição, Moro nomeado ministro da Justiça e com a juíza Gabriela Hardt, fiel escudeira, trabalhando a todo vapor como responsável pela Lava Jato curitibana, um dos processos contra o ex-presidente Lula, o do sítio de Atibaia, voltou a avançar a ritmo acelerado.

Ontem e hoje, a mídia foi inundada de depoimentos e vídeos de dois principais nomes da Odebrecht, Marcelo e Emílio, filho e pai, e de um importante executivo da companhia, Alexandrino Alencar, todos convergindo para a narrativa da acusação, de que as obras no sítio foram pagas com dinheiro do fundo de propinas da empresa, que tiveram como destino a pessoa física do ex-presidente e que ele sabia sim, do que se tratava.

O blog do Fausto Macedo, como de praxe, é o que traz informações mais completas sobre o processo. Nesse post aqui você pode ler sobre o depoimento de Alexandrino Alencar, incluindo a resposta da defesa. Nessa outra, você pode ler sobre o depoimento de Marcelo e Emílio Odebrecht; a matéria diz, logo no título, que as obras seriam para benefício da “pessoa física de Lula”; há links para vídeos com depoimentos dos três.

Pelo que eu pude entender de todo esse imbróglio, e a se acreditar na delação de Alexandrino (o que é arriscado), Marisa Letícia, por ingenuidade, pediu para um executivo da Odebrecht ajudar a concluir a obra do sítio em Atibaia. Ela queria fazer uma surpresa a Lula. O próprio executivo assim o diz em seu depoimento. O pedido subiu para os altos escalões da Odebrecht, para Emílio e Marcelo, que decidiram apoiar a obra, cujos custos, para a empresa, eram absolutamente insignificantes, entendendo-a como um presente a um amigo.

Embora toda a história, cuja veracidade está pendurada na palavra de delatores, seja eticamente questionável, não há crime nenhum, porque não ficou provado nenhum vínculo entre a obra e qualquer desvio.

Além disso, há um fator bastante surreal, que é o fato do sítio não pertencer a Lula. Se o ex-presidente foi beneficiado por uma churrasqueira construída pela Odebrecht, não poderia legar nenhum desses bens a sua família, nem vendê-los. Talvez o ex-presidente optasse por comprar o sítio posteriormente, mas ele não o fez.

Se o sítio não pertence a Lula, e a única prova palpável do suposto pagamento de propina é uma obra de churrasqueira feita no sítio que o ex-presidente apenas frequentava, mais uma vez estamos diante de um excesso judicial um tanto bizarro. A acusação pode até provar, forçando a barra, uma relação pouco ética entre o casal Lula e a Odebrecht, mas condenar o ex-presidente a (mais) vários anos de prisão em cima de um processo tão frágil me parece apenas a repetição do que vimos na sentença do triplex: um pretexto qualquer para punir o ex-presidente por uma série de crimes – não provados –  que estão apenas na mente de seus acusadores.

A Lava Jato conseguiu emails trocados entre Marcelo e seus executivos os quais, segundo a acusação, “complicariam” a defesa de Lula.

O fato é que, assim como o processo do triplex, embora não haja nenhuma prova envolvendo participação do ex-presidente Lula em algum esquema, a Lava jato está conseguindo, através das delações, quase que abertamente combinadas com a procuradoria, montar a narrativa que deseja para condenar o réu.

Essa nova frente de ataque contra Lula mostra claramente como a manutenção da sua candidatura representava um risco. Mesmo que o ex-presidente obtivesse, por um milagre, o registro de sua candidatura, ele ainda estaria nas mãos do judiciário, por causa do processo de Atibaia, entre outros.

 

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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