Debatendo o Lulinha com amor e sem paixões

Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula

 

Armas no Chão.

Bandeira branca.

Pronto.

Agora, acredito, dá para a gente debater melhor esse tema. Como disse o Rodrigo Vizeu no 26º Presidente da Semana, “Luiz Inácio Lula da Silva, amor e ódio” (Não vou assinar Folha, mas vale divulgar mais o que eles estão fazendo de bom): “é impossível ser indiferente” ao ex-presidente.

E quando escrevo “desarmado” quero dizer que a conjuntura é complexa demais, portanto, é complicado ter uma análise certa do momento e, consequentemente, fica difícil emitir opiniões certeiras. E quando concordo que é impossível ser indiferente ao Lula, sei que a grande maioria das pessoas tem alguma opinião formada sobre ele ou o que ele representa.

Por isso, quero propor aqui um debate, uma reflexão, algo do tipo que deixe claro que a minha leitura sobre o fenômeno Lula não é uma convicção.

Quero pedir para refletirmos juntos, aqui e agora no presente material, o peso que uma única pessoa tem na política brasileira como um todo. Onde está o sentido de um  ser humano, de carne e osso, mover tanta energia da sociedade toda vez que participa de um evento?

Por exemplo: o General Villas Boas, comandante do Exército Brasileiro, acabou de confirmar que o país estave “no limite” para controlar algumas “vozes enfáticas” dentro do exército.

[Aqui vale um adendo para a história: como fazem diferença para o país pessoas como o General Lott]

Vejam só: No cenário atual, as instituições brasileiras estão se destruindo, as reservas do país estão sendo entregues, o país sofre um desindustrialização sinistra, a infraestrutura não anda desde 2014 e por aí vai.

E o que tira parte das forças armadas “do controle” é o “Lula solto”. É surreal.

Na boa, dá para imaginar um meme assim: “país em recessão há anos” – “generais não ligam”; “Judiciário brasileiro já inchado aumentou seus gastos bem acima da inflação” – “generais não ligam”; “Violência pública explode a ponto de afetar o PIB” – “generais não ligam”; “STF pode colocar Lula em liberdade” – “NOSSA O PAÍS ESTÁ ACABANDO, CHAME OS GENERAIS”.

Se fossemos pensar na estrutura republicana, aí faz o menos sentido ainda. Desde que a Lava Jato colocou em cheque todas as instituições e feriu mortalmente o presidencialismo de coalizão (e com ele a Nova República), o país tem preocupações demais, muitas mesmo, que diz respeito a vida da população. O que nos faz preocupar tanto, mesmo institucionalmente, com um ex-presidente preso?

Assim, se o exército quer mesmo ir pra política, temos um baita sistema fiscal para reformar, a ponto de Amoêdo e Haddad terem a mesma proposta para o tema (o tal do IVA). Se o exército pode fazer política, deveria abrir o olho para o desmonte da política pública social, bem representado pela destruição do SUS e, principalmente, pelo massacre das escolas públicas, que além de conviver com má estrutura agora lida com uma perseguição ideológica.

Mas há uma conexão nisso tudo, afinal, a conjuntura é a mesma para todos.

A perseguição ideológica praticada num ambiente social tão importante como a educação (vejam que o STF, frouxo como é, teve que chamar esse assunto para ele), reflete, justamente a disputa ideológica em jogo, afinal, é essa disputa que faz o exército se preocupar mais com o Lula (repito, uma pessoa) do que com o SUS, por exemplo.

Agora, a pergunta que eu me faço nesse momento é: como simplesmente ignorar essa figura histórica gigantesca que está, há algum tempo, preso numa cela em Curitiba. Vale ressaltar que o tempo é aliado, a cada dia que passa ficamos mais próximos, para o bem e para o mal, do desfecho dessa história.

Ademais, vale lembrar também que o tempo que passou desde a prisão, deixou mais claro que o petista é sim um preso político (e essa entrevista de Villas Boas praticamente celou selou [valeu internet!!] isso).

Assim, me parece que o campo popular e democrático desse país está enfrentando essa onda protofascista sem um grande força popular. Se só deixassem o velinho falar – até isso tiraram do cara – não tenho dúvidas que muitos de nós não estaríamos tão agoniados.

Enfim, para finalizar, argumento que, dentro desse contexto, acho que misturar a crítica correta a burocracia partidária brasileira (não só a petista) com o peso que representa o presidente Lula na base social petista é um erro.

Como petista, por exemplo, nem ligo tanto para o protagonismo institucional do partido agora (que até abra mão de disputar as próximas eleições) mas não consigo deixar de lado o Lula Livre, talvez seja por eu ser sindicalista, ou talvez por acreditar que ele é uma peça crucial na realpolitk e não podemos ignorar.

Tadeu Porto: Petroleiro e Secretário adjunto de Comunicação da CUT Brasil
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.