A importância de Angra 3 (e de uma oposição construtiva)

A matéria na Folha, intitulada “Concluir usina de Angra 3 elevaria a conta de luz em pelo menos R$ 6,6 bi“, começa assim:

Estudos da consultoria PSR, uma das mais respeitadas do país na área de energia, analisaram o impacto de diferentes fontes sobre a conta de luz e chegaram à conclusão que a retomada das obras da usina nuclear de Angra 3 sairá mais cara para o consumidor do que abandonar o projeto.

A reportagem explica, em seguida, que terminar o projeto consumiria R$ 17 bilhões, e “abandoná-la, R$ 12 bilhões — considerando os custos para quitar empréstimos, desmontar a estrutura, ressarcir contratos rompidos e pagar dívidas.”

Trata-se de uma abordagem claramente contra a finalização de Angra 3, cujas obras foram paralisadas em 2015, quando já estavam em 60%, pela Lava Jato.

O Brasil ainda aguarda, ansiosamente, cálculos atualizados sobre os prejuízos econômicos e sociais causados ao país pela truculência da operação iniciada pelo atual super-ministro de Bolsonaro, Sergio Moro.

Aliás, isso me lembrou uma máxima que se usava bastante na literatura do século XIX, sobre a régua moral da humanidade em relação à vida humana. Mate um homem, e você é um assassino; mate milhões e será um heroi; mate todo mundo e será um deus.

Sergio Moro está na condição, hoje, de heroi. Espero que seus novos poderes não lhe subam a cabeça e queira se tornar um deus…

A Folha sugere abandonar Angra 3 – ou seja, jogar no lixo as dezenas de bilhões de reais já gastos na obra – e iniciar usinas de energia solar, trazendo um cálculo sobre o preço de energia.

As estimativas das “empresas” consultadas pela Folha, no entanto, deixam de fora tantas variáveis que ficaria cansativo listá-las todas.

Investimentos em energia solar são bem vindos, e, de fato, é um absurdo que o país como o nosso não aproveite melhor esta magnífica energia disponibilizada gratuitamente pela natureza.

Entretanto, uma coisa é investir em energia solar; outra é torrar R$ 12 bilhões para “abandonar” Angra 3. Sim, porque é isso que parece defender a Folha, que o governo Bolsonaro “invista” R$ 12 bilhões no abandono da obra, já que este seria, segundo a matéria, o custo pela quebra de contratos e desmantelamento do projeto.

É preciso lembrar que o sol é uma fonte intermitente, porque nem sempre faz sol, e não tem, nem de longe, o vigor suficiente para sustentar setores que precisam de energia intensiva, como indústrias.

Segundo o jornal, Jair Bolsonaro, em linha com o desejo das Forças Armadas, é a favor de terminar a obra, na contramão da Folha e dos burocratas do TCU, que estariam “preocupados” com o custo.

Está aí porque a tese dos irmãos Gomes está correta, e uma oposição sistemática a Jair Bolsonaro não é inteligente. O governo nem começou e já se nota que há dois caminhos diante do novo presidente.

De um lado, temos os setores nacionalistas das Forças Armadas, influentes no governo, que entendem a necessidade de grandes investimentos em infra-estrutura, como energia nuclear, de olho num projeto de longo prazo para o país: elevar nossa segurança energética, o que é sinônimo de soberania econômica e política.

De outro, temos setores obscuros, medíocres, que não parecem ter nenhum tipo de projeto estruturante para o país, ou pior, parecem dispostos a nos converter, cada vez mais, num país periférico, atrasado, sem os fundamentos necessários para fazer frente à competição global. Um país de serviços, mas sem tecnologia. Uma nação de vendedores de miçangas.

Para mim, está claro que o papel de uma oposição progressista inteligente é empurrar o governo Bolsonaro na direção do primeiro caminho.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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