O artigo sobre Lula Nobel da Paz no Humanité

Na página Casa da Democracia

EX-PRESIDENTE LULA PARA O NOBEL DA PAZ

Capa do jornal francês L’Humanité publicado nesta terça-feira (29). Confira o link e a íntegra da reportagem TRADUZIDA abaixo:

https://www.humanite.fr/bresil-le-president-lula-propose-pour-etre-le-nobel-de-la-paix-667064

Quase meio milhão de pessoas já assinaram uma petição lançada pelo artista e ativista pelos direitos humanos argentino, Adolfo Pérez Esquivel, para fazer do ex-presidente um Prêmio Nobel da Paz. Aquele que hoje é prisioneiro político teve a iniciativa de um programa para erradicar a fome.

Que gosto tem a farinata? Essa granola, reservada exclusivamente para os pobres, que lembra a ração servida aos animais de estimação, e da qual ninguém conhece a composição, foi apresentada em 2017 pelo (então) prefeito conservador de São Paulo, João Doria, como uma revolução na luta contra a fome no país. O que importa, no final, é que os especialistas entenderam que a farinata ampliaria a desigualdade ao invés de reduzi-la. E isso seria um “passo atrás no progresso alcançado nas últimas décadas no campo da segurança alimentar”, segundo o conselho regional de nutrição. No Brasil, como em outros lugares, o termo “revolução” continua sendo usado em favor de projetos reacionários. No início dos anos 2000, Luiz Inácio Lula da Silva, hoje preso político condenado sem prova, iniciou sua presidência com a ambiciosa campanha “Fome Zero”. “Precisamos superar a fome, a miséria e a exclusão social. Nossa guerra não é matar ninguém, mas salvar vidas ”, disse ele na ocasião.

“O Brasil deixou o mapa da fome”

O emblema da campanha – um prato, uma faca e um garfo sobre uma bandeira brasileira – evocava “a maravilha das sensações saciadas” citada pelo escritor Jean-Marie Le Clézio. Mas também o gosto de tudo que falta, além do arroz e do feijão. E especialmente esperança. Em 2014, no coração do popular bairro de Campo Limpo, Lula convidou a todos para medir o progresso do gigante sul-americano desde o início dos anos 2000: “Antes, a mãe que ia fazer compras devolvia o carrinho vazio porque tudo estava inacessível. A carne tornou-se acessível, podemos nos dar ao luxo de ir a restaurantes, viajar, ir à universidade. Quem teria imaginado isso? Companheiras, diga a seus filhos que antes, a esperança não era permitida.”

Embora várias aspirações tenham desaparecido desde a eleição de Jair Bolsonaro como presidente, alguns cidadãos parecem determinados a travar uma luta extremamente política para ganhar a candidatura de Lula ao Prêmio Nobel da Paz de 2019 em nome de “correlação entre a garantia dos direitos humanos pelos povos, especialmente saúde e segurança alimentar, e a construção internacional da paz”, segundo o Comitê de Solidariedade Internacional para a defesa de Lula e da democracia no Brasil.

Lançada pelo ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1980, o artista argentino Adolfo Pérez Esquivel, a petição já reuniu cerca de 500 mil assinaturas, incluindo as dos sociólogos Jean Ziegler e Éric Fassin, Angela Davis, o ator Danny Glover, o lingüista Noam Chomsky e o sindicato UGTT. Segundo eles, os programas Fome Zero e Bolsa Família “foram os principais responsáveis pela queda das taxas de desnutrição no país (de 11% em 2002 para menos de 5% em 2007), bem como pela redução dos índices de extrema pobreza, que, segundo relatório da Fundação Getúlio Vargas (FGV), caiu 50,6% no período referente ao mandato de Lula. Isso permitiu que o país alcançasse o sucesso histórico de deixar o mapa da fome da ONU em 2014”.

No cenário internacional, as políticas iniciadas por Lula também levaram a uma série de programas em todo o mundo, incluindo o Fome Zero Internacional, em 2004, sob a liderança do governante brasileiro, do ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e do Presidente Francês Jacques Chirac. Além disso, ao contrário de seu antecessor, Lula continuou a desempenhar um papel de mediador, sublinham os iniciadores da campanha. Esse foi o caso entre a Venezuela e a Colômbia, durante o conflito armado na Colômbia, e pela Declaração de Teerã, que visava estabelecer um acordo regulando o programa nuclear iraniano.

“Um exemplo mundial da luta contra a pobreza”

A indicação de candidaturas ao comitê do Nobel termina na quinta-feira. Estão aptos a apresentar nomes os parlamentares e ministros, os chefes de estado, os membros da Corte Internacional de Justiça em Haia e da Corte Permanente de Arbitragem em Haia, ou professores, reitores e diretores de universidades. Para justificar sua iniciativa, Adolfo Pérez Esquivel argumenta que a fome “é um flagelo e um crime contra as vítimas da pobreza e da marginalização, privadas de vida e esperança por gerações. Por esta razão, se um governo nacional se tornar um exemplo global da luta contra a pobreza e a desigualdade, contra a violência estrutural que nos aflige como humanidade, deve ser reconhecido por sua contribuição à paz na humanidade.”

E para fazer ressoar essa sentença de Martin Luther King: “Se alguém me anunciasse que o fim do mundo é para amanhã, eu ainda plantaria uma macieira.”

Texto de Lina Sankari

Redação:
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