Governo Bolsonaro causa mal estar diplomático com Chile

No Globo

Presidentes da Câmara e do Senado do Chile reagem a frase de Onyx sobre ‘banho de sangue’

Parlamentares consideraram declaração ‘profundamente inamistosa’ e uma ofensa às vítimas da ditadura de Pinochet

Janaina Figueiredo

21/03/2019 – 17:28 / Atualizado em 21/03/2019 – 18:17

SANTIAGO – Os presidentes das duas Casas legislativas do Chile reagiram fortemente às declarações do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que elogoiu “as bases macroeconômicas” fixadas na ditadura Pinochet (1973-1990) ao defender a necessidade de uma reforma da Previdência no Brasil.

Em entrevista à Rádio Gaúcha nesta quinta-feira, Onyx afirmou que Pinochet “teve que dar um banho de sangue” nas ruas do país, o que classificou como “triste”.

Ivan Flores, presidente da Câmara de Deputados do Chile, afirmou que as declarações de Onyx são “um desatino sem paralelo” e uma grave ofensa às vítimas da ditadura de Pinochet.

— A menção deste porta-voz do presidente Bolsonaro, um personagem importante do governo brasileiro, a um “banho de sangue” no Chile é uma afronta a todas as pessoas que perderam familiares, a todos que sofreram com as violações de direitos humanos — disse Flores.

O parlamentar acrescentou que não acreditava “ter experimentado algo parecido” antes.

— As declarações não têm justificativa alguma e merecem a condenação mais enérgica. Não sei se ele [Onyx] tentou reforçar declarações antigas de Bolsonaro — comentou.
‘Ofendem o país inteiro’

Jaime Quintana, o presidente do Senado chileno, classificou as declarações do ministro como “profudamente inamistosas”.

— Não me lembro de declarações assim de um governo cujo mandatário pisou em solo chileno. Elas ofendem não só as vítimas das violações de direitos humanos, mas o país inteiro — disse Quintana.

Os dois chefes parlamentares disseram que recusariam qualquer convite para participar de um almoço em comemoração ao aniversário de Bolsonaro (que completou 64 anos nesta quinta-feira), durante a visita do presidente ao Chile, onde ele desembarcou há pouco.
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As declarações de Flores e Quintana foram dadas na saída de um almoço em homenagem ao presidente Iván Duque, da Colômbia.

Augusto Pinochet, que liderou um golpe militar no Chile, ficou no poder por 17 anos. A ditadura chilena é considerada uma das mais sangrentas da América Latina e deixou mais de 3 mil mortos e desaparecidos, segundo estimativas de historiadores e organizações de direitos humanos.

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Leia abaixo a matéria na Rádio Gaúcha, com a entrevista de Onyx, incluindo o áudio.

Entrevista
Onyx pede “grande pacto” por reforma da Previdência e cita exemplo do Chile: “Teve que dar um banho de sangue”

Ministro da Casa Civil falou sobre necessidade de mudanças na aposentadoria em entrevista ao Gaúcha Atualidade

21/03/2019 – 09h52min

Frente à articulação política do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, foi enfático nesta quinta-feira (21) sobre a necessidade de um esforço conjunto para a aprovação da reforma da Previdência. Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, o ministro citou o governo do ditador Augusto Pinochet, no Chile, para justificar os benefícios das mudanças a longo prazo:

— O que temos que ter consciência é que neste momento ou o Brasil faz um grande pacto, superamos as dificuldades inclusive ideológicas, no sentido de poder construir um futuro para o nosso país, ou não temos futuro — afirmou o ministro, citando crises enfrentadas por outros países, como Portugal, a Grécia e, principalmente, o Chile.

— No período Pinochet, o Chile teve que dar um banho de sangue. Triste, o sangue lavou as ruas do Chile, mas as bases macroeconômicas fixadas naquele governo, já passaram oito governos de esquerda e nenhum mexeu nas bases colocadas no Chile no governo Pinochet — completou.

Ouça a entrevista completa

Para o ministro, diferente da situação do Chile, no Brasil, “para que a transformação chegasse neste momento, só correu sangue do presidente Bolsonaro, de mais ninguém”, em referência ao ataque sofrido pelo presidente durante a campanha, em Minas Gerais .

— Graças a Deus, ele está bem, está salvo, com a saúde em dia, e o Brasil se preparando para, feita a nova Previdência, poder entrar no portal que o leva a um novo mundo — enfatizou.

Mais tarde, diante da repercussão da fala do ministro, a colunista Rosane de Oliveira voltou a questioná-lo sobre a referência ao “banho de sangue” no Chile.

— O Chile, para poder ser o que ele é hoje, com US$ 24 mil de renda per capita ao ano, um país que tem absoluta independência, que tem prosperidade, que tem educação de qualidade, tu anda livremente nas ruas sem nenhum medo à meia-noite, o que a gente não consegue fazer nas cidades brasileiras… foram lançadas as bases que permitiram que este país pudesse se consolidar — disse Onyx. — Provavelmente a turma da esquerda se incomodou porque eu reconheci algum mérito no governo Pinochet.

— Não, foi pelo banho de sangue que as pessoas se incomodaram — relatou Rosane de Oliveira, citando mensagens de ouvintes no WhatsApp da Rádio Gaúcha.

— E no Brasil, que o presidente teve que dar o seu sangue? Ninguém fala, ninguém ficou revoltado? — rebateu o ministro.
Aprovação antes do recesso

O ministro falou ainda sobre a previsão de aprovação da proposta na Câmara. Segundo ele, a expectativa é de que, antes do recesso parlamentar, em julho, o Brasil tenha “uma nova estrutura fiscal e, principalmente, com uma nova Previdência”. Indagado sobre o número de votos necessários para o texto passar pela Casa — três quintos dos deputados (308 dos 513) —, Onyx se mostrou otimista e comparou o cenário enfrentado no Congresso ao futebol:

— Quando começou o Campeonato Brasileiro do ano passado, ninguém apostava uma moeda de R$ 3 no Palmeiras ser campeão brasileiro. E quem foi o campeão brasileiro? O Palmeiras. Por isso que eu digo, que nós, baseados no diálogo, na paciência, no convencimento e no trabalho que vem sendo desenvolvido, nós vamos chegar lá — explicou.

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