EUA dividem com Arábia Saudita liderança nas exportações mundiais de petróleo

E o Brasil, com ajuda da Lava Jato, se tornou o segundo maior mercado de óleo diesel dos Estados Unidos, atrás apenas do México.

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Exportações de petróleo dos EUA já influenciam o xadrez geopolítico

O que começou como um fenômeno americano agora passa a ser sentido por todo o mundo, à medida que exportações de petróleo dos EUA atingem níveis inimagináveis há poucos anos. O fluxo de petróleo vai continuar crescendo nos próximos anos e provocar consequências enormes no setor petrolífero, na política mundial e até na economia de alguns países. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), por exemplo, terá dificuldade para manter os preços do petróleo elevados, enquanto Washington vai ter à disposição uma nova e potente arma diplomática.

As exportações de petróleo cresceram mais de 70% em 2018, para pouco mais de 2 milhões de barris por dia, segundo dados do governo. “Isso pode dobrar em poucos anos, uma vez que as pessoas continuam a investir no xisto”, disse Russell Hardy, da corretora Vitol Group. Nas últimas quatro semanas, as exportações de petróleo dos EUA atingiram uma média superior a 3 milhões de barris/dia – mais do que o Kuwait vende.

“Esta é uma nova era americana da energia”, disse o secretário de Energia dos EUA, Rick Perry, num evento em Houston neste mês.

Executivos do setor de petróleo acreditam que as exportações americanas vão chegar a 5 milhões de barris/dia no fim de 2020, uma alta de mais 70% em comparação aos níveis atuais. Se os EUA atingirem essa meta, irão exportar mais petróleo que qualquer membro da Opep, com exceção da Arábia Saudita – os EUA continuam sendo importadores líquidos de petróleo, mas isso provavelmente vai mudar em poucos meses.

“A segunda onda da revolução de xisto dos EUA está chegando”, disse Faith Birol, chefe da Agência Internacional de Energia (AIE). “Isso vai sacudir os fluxos de comércio internacional de petróleo e gás, com profundas implicações para a geopolítica.”

O impacto político já está sendo sentido. Washington foi capaz de impor sanções às exportações do Irã e Venezuela sabendo que o fluxo de petróleo do Texas vai continuar subindo. O impacto econômico nos EUA também é evidente: o déficit comercial com petróleo em 2018 foi o menor em 20 anos.

Os EUA já são um grande exportador de produtos refinados – gasolina e diesel. Somando-se isso à alta prevista nas exportações de petróleo, a AIE projeta que as vendas americanas vão chegar a 9 milhões de barris/dia em cinco anos. Em 2012, eram de apenas 1 milhão de barris/dia. Os EUA vão se tornar o segundo maior país exportador de petróleo e derivados até 2024, superando a Rússia e chegando perto da Arábia Saudita.

Até agora, o aumento na produção americana de petróleo proveniente da Bacia Permiana e de outras bacias de xisto como a de Bakken, na Dakota do Norte, foi absorvido domesticamente e alimentou as refinarias americanas no Golfo do México. Agora, as refinarias dos EUA encontram cada vez mais dificuldade para processar o petróleo mais leve extraído da Bacia Permiana, uma vez que suas instalações foram construídas para trabalhar o petróleo mais pesado – do tipo extraído na Venezuela e no Oriente Médio.

Como resultado, executivos de firmas de xisto têm viajado pelo mundo em busca de clientes. Apesar do equilíbrio apertado entre oferta e demanda, em razão das sanções contra Venezuela e Irã e dos cortes de produção da Opep, encontrar novos compradores não é tão fácil quanto parece. O petróleo da Bacia Permiana é leve e rende muita nafta – usada na indústria petroquímica – e gasolina, mas relativamente pouco diesel. E a maioria das refinarias quer produzir diesel.

A chave para as exportações petrolíferas dos EUA é a China, atolada em uma guerra comercial com Washington. Até este ano, as refinarias chinesas estavam comprando grandes volumes de exportações de xisto dos EUA. Mas esse fluxo secou em agosto. Se as exportações de petróleo dos EUA aumentarem no ritmo que os executivos e comercializadoras preveem, a indústria de petróleo de xisto vai precisar que a Casa Branca assine um acordo comercial com os chineses.

“Se a demanda chinesa não se materializar, por motivos políticos, incompatibilidade de qualidade ou seja o que for, as exportações dos EUA provavelmente vão ter que conquistar seu espaço no sistema mundial de refinarias, provavelmente por meio de descontos no preço”, disse Diwan.

O petróleo de xisto dos EUA já é vendido com grande desconto em relação ao tipo Brent, o referencial internacional. O West Texas Intermediate (WTI) é vendido por cerca de US$ 10 a menos que o Brent. E alguns tipos mais leves da Bacia Permiana, incluindo o novo West Texas Light, têm descontos ainda maiores.

A onda de exportações de petróleo começou no fim de 2015, quando o governo de Barack Obama acabou com uma proibição de quase 40 anos sobre a maioria das vendas do produto ao exterior, que havia sido imposta em consequência do embargo de 1973-74 dos países árabes da Opep.

Se as previsões estiverem corretas, a produção de petróleo dos EUA vai superar os 13 milhões de barris/dia em dezembro, acima dos 11,8 bilhões de barris do fim de 2018 e muito superior ao recorde anterior, de 1970.

Fonte: Valor

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