Crescimento de aprovação a Bolsonaro obriga oposição a repensar estratégias

Segundo pesquisa CNT/MDA divulgada hoje, a aprovação do desempenho pessoal do presidente Jair Bolsonaro registrou um salto significativo, de 41% para 48%; sua rejeição, por sua vez, caiu de 54% para 47%.

Para analisar esse número é preciso olhar o que aconteceu desde então. O fato político mais importante foi a soltura do ex-presidente Lula, no início de novembro. A economia também apresentou sinais modestos, mas firmes, de recuperação, o que deve ter ajudado o presidente

A avaliação do governo também melhorou. O percentual dos que acham o governo ótimo, passou de 8,0% para 9,5%; e os que acham o governo péssimo caíram de 27% para 21%. Somando as notas ótimo e bom, o governo registrou aprovação positiva de 34,5%, contra aprovação negativa (ruim e péssimo) de 31%. Na pesquisa anterior, de agosto, a aprovação positiva somava 29%, contra 39% de negativa.

Houve uma melhora expressiva, portanto, na avaliação do governo.

Bolsonaro ainda se beneficia da associação que boa parte da população faz entre as administrações anteriores e um período de profunda instabilidade política e crise econômica. Quando parte da oposição (especialmente, o PT), tenta romancear o passado e omitir o que aconteceu nos últimos anos de sua gestão (os quais, por serem os últimos, são os que estão mais guardados na memória), ela não consegue reestabelecer uma boa comunicação com a sociedade.

A eleição de Bolsonaro deixou bem claro que a responsabilidade pelo golpe de 2016 foi atribuída, pela população, à incompetência do governo Dilma, que já era, aliás, rejeitado por uma maioria social esmagadora.

Neste momento, a oposição, com todas as boas intenções do mundo, permanece focada na denúncia de um suposto fascismo emergente. Para a maioria da população, que aliás não é fascista (como também mostram todas as pesquisas), isso não é um risco, sequer um problema.

Falas como a do ex-secretário de Cultura, Roberto Alvim, geram impacto negativo muito forte, mas sua demissão imediata impediu que se tornasse, como a oposição pretendia, a prova definitiva do nazismo governamental.

O governo Bolsonaro é de extrema direita, e o nazismo era de extrema direita, então sempre haverá algumas semelhanças. Mas ainda são, felizmente, muito superficiais. Um pensamento absolutamente (e perigosamente) cínico poderia até dizer que, sob alguns aspectos, o nazismo foi bem melhor do que está sendo o governo Bolsonaro, visto que o nazismo investia pesadamente em pesquisa (visando a guerra), promoveu uma rápida e forte reindustrialização do país, modernizou o transporte público coletivo, e se preocupava efetivamente com o nível de emprego; mas a estabilidade e o crescimento sob o totalitarismo doentio de Hitler não tinham fundamentos sólidos; ou antes, se baseavam na mentira, na manipulação e, por fim, na expropriação criminosa dos direitos, liberdades, propriedades, e da própria vida, de milhões de cidadãos inocentes.

Entretanto, se o fascismo, embora seja um fantasma que sempre ronda governos autoritários e conservadores, não é algo que preocupe (ainda, pelo menos) a população, qual deve ser o foco da oposição?

Segundo todas as pesquisas, o que mais preocupa a população é a saúde pública. Então, pela lógica, a oposição deveria estar ocupada principalmente em: 1) examinar criticamente a política do governo federal para a saúde pública; 2) propor soluções e projetos para melhorá-la.

O medo de que uma oposição propositiva poderia, paradoxalmente, ajudar o governo Bolsonaro, em caso dele adotar as soluções propostas e as coisas, efetivamente, melhorarem, contraria a noção de política como arte de fazer o bem possível. Não é com esse tipo de receio que a oposição vencerá a rejeição que um parte importante da sociedade desenvolveu contra o próprio discurso progressista, que passou a ser visto apenas como um palavrório politiqueiro, ou seja, falso, insincero.

Continuemos nossa análise.

A melhora das expectativas da população ajuda a entender a recuperação da popularidade de Bolsonaro. Após a virada do ano, as pessoas precisam se agarrar a um pensamento positivo, a alguma esperança de que as coisas vão melhorar.

Isso representa uma faca de dois gumes para o governo. De um lado, isso o ajuda a galvanizar o apoio popular de que necessita para aprovar seus projetos; de outro, porém, aumenta o risco de uma grande decepção, caso os resultados entregues não sejam satisfatórios.

A oposição precisa ser inteligente para não ser apontada pelo governo como uma força interessada unicamente em “atrapalhar”. Ela tem de ser vista pela população como uma força positiva. Quando Lula ganhou as eleições em 2002, havia um certo consenso de que a coalização social formada em torno do PT tinha projetos consistentes.

As tabelas acima retratam a dura realidade política que a oposição terá de enfrentar. Metade da população confia em três grandes canais de mídia: Globo, Record e SBT.

As administrações petistas conseguiram a proeza de ficarem com a  pecha de interessadas em “regular” a grande mídia, e ao mesmo tempo terem sido magníficas contribuidoras para a concentração e fortalecimento da grande mídia, através de bilionários contratos de publicidade.

Ironia mais cruel é testemunhar o governo de extrema direita de Jair Bolsonaro inaugurar uma estratégia de comunicação que, com todos os seus imensos defeitos (autoritarismo, falta de educação, etc), ao menos se esforça para manter uma comunicação direta com o público. Se a então presidenta Dilma tivesse se disposto a fazer 10% do que Bolsonaro faz em termos de comunicação, talvez não tivesse visto seu capital político ruir tão dramaticamente, e poderia ter evitado o impeachment.

Finalizando, a pesquisa CNI/MDA trouxe uma sondagem de intenção de votos para 2022, mas usando apenas o voto “espontãneo”, que é aquele onde o pesquisador não oferece previamente nomes ao entrevistado.

O presidente Bolsonaro lidera de maneira isolada, com 29%, seguido de Lula, com 17%.

Ciro Gomes também não faz feio. Seus 3,5% é quase o que tinha nas primeiras pesquisas estimuladas de 2018. Além disso, está muito à frente de Moro, Haddad, Amoedo, Huck e Dória.

É interessante notar ainda a ausência de Flavio Dino. Apesar de ser um dos nomes mais queridos dos setores militantes da esquerda, o governador do Maranhão ainda não tem presença nacional expressiva entre o eleitorado em geral. Ou pelo menos ainda não é visto como uma alternativa própria, autônoma, para as próximas eleições presidenciais.

       

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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