Desindustrialização: Brasil não cria vagas com rendimento acima de 2 salários há 14 anos

Uma reportagem publicada hoje no Globo traz uma revelação impressionante sobre o mercado de trabalho no Brasil: há 14 anos não são criadas vagas com rendimento acima de 2 salários. A conclusão dos especialistas consultados pelo Globo é que esse é um resultado da desindustrialização. 

Isso explica muita coisa sobre os sonhos frustrados que desaguaram em junho de 2013, na campanha pelo impeachment e, por fim, na eleição de Bolsonaro. 

Essa é a autocrítica principal que a esquerda deveria fazer. 

Não foram apenas fake news que levaram à vitória de Bolsonaro, foi um acúmulo de desesperança. Para o qual, infelizmente, o novo governo não oferece nenhum alívio, visto que suas escolhas até o momento estão apenas agravando o quadro de primarização da economia.

Apesar dos “índices de confiança” da CNI e do otimismo fisiológico da Fiesp, a produção industrial brasileira caiu em 2019, e perdeu ainda mais participação no PIB, e não há nenhum sinal convincente de que estará melhor este ano.

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Trechos e gráficos da matéria:

“O Brasil não cria vagas com rendimento acima de dois salários mínimos há 14 anos. Levantamento feito pelo GLOBO com base nos microdados do Caged, o registro de vagas com carteira assinada do governo, mostra que a partir de 2006 não houve saldo positivo nas contratações para qualquer faixa de renda com remuneração superior a duas vezes o piso nacional.

Incluindo os dados de 2019, divulgados na última sexta-feira, o país extinguiu 6,7 milhões de empregos com renda mais alta desde 2006.

Ao longo do tempo, o mercado de trabalho passou a trocar vagas de maior qualidade por postos de menor rendimento. Foram criados 19,2 milhões de postos de trabalho desde 2006, porém, todos com renda de até 2 salários mínimos.

Considerando o saldo entre vagas fechadas e geradas, o mercado absorveu 12,5 milhões de trabalhadores. O resultado é uma economia que vem se tornando cada vez mais de baixos salários, indiferente até mesmo aos momentos de grande dinamismo, entre 2010 e 2013.

Especialistas avaliam que o quadro é estrutural. Parte do fenômeno pode ser explicado pelo modelo de crescimento econômico das últimas décadas, baseado no consumo das famílias e com baixas taxas de investimento.”

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Para José Pastore, sociólogo especialista em relações do trabalho e emprego, a melhora do mercado brasileiro só acontecerá com a retomada do protagonismo do setor industrial e da construção, responsáveis por empregar profissionais mais qualificados e com melhores salários. Entre 2005 e 2018, a participação da indústria perdeu cerca de 8 pontos percentuais em tudo o que é produzido no país, o PIB.

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Redação:
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