Iedi: as expectativas para 2020

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PIB em 2019 e Expectativas para 2020

Em 2019, o PIB brasileiro cresceu +1,1%, um pouco abaixo, mas em linha com o resultado dos dois anos precedentes, de modo a confirmar um processo muito lento de recuperação econômica. Ou seja, não houve ganhos adicionais. E ademais, permanecemos muito aquém do dinamismo da economia global, que, mesmo passando por forte desaceleração, cresceu +2,9%, segundo estimativa do FMI.

A superação deste ritmo insuficiente de atividade econômica depende do avanço das reformas e da recomposição dos níveis de investimentos. Sem isso, corremos o risco deste baixo resultado do PIB vir a ser o “novo normal” de crescimento do país, especialmente em um contexto de progressivas dificuldades no mundo todo devido ao coronavírus.

Depois de registrar altas de +1,3% tanto em 2017 como em 2018, o PIB total desacelerou para +1,1% em 2019, decorrente da perda de dinamismo em todos os seus componentes da demanda interna, sem que o setor externo tenha fornecido nenhuma compensação a isso.

O consumo das famílias foi quem melhor se saiu, não porque tenha apresentado a maior taxa de crescimento no acumulado de 2019, mas porque foi quem conseguiu melhor preservar seu ritmo de crescimento. Cresceu +2,1% em 2018 e +1,8% em 2019. Foram importantes para tal resultado a expansão do crédito e a melhora, mesmo que lenta, do emprego.

Outro fator de destaque foi a liberação dos recursos do FGTS, que, embora não tenha trazido grande reforço do consumo. No 4º trim/19, o resultado do consumo das famílias foi de +0,5% na série com ajuste sazonal e de +2,1% frente ao 4º trim/18.

O investimento, por sua vez, que é o verdadeiro motor do crescimento econômico, sofreu uma forte desaceleração, passando de +3,9% em 2018 para +2,2% em 2019. O IBGE mostra também que a redução de crescimento foi ainda mais importante no investimento de máquinas e equipamentos, que ficou muito próximo da estagnação no ano passado (+0,9%). Não fosse a reação da construção, a formação bruta de capital fixo teria crescido menos.

O último trimestre de 2019 tampouco trouxe um alento para o investimento, que voltou a ficar no vermelho sob qualquer ponto de vista. Frente ao 3º trim/19, já descontados os efeitos sazonais, a queda foi de -3,3%, a mais intensa desde 3º trim/16. Em relação ao 4º trim/18, caiu -0,4%, a primeira taxa negativa desde o 3º trim/17, isto é, logo antes do início da recuperação do investimento.

Para 2020/2021, a projeção de queda entre 5% e 15% do investimento estrangeiro direto no mundo, realizada pela UNCTAD em março último, é um fator que não deve ajudar a reverter este quadro da formação bruta de capital fixo no Brasil.

Os demais componentes do PIB recuaram em 2019. O consumo do governo caiu -0,4% e o setor externo retirou -0,5 ponto percentual do PIB, devido sobretudo a uma contração das exportações, algo que não ocorreu nem nos anos de crise (2015 e 2016) nem nos primeiros anos de recuperação (2017 e 2018).

Com o investimento perdendo força, principalmente aquele em máquinas e equipamentos, e as exportações em queda, sobretudo as do ramo automobilístico para a Argentina, o desempenho da indústria de transformação foi duramente atingido, levando o setor a uma virtual estagnação em 2019: +0,1% no acumulado do ano.

A estabilidade da indústria de transformação no acumulado de 2019 mais a retração do ramo extrativo (-1,1%) restringiram o avanço do PIB da indústria total, que se manteve no mesmo nível de 2018 (+0,5%), bem abaixo do resultado obtido pelos serviços e agropecuária (+1,3% em ambos os casos). A única boa notícia na indústria total foi a construção, cujo PIB cresceu +1,6% depois de cinco anos consecutivos de declínio.

Além da construção, há outros fatores que prometem ajudar o crescimento da indústria e do PIB total em 2020, como por exemplo os sinais recentes de aumento do emprego formal e os níveis atuais de câmbio e juros. Contudo, os efeitos positivos destes fatores podem ser mitigados pelo quadro de maior incerteza neste início de ano, devido a dúvidas sobre o andamento das reformas, no plano interno, e, no plano externo, aos impactos do coronavírus sobre o PIB global.

Exercício recente da UNCTAD colocou o Brasil entre os 20 países mais impactados pelo coronavírus devido à desaceleração da economia chinesa. Uma diminuição de 2% das exportações de bens intermediários oriundos da China geraria um impacto negativo de US$ 84 milhões ao Brasil, sobretudo por meio da cadeia produtiva da indústria automobilística. Este impacto, porém, refere-se apenas aos canais iniciais e diretos de propagação da crise do coronavírus. À medida que mais países são atingidos, maiores os efeitos potenciais sobre o crescimento econômico do mundo e do Brasil.

O Panorama Macroeconômico da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia de 11/03/2019 explicita 5 canais pelos quais a economia brasileira deve ser afetada: 1) diminuição das exportações; 2) declínio no preço das commodities e deterioração nos termos de troca; 3) interrupção de cadeias de produção; 4) redução nos preços dos ativos e deterioração das condições financeiras; 5) decréscimo no fluxo de pessoas e mercadorias. O exercício da UNCTAD levou em conta apenas os canais 3 e 4.

Como resultado, as projeções de crescimento do PIB brasileiro para 2020 estão sendo reduzidas. A SPE cortou sua estimativa realizada em jan/19 em 0,3 p.p. agora em mar/19, para +2,1%, mas admite em seu cenário adverso resultado de +1,74%. É em torno deste limite inferior, porém, que outras projeções estão se localizando. O Boletim Focus de 06/03/19 estima alta de +1,99%, primeira vez abaixo de 2%, e a projeção da OCDE, também de março último, avalia que o PIB brasileiro deve crescer +1,7% em 2020. Todos estes cenários já consideram a recente deterioração adicional do ambiente econômico.

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