Relator vê chance de derrubar veto no marco do saneamento básico

O governo Bolsonaro descumpriu acordo feito com parlamentares, de que o novo marco do saneamento permitiria que os contratos atuais, entre administrações públicas e companhias públicas de água, poderiam ser prorrogados por 30 anos, sem obrigatoriedade de licitação. O relator do projeto acha que esse veto pode ser derrubado, por respeito ao acordo político feito com deputados e senadores que votaram a favor do PL apenas se houvesse essa cláusula.

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Deputado Geninho Zuliani diz que o governo descumpriu acordo sobre prorrogação dos atuais contratos de saneamento. Já a deputada Bia Kicis (PSL-DF) afirma que o modelo atual não funcionou

16/07/2020 – 13:57

Agência Câmara — O relator na Câmara do projeto de lei que deu origem ao novo marco do saneamento básico (Lei 14.026/20), deputado Geninho Zuliani (DEM-SP), disse que nunca foi favorável ao artigo que permitia a prorrogação dos atuais contratos do setor, vetado pelo presidente Jair Bolsonaro, mas avalia que o governo errou ao retirar esse trecho da norma.

Zuliani acredita que há chance real de derrubada do veto porque o dispositivo foi fruto de um amplo acordo. “Eu penso como o governo pensa. Em um primeiro momento, não tinha esse artigo. Mas o que nós temos que levar em consideração é que houve um acordo. E o acordo, tanto na Câmara quanto no Senado, foi para que esses prazos fossem dilatados, houvesse esse tempo de transição.”

A nova lei aposta na iniciativa privada para universalizar o acesso a água e esgoto até 2033. Mas o artigo 16 dava prazo até março de 2022 para que os atuais contratos firmados com empresas públicas pudessem ser prorrogados por até 30 anos. Isso porque muitos governadores e prefeitos são contrários ao repasse para o setor privado.

Para a deputada Lídice da Mata (PSB-BA), o veto ao artigo 16 acelera a privatização. “Veta o artigo 16, o que impede a renovação de contratos com as empresas estatais, levando, portanto, a uma obrigação da privatização. É um absurdo, um desrespeito ao Parlamento brasileiro”, criticou.

Reestatização e investimento privado

Na prática, a oposição queria dar mais tempo para uma reestruturação do setor porque acredita que será necessário reestatizar o serviço. “Nós estamos indo na contramão do que está aí no mundo. Porque muitos países que privatizaram estão reestatizando”, reclama o deputado Elias Vaz (PSB-GO). “Com o veto deste artigo, nós teremos a obrigação de privatizar. Isso é um grande absurdo.”

Mas, para a deputada Bia Kicis (PSL-DF), o modelo atual não funcionou. “Estão falando que Bolsonaro não quer levar a água, que quer privatizar a água, lucrar com a água. A verdade é que esse marco não privatiza, ele aceita investimento privado. E se estivesse bom, não precisava de novo marco.”

O deputado Darci de Matos (PSD-SC) também defendeu o veto. “Está muito ruim, tem 100 milhões de pessoas que não têm saneamento básico no Brasil. 30 milhões não têm água tratada. 5 milhões fazem suas necessidades no mato. Alguma coisa tinha que fazer. O marco regulatório dá condições jurídicas e cria possibilidade para investimentos privados”, defendeu Matos.

Ao justificar o veto, o Executivo disse que o artigo 16 “prolonga de forma demasiada a situação atual” e limita a livre concorrência.

Limpeza urbana

Outro veto do presidente ao novo marco do saneamento estende as regras da lei para os serviços de limpeza urbana e gestão de resíduos sólidos.

Também foi vetado trecho que previa o repasse de recursos federais para garantir a formação de blocos de prestação de serviços de saneamento. Esses blocos vêm sendo apontados como a solução para que a iniciativa privada se interesse por áreas no interior do país. De acordo com a justificativa do veto, seria necessário apresentar o impacto orçamentário da medida.

Ao todo, o presidente vetou 14 pontos da lei, que, agora, precisam ser votados pela Câmara e pelo Senado em sessão do Congresso Nacional.

Reportagem – Sílvia Mugnatto
Edição – Natalia Doederlein

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