Os desafios das eleições municipais

Oswaldo Goeldi

O período eleitoral começou oficialmente neste domingo 27 de setembro. Como se sabe, a pandemia obrigou o legislativo a adiar o pleito deste ano para o dia 15 de novembro. Nas cidades com mais de 200 mil eleitores, haverá ainda um segundo turno no dia 29 de novembro.

Teremos, a partir de hoje, 49 dias de campanha, ou 1.176 horas, até o primeiro turno. Entre o primeiro e o segundo turno, transcorrerão apenas 14 dias, ou 336 horas.

Mais do que o primeiro grande teste eleitoral do governo de Jair Bolsonaro, as eleições municipais configuram uma oportunidade formidável para avaliar o que vai pela cabeça e pelo coração do povo.

Essa é a suprema qualidade, virtude e superioridade do regime democrático: as eleições periódicas produzem informação confiável e transparente sobre o sentimento popular, de um lado, e sobre a força dos grupos políticos que pretendem representá-lo, de outro.

Independente do resultado, se será favorável ou negativo para o governo Bolsonaro, para a oposição, ou para a esquerda, o país emergirá do processo eleitoral mais transparente e com mais informações sobre si mesmo. Isso nos ajudará numa das missões mais importantes da atual conjuntura: elevar o grau de racionalidade do debate político nacional.

Não seria prudente, por outro lado, sermos ingênuos. Parece claro que haverá um aumento de políticos bolsonaristas nas câmaras de vereadores, e algumas cidades poderão igualmente testemunhar a vitória de prefeitos identificados com um presidente profundamente reacionário. Em menor ou maior grau, Bolsonaro sairá fortalecido; sua militância terá mais experiência e mais armas para a grande batalha de 2022.

Mas a esta altura de nossa vida política, a melhor contribuição que as vanguardas partidárias podem oferecer à luta popular é deixar de lado sua tendência pequeno-burguesa ao pessimismo e à depressão, e usar o processo eleitoral como ferramenta de esclarecimento. Mas sobretudo esclarecimento acerca de si mesmas, sobre sua comunicação, sua mensagem e seu projeto!

A mesma coisa vale para pesquisas eleitorais e suas interpretações. Devem ser vistas pela esquerda e pela sociedade em geral com objetividade, sem sentimentos menores, sem paixões.

O valor das pesquisas eleitorais é vinculado ao seu grau de aproximação com o eventual resultado das urnas, mas elas costumam trazer muitas outras informações que nem as urnas oferecem. De certa maneira, portanto, as pesquisas eleitorais são complementares ao processo eleitoral, e talvez por isso sejam tão valorizadas e vigiadas. Pesquisas fraudulentas configuram um crime eleitoral gravíssimo, tanto por seu poder de manipular a opinião pública em favor ou desfavor de algum candidato, como, principalmente, por constituir uma brutal fake news, que corrói uma das pedras angulares do regime democrático, que é a confiança nas informações públicas.

Neste sentido, é positivo que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) esteja profundamente atento à difusão de fake news. Naturalmente, a única maneira de combater, efetivamente, no médio e longo prazo, o poder das falsas informações, é investir em educação. Isso vale para qualquer crime. A melhor maneira de evitar que nossos filhos se tornem assassinos, mentirosos ou ladrões é lhes dar uma educação moral sólida. Da mesma forma, a melhor maneira de proteger a sociedade contra os malefícios da informação falsa é fazer com que todos aprendam a identificá-la, de um lado, a julgar severamente os seus transmissores, de outro. Mas a presença de uma legislação inteligente e, sobretudo, de instrumentos eficazes de identificação dos criminosos e do crime (evitando o arbítrio e a injustiça, naturalmente) ainda serão necessários por alguns séculos!

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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