O método na loucura de Bolsonaro

Aroeira

Jair Bolsonaro tem vocação para genocida.

Quando o país já naturalizou as centenas de mortes diárias e os mais de 156 mil(!) conterrâneos mortos até agora, quando o justo e adequado grito de genocida! já havia perdido a força, porque afinal Bolsonaro continua no poder, e não há punição à vista para seus crimes contra a humanidade, o presidente dá um jeito de relembrar-nos de que é um facínora – um dos maiores da contemporaneidade, quiçá da história.

Facínora, segundo o Michaelis, é “aquele que comete atos criminosos, com caráter de perversidade ou crueldade”, e se aplica perfeitamente a quem trabalha contra a disponibilização de uma vacina para o vírus mais letal dos últimos cem anos.

Os motivos de Bolsonaro são evidentes.

A vacina Coronavac, produzida em parceria com o governo de São Paulo, é uma vitória política de João Doria, governador do estado e grande adversário de Bolsonaro dentro da direita. E a estratégia do presidente é fulminar qualquer figura do seu campo que ameace seus planos de reeleição, não importando as consequências.

Se o preço a se pagar são mais vidas de brasileiros perdidas, que seja. O importante, para o presidente da República, é não conceder um milímetro a seus adversários “internos”, é não permitir qualquer tipo de vitória na guerra escancarada pela hegemonia do conservadorismo.

Dentro dessa lógica de guerra, Bolsonaro compreende a premência de manter sua infantaria coesa e excitada. Eis aí outro motivo para a investida contra a “vacina chinesa” – termo utilizado pelo presidente e seu séquito, e estupidamente repetido por grandes veículos de mídia. A China ser o maior parceiro comercial do Brasil é outra irrelevância diante das estratégias eleitorais de Bolsonaro.

Para completar o bingo, o insano debate ideológico em torno da vacina ofuscou a sabatina do novo ministro do STF no Senado, cujo nome desagradou a ala mais estridente dos apoiadores de Jair.

Por outro lado, buscar impedir, em meio a uma pandemia mundial, a aplicação de uma vacina na população por conta de disputas políticas obviamente não pega bem entre pessoas com um mínimo de bom senso – as quais, espera-se, ainda componham parte considerável do eleitorado.

Ainda assim, dentro da lógica doentia de Bolsonaro, o saldo político de mais este descalabro lhe é, me parece, positivo. Até porque a tendência é que embate não perdure: o governo acabou autorizando a importação da Coronavac, mas o barulho com o recuo foi infinitesimal diante do terremoto provocado pelos brados contra a vacina.

O importante é não parecer ter sido derrotado por alguém como Doria. E também açular sua matilha para manter seu apoio orgânico. A militância bolsonarista é, junto com os robôs, a máquina de comunicação com que Jair conta para derrotar o provável apoio da Globo e de outros veículos a Doria em 2022. Os estrategistas de Bolsonaro, capitaneados pelo intrépido Carluxo, contam com um enfrentamento com a esquerda em um segundo turno, preferencialmente algum candidato do PT, para saírem vitoriosos novamente à base de macartismo fora de época e histrionismo.

Poderemos, portanto, ter um duelo bastante deprimente em 2022: antipetismo/antiesquerdismo x antibolsonarismo.

Ou, e sonhar não custa nada, de repente o país resolva discutir as propostas, os projetos e as ideias dos candidatos a dirigir a nação.

Imagina que louco?

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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