Relatório da Petrobras comprova que refinarias são mina de ouro da estatal

Como se sabe, o governo Bolsonaro decidiu vender as refinarias da Petrobras.

A oposição contestou nos tribunais que isso corresponderia a privatizar a estatal, mas o STF acabou decidindo em favor do governo, autorizando a venda das refinarias.

Mas a venda ainda não ocorreu, porque ainda não apareceu comprador.

É um bom momento para esclarecer ao público sobre a importância de se manter as refinarias sob o controle da Petrobras.

A melhor maneira de fazer isso é examinando os próprios relatórios financeiros da Petrobras.

Vamos olhar o mais recente, referente ao terceiro trimestre de 2020, divulgado há algumas semanas.

Segundo a tabela que trata do resultado consolidado até o terceiro trimestre, a receita líquida da Petrobras no acumulado dos primeiros nove meses deste ano foi de R$ 130,7 bilhões, com queda de 20% sobre o ano anterior. A queda era inevitável, em função da pandemia. Todas as empresas de petróleo, no mundo inteiro, enfrentaram queda de receita no mesmo período.

Aliás, essas oscilações bruscas nas receitas das petroleiras é mais um argumento em favor do controle público de bens e serviços estratégicos. Se as empresas responsáveis pela infra-estrutura energética do país enfrentarem problemas financeiros, isso poderia, no caso de serem firmas privadas, levar seus sócios-proprietários a movimentos de autofagia empresarial, ou seja, a tomarem decisões que beneficiam antes seus próprios interesses financeiros do que o interesse público.

Quando o controle da empresa permanece público, por outro lado, o interesse coletivo deve vir em primeiro lugar.

O que nos interessa aqui, porém, é outro ponto. Observe a tabela abaixo, que traz a receita líquida dos principais produtos e serviços vendidos pela Petrobras.

Observe que a venda de derivados no mercado interno correspondeu a uma receita líquida de R$ 110 bilhões no acumulado de 9 meses deste ano, ao passo que a exportação total de petróleo (incluindo derivados) correspondeu a R$ 49,24 bilhões.

No terceiro trimestre deste ano, a venda de diesel no mercado interno rendeu R$ 23,93 bilhões, um valor superior a todo o petróleo exportado no mesmo período, que rendeu R$ 19,27 bilhões.

Observe ainda que as unidades internacionais da Petrobras registraram receita líquida de R$ 5,7 bilhões no acumulado de 9 meses deste ano, o que mostra que a posse de refinarias no exterior, como a de Pasadena (vendida por razões políticas há alguns anos), pode gerar bons resultados para a estatal.

Repetindo: as vendas de derivados pela Petrobras geraram receita líquida de R$ 110 bilhões em apenas 9 meses.

Esse valor explica a articulação entre governo, mídia e instituições financeiras em prol da privatização das refinarias. Elas constituem uma mina de ouro.

Na tabela que traz a demonstração consolidada por segmento do negócio, temos uma ideia melhor da importância de cada um para a empresa. Aqui já não estamos falando de receita líquida.

A receita de venda do refino é a mais expressiva da estatal, R$ 176,8 bilhões no acumulado de 9 meses deste ano, contra R$ 125,6 para o segmento de exploração & produção (E&P) , R$ 27,13 bilhões para gás e energia.

Entretanto, o lucro bruto da E&P é maior, de R$ 55,4 bilhões, contra R$ 13,13 bilhõos para o refino, porque os custos dos produtos e serviços vendidos pelo setor de refino são bem mais altos. Em nove meses, a Petrobras gastou R$ 163,66 bilhões com produtos e serviços necessários para o refino. Por aí também se vê a importância de se refinar no Brasil e manter o controle público, porque esse dinheiro pode gerar empregos e significar investimento em tecnologia. Ao importar os derivados, ao invés de produzir aqui, estamos transferindo empregos e tecnologia para fora do país. E ao entregar nossas refinarias para empresas privadas, provavelmente estrangeiras, estaremos igualmente colocando em risco centenas de empresas e milhares de empregos que dependem das compras da Petrobras. Essas empresas privadas estrangeiras, quando assumirem o controle de nossas refinarias, talvez passem a ampliar a compra de produtos e serviços do exterior, ao invés de adquiri-los aqui mesmo, no Brasil.

Ou seja, empresas privadas podem comprar, por ninharia, um setor de refino que movimenta mais de R$ 20 bilhões por mês, em receita de vendas.

No total consolidado, a receita de vendas da Petrobras foi de R$ 197 bilhões nos primeiros nove meses deste ano. É importante prestar atenção a este número porque ele significa que, mesmo com o prejuízo de R$ 54 bilhões registrado no período, em função da pandemia, a estatal comprou quase R$ 200 bilhões em produtos e serviços em apenas 9 meses. Esses recursos ajudaram a gerar milhões de empregos e a sustentar milhares de empresas no Brasil.

Outra informação importante é que o fator de utilização do parque do refino chegou a 83% no terceiro trimestre de 2020. Isso é um bom sinal, que mostra a ampliação do uso das nossas refinarias.

Confira abaixo outras tabelas da Petrobras.

 

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