Notas Internacionais (por Ana Prestes) – 13/05/21

An Israeli soldier aims his weapon at Palestinian demonstrators during a protest against Israeli settlements, in al-Mughayyir village near Ramallah, in the Israeli-occupied West Bank, on January 3, 2020. (Photo by ABBAS MOMANI / AFP)

– A agressão israelense contra palestinos continua sendo uma grande preocupação em todo o mundo. Ontem (12) houve reunião do Conselho de Segurança da ONU, mas a delegação dos EUA bloqueou a aprovação de uma resolução que pedia o fim das hostilidades.  As investidas do governo Netanyahu começaram no final de semana com o impedimento aos árabes de Jerusalém oriental de realizarem as atividades de celebração do dia de Al-Quds (Jerusalém) que marca o fim do Ramadã na esplanada das mesquitas, nas proximidades da mesquita de Al-Aqsa, e o desalojamento forçado de famílias palestinas do bairro Sheikh Jarrah. Houve reação dos palestinos na Faixa de Gaza, comandados pelo Hamas, com disparos de foguetes em direção ao lado israelense. O Hamas já havia se pronunciado ao dizer que “não há linha vermelha se Al-Aqsa for violada”. Há notícias de 7 israelenses mortos e 80 feridos. A contra-ofensiva israelense foi com bombardeios que já deixaram 84 mortos, sendo 17 crianças, e 480 feridos, segundo dados do Ministério da Saúde da Palestina divulgados pela Aljazeera. Um prédio de 13 andares foi derrubado por bombas lançadas dos aviões israelenses sobre a Faixa de Gaza. Várias companhias aéreas dos EUA e da Europa interromperam seus voos para Tel Aviv. O governo israelense, comandado por Benjamin Netanyahu insiste que Jerusalém seja reconhecida apenas como a capital do Estado judaico e isso tem trazido reações por parte de árabes não palestinos residentes em Jerusalém. Neste momento Gaza está absolutamente cercada e bloqueada e é iminente o esgotamento de alimentos e combustível. Uma delegação do governo do Egito teve conversações com a direção do Hamas e neste momento está em Israel na tentativa de mediação de um cessar-fogo. O chanceler do Egito, Sameh Shoukry, e o chanceler da Rússia, Sergey Lavrov, já se pronunciaram pedindo que Israel pare com os ataques a Gaza. Lavrov também propôs uma reunião entre EUA, União Europeia, Rússia e Nações Unidas para uma mediação. A Palestina teria eleições no próximo dia 22 de maio, como já comentamos aqui nas Notas, mas provavelmente serão adiadas. *Foto: Abbas Momani/AFP.

– Novas marchas ocorreram ontem (12) na Colômbia, convocadas pelo comitê nacional da paralisação. A convocação foi feita após o fracasso das negociações com o governo Duque na última segunda (10), que contou com a presença de representantes da ONU e da Igreja Católica. Segundo um dirigente sindical que participou da reunião, o governo não cedeu em nenhum pedido de desmilitarização dos pontos de protestos. A situação ficou ainda mais tensa com a comoção que tomou o país em torno da confirmação da morte de Lucas Villa Vásquez, de 37 anos, também na última segunda-feira (10). Lucas havia recebido oito disparos durante uma manifestação do dia 5 de maio em Pereira, no estado de Risaralda. A Esmad, que é uma força policial específica “anti-distúrbios” da Polícia Nacional colombiana, voltou a reprimir violentamente os protestos na Praça Bolívar em Bogotá, capital do país. Mobilizações ocorreram também em Medellín, Cali, Bucaramanga, Barranquilla, Pereira, Yopal, Cartagena, Neiva, Putumayo e outras cidades espalhadas pelo país. Os protestos pedem renda básica de um salário mínimo para as famílias mais vulneráveis à pandemia, retirada do projeto de Lei da Saúde, defesa da produção nacional e fim da repressão às manifestações. Não há consenso sobre o número de mortes fruto dos ataques do governo às manifestações desde 28 de abril. O governo, através de sua ouvidoria de direitos humanos, admite 26 mortes, a organização Human Rights Watch fala em 38 óbitos e o Instituto Indepaz relata que 47 pessoas foram assassinadas.

– O presidente da Argentina, Alberto Fernández, terminou uma viagem à Europa para buscar apoios ao seu governo no processo de negociação das dívidas que seu país herdou após a passagem do governo Macri com o FMI (US $45 bilhões) e o Clube de Paris (US $2,4 bilhões). Ele passou por Lisboa, onde recebeu apoio do governo português. Esteve na Espanha, onde se reuniu com o rei Felipe VI e com o premiê Pedro Sánchez, de quem também recebeu apoio. Inclusive, Sánchez deve fazer uma visita pessoal à Argentina nos dias 8 e 9 de junho. Depois da Espanha, Fernández foi a Paris, onde se reuniu com Macron e a Roma, onde foi recebido pelo governo e pelo Papa Francisco. Por onde passou, Fernández também pediu apoio para a quebra das patentes das vacinas contra o coronavírus como forma de combater a pandemia de modo mais eficiente.

– Nos EUA, durante o último final de semana, um ataque de hackers interditou o maior oleoduto do país, que transporta mais de 2,5 milhões de barris de óleo por dia, e roubou mais de 100 GB de informações. Diante da situação, foi necessária a declaração de estado de emergência em 17 Estados da costa leste. A emergência permite o transporte de combustíveis por via rodoviária sem restrições de horários. Enquanto a empresa controladora do oleoduto, Colonial, tenta reabrir suas operações, o governo Biden tem se concentrado em encontrar os responsáveis pelo ataque e a Rússia já foi citada. Ontem (11) a embaixada da Rússia nos EUA se pronunciou e negou qualquer participação no ataque virtual.

– Ontem (12) a Câmara dos Deputados do Brasil aprovou o PL 3729/2004 que praticamente extingue o licenciamento ambiental no Brasil. A aprovação já ressoou pelo mundo e pode prejudicar ainda mais a imagem que se tem do país no exterior como um “pária ambiental”. Se virar lei, o projeto pode impactar muito nas negociações já frágeis do Acordo Mercosul-União Europeia. Na prática, o projeto cria uma situação de insegurança jurídica, pois deixará de haver um parâmetro nacional para as legislações estaduais nos 27 Estados da federação.

– Embora o COI faça cara de paisagem, as autoridades médicas do Japão estão cada vez mais contundentes na linha de rejeição à realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio. Um grande sindicato médico escreveu ao governo japonês, segundo divulgação da imprensa: “nós nos opomos com força à disputa dos Jogos de Tóquio em um momento em que as pessoas em todo o mundo lutam contra o novo coronavírus”. Os médicos consideram “impossível disputar os Jogos de forma segura durante a pandemia”. O maior temor é quanto às novas variantes que podem chegar ao país junto com os atletas e suas equipes. Faltam 10 semanas para a abertura dos Jogos.

– O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, se pronunciou sobre as investidas de Juan Guaidó dos últimos dias de demonstrar busca de diálogo com o governo. Nas palavras de Maduro, “se ele quer (Guaidó) se incorporar aos diálogos que já estão em curso, desenvolvendo-se em todos os temas, bem vindo e que se incorpore aos diálogos que já existem”. A tentativa de diálogo se dá no âmbito da convocação de eleições pelo Conselho Nacional Eleitoral venezuelano. Serão reuniões regionais e municipais conjuntas, para eleger 23 governadores, 335 prefeitos, assim como deputados regionais e vereadores para compor as Câmaras legislativas.  

– O Chile se prepara para ir às urnas no final de semana. Para além dos 155 representantes que vão compor a nova Assembleia Constituinte, serão eleitos prefeitos, vereadores e pela primeira vez governadores regionais. Esse cargo de governador substituirá os “intendentes” que eram nomeados pelo presidente da República. Serão eleitos 16 governadores que serão a principal autoridade nas 16 regiões do país por um mandato de 4 anos, podendo ser reeleitos apenas uma vez. O segundo turno, para as regiões e municípios que não definirem a eleição no primeiro turno será no dia 13 de junho. Apesar da eleição direta para governador, o governo central manterá a indicação de um “delegado do governo” para cada região. Quanto aos constituintes, esta será a primeira vez em todo o mundo que se realiza uma eleição em que tanto as chapas como os eleitos terão paridade de gênero. Se dois homens forem os mais votados, a lista correrá até a mulher com mais votos. 

Ana Prestes: Ana Prestes Socióloga, mestre e doutora em Ciência Política pela UFMG. Autora da tese “Três estrelas do Sul Global: O Fórum Social Mundial em Mumbai, Nairóbi e Belém” e do livro infanto-juvenil “Mirela e o Dia Internacional da Mulher”. É membro do conselho curador da Fundação Maurício Grabois, dirigente nacional do PCdoB e atua profissionalmente como assessora internacional e assessora técnica de comissões na Câmara dos Deputados em Brasília.
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