Cid Benjamin: Algumas considerações a respeito da saída de Marcelo Freixo do PSOL

Por Cid Benjamin

1) Não é verdade que Freixo não tenha sido candidato a prefeito do Rio em 2020 porque o PSol não aceitou fazer alianças. Com a exceção do PDT, que se movia unicamente em torno aos interesses da candidatura de Ciro Gomes e, por isso, não retiraria mesmo o nome da Martha Rocha, o campo progressista estava disposto a apoiá-lo, mas Freixo preferiu não disputar a eleição. Quando se aprofundou o desgaste de Marcelo Crivella, Freixo mudou de ideia e comunicou ao partido que aceitaria a indicação. Só que, àquela altura, já havia uma candidatura aprovada em convenção, a campanha estava em curso e, naquelas circunstâncias, a própria candidata escolhida, Renata Souza, não aceitou retirar seu nome. Nem o Psol, nem Renata, podem ser criticados.

2) Não é verdade que na eleição para o governo do estado no ano que vem o Psol não aceitaria fazer alianças. O que, sim, é fato, é que dificilmente aceitaria compor com a direita não fascista (Paes ou Rodrigo Maia) já no primeiro turno. Mas não havia ressalvas a uma aliança com o campo progressista e, nem mesmo, a uma ampla aliança antifascista envolvendo a “direita civilizada” no segundo turno.

3) Ao sair agora do Psol para o PSB, Freixo se ilude. Provavelmente pensa que terá o apoio de Rodrigo Maia e Eduardo Paes no primeiro turno. Mas é quase certo que tanto Maia, como Paes, tenham candidato próprio, que deve apoiar Lula para presidente, mas estará contra Freixo na disputa para governador. Assim, o arco de alianças que Freixo terá no primeiro turno não será muito diferente do que teria se não tivesse trocado de partido.

4) É verdade que o PSol tem mecanismos internos que, às vezes, abrem brechas para procedimentos formais incômodos. Exemplo são as prévias para a escolha de candidatos majoritários nos casos em que há mais de um pretendente. Isso gera situações em que pré-candidatos com pouca expressão se inscrevem apenas para ganhar mais visibilidade política. Claro, essa situação incomoda os “candidatos naturais”. Talvez seja conveniente estabelecer condições mais rígidas para a inscrição nas prévias, de forma a coibir movimentos oportunistas que pouco têm a ver com a disputa eleitoral em si e atendem essencialmente a interesses individuais. De qualquer forma, é preciso lembrar que, nas vezes em que Freixo foi candidato a prefeito no Rio, ele não teve que se submeter a prévias. Vale lembrar, também, que, na última eleição municipal em São Paulo, Boulos, embora fosse o “candidato natural”, participou das prévias e as venceu. De qualquer forma, fica uma pergunta: é melhor a situação atual, embora com percalços, ou que o partido tenha um “dono”, sem democracia interna.

5) A trajetória política de Freixo é muito mais alinhada com a do PSol do que com a do PSB. Seria, inclusive, mais alinhada com a do PT do que com a do PSB. Este último muitas vezes é um partido aliado da esquerda, mas não sempre. Não nos esqueçamos que, com uma bancada de 32 deputados federais, o PSB deu 29 votos a favor do impeachment da Dilma Roussef em 2016. Fica a interrogação sobre como Freixo – uma figura de esquerda indubitavelmente – se sentiria na bancada do PSB se situações como esta se repetissem.

6) O Psol perde neste episódio. Freixo é uma de suas maiores expressões na sociedade brasileira e, no Rio, é a maior. E pode levar consigo, mesmo que não agora, figuras respeitadas no partido. Mas nem por isso é maior do que o Psol. Hoje o movimento de Freixo está sintonizado com o senso comum das camadas progressistas, que sentem a necessidade de unidade para enfrentar a onda de fascistização. Resta ver que explicação dará se no ano que vem não conseguir o apoio da “direita civilizada” – o que é a hipótese mais provável. Continuará afirmando que foi correto trocar o Psol pelo PSB?
7) Por fim, deve-se lembrar um ponto positivo nesse processo: a saída de Freixo se deu sem agressões de parte a parte. Isso é importante porque ele continua no campo do Psol e poderá perfeitamente ser o candidato do partido a governador no ano que vem. Além do que, os caminhos podem se encontrar mais adiante.

Redação:
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.