Jacqueline Muniz: segurança pública virou “fazer estatística pra governador”

Jacqueline Muniz, foto do Twitter.

Enviamos o post “Atlas da Violência 2021: mortes violentas por causa indeterminada cresceram 70% em 2019”  à professora Jacqueline Muniz, uma das maiores especialistas em segurança pública no país.

Ela nos enviou o seguinte comentário.

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— Alguns fatores concorrem para o aumento das mortes violentas por causa indeterminadas:

  • Primeiro, a política dos governadores que acreditam no canto ilusório da sereia policialesca da repressão como um fim em si mesmo. Eles se tornam reféns do sobe e desce do elevador dos números da violência e dos saldos policiais operacionais, que podem ser fabricados de forma pouco transparente para atender “politica de metas” inadequadas ao trabalho policial.
  • Segundo, o rebaixamento da segurança pública ao produtivismo policial, expresso no “fazer estatística para o governador”, favorece a manipulação da classificação das mortes violentas para reduzir artificialmente os homicídios dolosos.
  • Terceiro, a ausência ou fragilização intencional da auditagem dos dados por órgãos externos às polícias.
  • Quarto, a censura e restrição governamental de acesso aos dados para sociedade civil e as universidades para garantir confiabilidade e transparência.
  • Quinto, a precariedade, a saturação da demanda e as agendas corporativistas da perícia criminal, que refletem dificuldades e mesmo resistência em classificar certas mortes como homicídios.
  • Sexto, as mudanças nas formas de matar, descaracterizar as evidências e mesmo desaparecer com os corpos mortos que são adotadas pelos domínios armados.

Jacqueline Muniz – Professora do Depto de segurança Pública da UFF

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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