Opinião: O desmonte da Caixa e os impactos sociais para o Piauí

Imagem: Divulgação

Por Maria da Glória Araújo Silva

A Caixa Econômica Federal é um banco que está presente na vida não apenas de seus correntistas, mas de cada cidadão brasileiro, de forma direta ou indireta. Responsável por grande fatia do mercado de crédito imobiliário, pelo pagamento de importantes programas sociais e pelo aporte em obras de infraestrutura e saneamento básico, a função social exercida pelo banco público tem valor inestimável para o Brasil.

Em relação ao estado do Piauí não é diferente: basta perceber que a Caixa é responsável por 45% das operações de crédito realizadas no estado (vultosos R$ 8 bilhões) para entender a importância do banco à economia local. E não esqueçamos que uma das principais atribuições da Caixa é ser o banco responsável por dar suporte financeiro e viabilizar políticas desenhadas pelo governo federal para diminuir as assimetrias sociais em todo o país. Programas como foram o Minha Casa Minha Vida e o Bolsa Família, além do Auxílio Emergencial, todos são de responsabilidade da Caixa Econômica Federal.

Exemplos da assistência prestada pela Caixa aos piauienses são os quase R$ 134 milhões pagos em apenas um mês do ano de 2021 a 461 mil famílias do estado beneficiárias do [extinto] Bolsa Família bem como a construção de mais de 60 mil unidades habitacionais pelo Minha Casa Minha Vida, com um investimento de aproximadamente R$ 2,2 bilhões, e, ainda, os R$ 4,2 bilhões em obras de infraestrutura, saneamento e habitação realizadas desde 1995 no Piauí. Ações como essas só foram possíveis por se tratar de um banco público, sólido e eficiente, que reverte parte dos lucros em investimentos sociais.

O fantasma da privatização constantemente ronda o futuro da Caixa. Por enquanto, o presidente Jair Bolsonaro garante que o banco permanecerá uma empresa pública. O problema é que a venda da Caixa parece estar ocorrendo mesmo assim. A abertura de capital da Caixa Seguridade foi um primeiro passo para uma política de desmonte do Sistema Caixa, caminho que pode ser seguido pela recém-nascida DTVM e por outras subsidiárias do banco.

As áreas mais lucrativas da Caixa estão, aos poucos, sendo vendidas à iniciativa privada e, com isso, vemos a capacidade de investimento sendo ameaçada pela queda da lucratividade no longo prazo. Todos esses recursos voltados para áreas sociais são provenientes dos negócios do banco. Ou seja, parte do lucro aferido pela empresa retorna à sociedade e a venda das subsidiárias, ou parte delas, ameaça os investimentos sociais realizados pela Caixa.

Essa política que está em curso é como diz aquele ditado: “Saco vazio não para em pé!”. De nada adianta termos um banco público sem ativos lucrativos para sustentar suas políticas.

A abertura de capital de suas subsidiárias pode representar a perda de R$ 29 bilhões no lucro da empresa nos próximos dez anos, o que impactaria diretamente a capacidade de aporte para políticas sociais essenciais aos piauienses.

Precisamos ligar o alerta: caso esse processo de fatiamento dos negócios da Caixa continue ocorrendo, presenciaremos a morte lenta não apenas de uma instituição financeira, mas o desmantelamento de um sistema de financiamento de políticas sociais das quais dependem as parcelas mais vulneráveis da sociedade brasileira.

Maria da Glória Araújo Silva é presidente da Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal do Estado do Piauí (Apcef/PI)

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