Veronica Moraes responde à Duda Salabert: o que é ser mulher?

Veronica Moraes, administradora, ativista pelos direitos das mulheres e militante do PDT

O texto é uma resposta a esse post, no qual a vereadora Duda Salabert comenta uma denúncia de transfobia num grupo de mobilização do PDT.

Uma resposta aos comentários de Duda Salabert

O que é ser mulher?

Por Veronica Moraes, administradora e ativista pelos direitos das mulheres, e militante do PDT no Rio de Janeiro

Não serei uma negacionista de esquerda, muito menos “isentona”. Ser do campo progressista não me obriga aceitar um combo de pautas e não me fez perder a capacidade de raciocinar e questionar. Não vejo sentido na palavra genitalizante e quero deixar claro que defendo, ardorosamente, a liberdade de cada indivíduo viver como melhor entenda. Duda usou palavras exóticas e frases vazias de sentido que de longe não nos esclarece seu entendimento do que é ser mulher e não apresenta nenhuma evidência científica. Logo, até que se prove o contrário, assim como a terra não é plana, homens não são mulheres. Mulheres são pessoas do sexo feminino, fêmeas adultas humanas.

Para defesa de meus posicionamentos vou citar alguns pontos de forma objetiva para que fique clara a natureza dos meus questionamentos em relação ao transativismo.

Sou uma mulher, mãe de uma mulher. Fui vítima de abusos sexuais por diversas vezes em minha vida, desde de criança. Vivo em um país onde 1 mulher foi estuprada a cada 10 minutos em 2021, segundo levantamento feito pela polícia civil. Tenho legitimidade para questionar o critério subjetivo “gênero” e “autoidentificação” em detrimento do sexo biológico, que vem sendo utilizado por transativistas para, reivindicar direitos como, por exemplo, acessar espaços exclusivos para mulheres (banheiros, vestiários, presídios, salão de beleza, etc.). Esse critério, vulnerabiliza espaços separados que foram criados para nossa segurança, visto que, qualquer um que se auto identifique como mulher poderá acessar esses espaços. Esses espaços devem ser preservados. Outro ponto crítico é o uso de salões de beleza, centros de estética e afins. Defendo que mulheres não sejam, em hipótese alguma, obrigadas a prestar serviços estéticos para pessoas do sexo masculino, mesmo que esta se autoidentifique como mulher, visto que alguns serviços como depilação e massagem, mulheres muitas vezes têm que ficar sozinhas em um local fechado com o cliente, o que pode gerar insegurança em muitas delas. Inclusive algumas atendem em domicílio.

Gostaria de chamar a atenção para denúncias de mulheres lésbicas que vêm sendo pressionadas a ter relações sexuais com pessoas do sexo masculino que se transidentificam como mulheres sob ameaça de serem acusadas de tranfobia, como mostra essa matéria da BBC.

Tenho acompanhado com grande preocupação, casos em que trabalhadores e trabalhadoras, no exercício de sua função, vêm sendo pressionados sob ameaça de exposição midiática a deixar qualquer um que se identifique como mulher, acesse os banheiros femininos dos estabelecimentos comerciais, como no caso recente do São Gonçalo Shopping, onde dois rapazes, quiseram utilizar o banheiro feminino.

Poderia falar sobre tempo de contribuição para aposentadoria, aplicação da lei Maria da Penha, mas não vou me alongar. Acredito que já está claro em meu texto que meus posicionamentos não se tratam de preconceito ou exclusão. Meus posicionamentos têm como base a ciência e as leis que são criadas tendo como referência, homens, mulheres e crianças. Não tem absolutamente nada a ver com uma rivalidade infantil. O que o campo progressista precisa superar com urgência é o machismo e a violência política contra mulheres.

Espero que esse episódio abra a oportunidade para um debate lúcido, qualificado e honesto com profissionais de diversas áreas com posicionamentos diferentes, internamente, no PDT, a fim de jogar luz sobre esse tema que vem deixando muitas pessoas confusas e a fim de evitar exposições como estas feitas pelo colega de partido. Exposições estas, que me preocupa muito, pois nos colocam em risco real. Não só um risco de cancelamento e perseguição virtual, mas risco de vida e de termos nossa integridade física violada. Parte dos transativistas, são extremamente violentos. Inclusive, neste momento, já estou recebendo mensagens agressivas e sofrendo ataques no instagram. Várias colegas ativistas já sofreram ameaças de agressão. Vou elencar aqui um caso, que considero o mais grave, em que a artista plástica Aleta Valente foi linchada de um casamento aqui no Rio de Janeiro sob um coro puxado por uma pessoa trans identificada, que a chamava de transfóbica. Aleta ficou por dias sem conseguir sair de casa, devido ao trauma sofrido. A autora de Harry Potter J K, no Reino Unido, foi atacada e exposta virtualmente ( com seu endereço vazado) em pouco tempo precisou de amparo policial na porta de casa. Vejam essa matéria. É preciso evitar que mais mulheres passem por isso.

Meus posicionamentos, sim, estão totalmente alinhados ao feminismo radical, movimento ao qual tenho orgulho de fazer parte. Um movimento guiado por uma ética feminista, que luta pela emancipação total das mulheres, pelo direito sexual e reprodutivo, contra qualquer tipo de exploração sexual, pedofilia e, ademais, não estamos dispostas a negociar direitos de mulheres e crianças. Falar sobre a nossa realidade material e questionar não pode ser considerado um ato de preconceito ou violência.

Finalizo, deixando aqui o link de uma artigo que fala sobre a tentativa de silenciamento das mulheres nos partidos de esquerda.

Cláudia Beatriz:
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.