Gilberto Maringoni: Múcio na Defesa sacramenta tutela militar e golpe de 2016

Imagem: Reprodução

Por Gilberto Maringoni

A confirmação do ex-presidente do TCU e ex-deputado José Múcio no ministério da Defesa representa incontestável vitória dos militares que se alinharam com Jair Bolsonaro nos últimos quatro anos. Múcio, que começou sua carreira política na antiga Arena, se reuniu com vários deles e com o próprio presidente em fim de mandato há poucos dias.

De sua boca até agora não saiu uma palavra com algum sentido sobre as turbulências golpistas dos últimos meses. Só platitudes como “é preciso pacificar”, “é preciso conversar”. Tacitamente, o novo titular da Esplanada indica que o pano será solenemente passado sobre crimes e ameaças cometidas pelas gentes dos quartéis.

Mas as qualidades do político pernambucano não param por aí. Sua entronização implica também a naturalização do golpe de 2016. Os trechos abaixo, do jornal Valor Econômico de 5 de outubro daquele ano, mostram como José Múcio foi essencial para a rejeição das contas do governo Dilma pelo órgão que dirigia, entre 2015-16. A decisão serviu de argumento em favor do impeachment:

“POR UNANIMIDADE, TCU REJEITA CONTAS DO GOVERNO DILMA DE 2015
(…)
Pelo segundo ano consecutivo, o Tribunal de Contas da União (TCU) reprovou a contabilidade do governo federal. A decisão foi anunciada na tarde desta quarta-feira pelo plenário de ministros, que votou de forma unânime pela rejeição das contas da ex-presidente Dilma Rousseff referentes ao ano de 2015.

Relator do processo, o ministro José Múcio Monteiro apontou dez irregularidades na contabilidade federal, muitas das quais já presentes nas demonstrações referentes a 2014, igualmente rejeitadas por unanimidade. Segundo ele, o governo Dilma insistiu nas práticas que ficaram conhecidas como “pedaladas” fiscais.
(…)
Múcio havia sugerido a rejeição das contas de 2015 do governo Dilma, citando as irregularidades identificadas na contabilidade do governo e rebatendo os argumentos apresentados pela defesa de Dilma”.

Ninguém em sã consciência avalia ser possível bater de frente com uma organização pródiga em desestabilizar a vida pública e a democracia brasileira. É o que as Forças Armadas fazem desde 1889. Mas não ceder totalmente aos desígnios de uma turma que busca acobertar crimes e boquinhas é o mínimo que as correntes democráticas podem fazer.

Apesar disso tudo, este é o nosso governo, eleito numa das mais formidáveis jornadas democráticas das últimas décadas. Numa quadra histórica em que o fascismo segue vivo, é fundamental apoiá-lo. E tensioná-lo também.

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