Nova era

Cerimônia de posse do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto

Histórica. Inesquecível. Redentora.

Abundam e, ao mesmo tempo, faltam adjetivos para qualificar a cerimônia de posse do presidente Lula.

As imagens mais emblemáticas deste memorável 1º de janeiro de 2023 são, sem a menor dúvida, as de Lula subindo a rampa do Palácio do Planalto junto com trabalhadores e representantes de grupos historicamente excluídos – e depois recebendo a faixa deles.

Quem colocou a faixa em Lula foi Aline Souza, mulher negra, catadora. Em um país com milhões de pobres e de trabalhadores que suam sangue para sobreviver dia após dia, onde o racismo, o machismo e o classismo seguem sendo pragas que corroem o tecido social, ver uma representante desses setores marginalizados da população colocar a faixa no novo presidente é de encher o coração de esperança.

Os discursos de Lula, tanto no plenário da Câmara dos Deputados, para os políticos, quanto no púlpito em frente ao Palácio do Planalto, para o povão, foram de arrepiar.

O presidente foi correto ao apontar a destruição deixada pelo governo Bolsonaro e cirúrgico ao dizer que os responsáveis pelo genocídio que ocorreu no nosso país não podem ficar impunes. Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, se posicionou contra o “revanchismo” em seu exageradamente longo discurso.

Mas ninguém está propondo “revanchismo” algum.

Lula falou que os que cometeram crimes devem ser responsabilizados na forma da lei, nada mais do que isso. Responsabilizar quem comete crimes não é “revanchismo”, mas necessidade imperiosa se o país quiser garantir que seus próximos governantes pensem duas vezes antes de cometerem atrocidades como fez Bolsonaro na gestão da pandemia (e em tantas outras áreas).

A população que ouvia Lula falar em frente ao Palácio gritou, a plenos pulmões, “Sem anistia!”. A anistia aos militares que barbarizaram na ditadura militar é, certamente, um dos fatores responsáveis por termos ainda que conviver com movimentos autoritários.

Responsabilizar os criminosos que usam o poder do Estado para massacrar a população do próprio país é, repito, imperioso. Esta será uma das grandes batalhas políticas do próximo período, pois ajudará a moldar as próximas décadas do Brasil.

Lula destacou, em seus discursos, a volta dos ministérios da Mulher, dos Direitos Humanos, da Igualdade Racial, da Cultura. Setores cruciais em qualquer povo e ainda mais importantes em um dos países mais desiguais do planeta.

“Brasil, um país de todos” foi o slogan dos dois primeiros mandatos de Lula. Apesar do novo slogan ser o anódino “União e reconstrução”, tudo indica que a prática governamental terá muito mais a ver com o país de todos que Lula escolheu como mote de seus primeiros governos.

É o que indica a prevalência do tema da desigualdade social em seus dois discursos. Lula comparou a renda do punhado de bilionários mais ricos do país com a de 100 milhões dos mais pobres e disse que isso é inaceitável.

E se emocionou quando falou da fome. Um choro que também é emblemático, já que o EX-presidente Jair Bolsonaro não derramou uma lágrima pela volta da miséria e da fome (ele inclusive negava essa realidade), ou pelos 700 mil mortos pela Covid-19. O golpista frustrado começou a chorar somente depois de perder as eleições, apavorado com a perspectiva de sair do poder e de ser (justamente) preso.

É uma diferença gritante, senhoras e senhores.

Saem do ministério os idiotas, delirantes e sociopatas e entram quadros de alto nível como Silvio Almeida, Nísia Trindade e Fernando Haddad.

Sai de cena um governo que acelerou a extinção da humanidade(!) ao ter como ministro do Meio Ambiente um delinquente investigado por exportação ilegal de madeira e entra um governo que coloca o combate às mudanças climáticas em um patamar elevadíssimo. Marina Silva, figura respeitada internacionalmente na área da proteção ambiental, será a voz do Brasil no trabalho global que será necessário para salvar a espécie humana.

Acaba um governo aliado dos garimpeiros, grileiros e mineradores que assassinam inocentes de forma brutal e destroem nosso bioma para garantir seu estúpidos lucros. Começa um governo que, pela primeira vez na história, coloca uma indígena, Sonia Guajajara, como ministra de Estado, chefiando um ministério inédito, o dos Povos Indígenas. Lula falou, em seu discurso, que o Brasil tem uma dívida histórica com os povos originários desta terra, e essa dívida finalmente começará a ser paga.

É evidente que a vida não será um mar de rosas daqui pra frente.

As batalhas serão duras, especialmente no campo econômico, onde a grande mídia já se posicionou na oposição ao novo governo. Estejamos preparados porque o bicho vai pegar.

Mas só a partir de amanhã.

Hoje é um dia para festejar, rir e chorar de alegria. A consciência política do povo brasileiro derrotou o fascismo, a desumanidade e o uso da violência como método político.

Começa hoje a construção de um novo país. Que seja o início de uma nova era.

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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