Exclusivo! Pesquisadora fala ao Cafezinho sobre eleições na Turquia

Imagems: Reuters

No último domingo, dia 14, foram realizadas as eleições na Turquia, onde o atual presidente, que está no poder há mais de 20 anos, concorreu à reeleição. Diante desse cenário, torna-se necessário analisar um país que vem sofrendo nos últimos anos com uma grave erosão democrática, mas que talvez esteja agora buscando por mudanças. Por isso, conversamos com a professora e pesquisadora, Monique Sochaczewski, a fim de entender um pouco mais sobre essa situação.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que anteriormente ocupou o cargo de primeiro-ministro, está tentando prolongar seu governo que já dura 21 anos. Seu mandato é caracterizado pela centralização do poder, enfraquecendo a democracia e o Estado de direito.

Apesar de sua alta popularidade, o país enfrenta uma crise econômica com alta inflação e desemprego, além dos impactos de terremotos recentes. Essa conjuntura levou a oposição a crescer, a ponto de apresentar no ano passado uma proposta de nova constituição. Esse documento visa evitar a concentração de poder por futuros líderes, como Erdogan fez, e fortalecer a independência do poder judiciário. Essa proposta já demonstra a resposta que o país deseja dar ao atual governante, que enfrenta uma grave crise econômica.

Apesar da oposição ter se unido em torno da candidatura de Kemal Kilicdaroglu e contar com o apoio de prefeitos muito populares no país, como Ekrem Imamoglu, prefeito de Istambul, e de ter saído na frente nas pesquisas eleitorais, Erdogan venceu o primeiro turno das eleições de forma apertada, com 49,5% contra 44,7%.

Diante disso, muitos têm estabelecido uma relação entre as eleições na Turquia, um país que está localizado na Europa e na Ásia, e o processo eleitoral ocorrido no Brasil no ano passado, e discutido como as eleições turcas podem interferir na política externa tanto do Brasil quanto mundialmente.

A professora e pesquisadora, Monique Sochaczewski, afirma que a oposição representa temas que foram esquecidos pelo governo atual, como revisar prisões arbitrárias ocorridas no país, regular as mídias e até mesmo modificar a política externa. Diante disso, muitos países ocidentais têm declarado apoio, ainda que discretamente, à oposição e possuem um discurso mais alinhado ao de Kilicdaroglu.

Para compreender essa situação, Monique explica que a Turquia é um país membro da OTAN, o que a torna fundamental na questão da Guerra da Ucrânia devido à sua proximidade com a Rússia. Isso pode alterar a relação entre a Turquia e a Europa, já que os países da OTAN não desejam que Erdogan se torne um aliado da Rússia.

Além disso, a Turquia é um importante parceiro comercial do Brasil, tendo negociado mais de R$ 2 bilhões no último ano. As relações entre os governos brasileiro e turco são boas, e Monique afirma que o Brasil continuará mantendo uma boa relação com o país euroasiático, independentemente do presidente eleito. No entanto, ela ressalta que Kilicdaroglu está mais “alinhado com o governo brasileiro, o que poderia estreitar ainda mais as relações bilaterais”.

A pesquisadora também projeta o que pode ocorrer no segundo turno das eleições na Turquia: “Sinan Ogan, o terceiro colocado nas eleições, conquistou 5,17% dos votos, e todos querem saber para onde irão seus eleitores. Ogan é um nacionalista e questiona o papel dos curdos no país. Existe uma grande tensão, pois ele não apoiaria uma aliança como a de Kilicdaroglu com o HDP, partido ligado aos curdos.”

Independentemente disso, a coalizão em torno de Kilicdaroglu é diversificada, reunindo forças de esquerda e direita, unidas apenas pela oposição a Erdogan. Manter esse grupo coeso durante todo um mandato será um enorme desafio.

Assim, a situação política na Turquia desperta interesse não apenas no âmbito interno, mas também internacional, com possíveis repercussões na política externa de diversos países, incluindo o Brasil.

Ruann Lima: Paraibano e Estudante de Jornalismo na UFF
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