Instituto do Senado aponta melhora nas contas públicas, mas alerta para desafios à frente.
O Instituto Fiscal Independente (IFI) do Senado divulgou seu mais recente relatório fiscal mostrando sinais de melhora nas contas públicas brasileiras. O país saiu de um déficit de 2,2% do PIB em junho de 2024 para um pequeno superávit de 0,1% do PIB em junho de 2025. Apesar do avanço, o instituto alerta que o bom desempenho do primeiro semestre pode não se repetir nos próximos meses.
Melhora temporária ou tendência?
O resultado positivo do primeiro semestre tem explicações específicas que podem não se repetir. O orçamento de 2025 só foi aprovado em março, o que atrasou a execução de várias despesas. Além disso, o pagamento de precatórios, que normalmente ocorre no início do ano, foi transferido para julho, melhorando artificialmente os números dos primeiros meses.
O resultado primário estrutural, que elimina esses efeitos temporários, também mostrou melhora. Passou de -1,5% do PIB no final de 2024 para -0,5% do PIB no segundo trimestre de 2025. Embora ainda seja negativo, a trajetória indica menor pressão fiscal sobre a economia.
Economia aquecida gera pressões
A economia brasileira continua operando acima de sua capacidade, o que gera pressões inflacionárias. O PIB cresceu 2,9% no primeiro trimestre comparado ao ano anterior, e o desemprego caiu para 7,0%. Porém, segundo o IFI, “a combinação da política monetária contracionista com um impulso fiscal menor e um quadro externo instável deverá resultar na redução do crescimento econômico”.
As pressões inflacionárias diminuíram, mas ainda existem. O hiato do produto passou de 1,1% para 0,6% do PIB potencial, indicando que a economia ainda está “quente”, mas em processo de resfriamento.
Incertezas sobre novas receitas
O governo conta com novas receitas do aumento do IOF e da tributação sobre alguns investimentos financeiros para fechar as contas. Porém, o IFI destaca que “persiste uma série de incertezas” sobre essas receitas, que dependem de decisões do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.
As recentes tensões comerciais com os Estados Unidos, que anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, também trazem riscos. O instituto alerta que essas “incertezas podem influenciar expectativas e produzir choques negativos sobre a atividade econômica”.
Desafio maior em 2026
O verdadeiro teste virá no próximo ano. O IFI calcula que será necessário um incremento na arrecadação entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões em 2026. Sem isso, há “risco de se inviabilizar o funcionamento da máquina pública” devido à impossibilidade de cortar mais despesas discricionárias.
A melhora atual nas contas também reflete cortes em programas sociais. O Bolsa Família teve redução real de 7,4% nos valores pagos, resultado da diminuição no número de beneficiários e no valor médio dos benefícios.
Evolução mês a mês mostra recuperação gradual
Os dados mensais revelam a dimensão da melhora fiscal ao longo do primeiro semestre. Segundo o Gráfico 3 do relatório do IFI, o resultado primário acumulado até junho de 2025 ficou em -R$ 6,8 bilhões (a preços de junho de 2025), uma diferença significativa em relação aos -R$ 70,1 bilhões registrados no mesmo período de 2024. Essa melhora de mais de R$ 63 bilhões demonstra a trajetória de recuperação das contas públicas, mesmo considerando que parte dessa melhora se deve a fatores temporários como a aprovação tardia do orçamento.
Cenário de cautela
Apesar dos números positivos, o IFI recomenda cautela na análise. O bom resultado do primeiro semestre deve piorar no segundo, quando a execução orçamentária se normalizar. O instituto projeta que o governo conseguirá cumprir a meta fiscal de 2025, mas “no limite inferior da margem de tolerância”.
O relatório mostra que, embora haja sinais de melhora no controle fiscal, os desafios estruturais permanecem. A sustentabilidade das contas públicas ainda depende de reformas mais profundas e do cenário econômico externo, que se mostra cada vez mais incerto.