Uma pesquisa do instituto Genial/Quaest, divulgada nesta segunda-feira, 15, pela colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, indica que a maior parte da população brasileira não acredita que a atuação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, seja suficiente para reverter a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
De acordo com os dados, 59% dos entrevistados consideram improvável que Trump consiga interferir no processo judicial que retirou Bolsonaro da disputa eleitoral. Apenas 31% acreditam que há alguma chance de o ex-presidente brasileiro voltar a ser elegível com ajuda do chefe do Executivo norte-americano.
A pesquisa foi realizada entre os dias 10 e 13 de julho e ouviu 2.004 pessoas em todas as regiões do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
O levantamento também revela que a desconfiança em relação à eficácia da pressão internacional é significativa mesmo entre os apoiadores de Bolsonaro. Entre os eleitores que declararam voto no ex-presidente nas eleições de 2022, 45% afirmam não acreditar que Trump terá sucesso na tentativa de reverter a inelegibilidade. Já entre os eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o índice sobe para 69%.
A pesquisa foi realizada em meio a uma série de declarações públicas e ações diplomáticas de Trump em defesa de Bolsonaro. No dia 9 de julho, o presidente norte-americano enviou uma carta oficial ao presidente Lula na qual ameaçava aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos exportados do Brasil para os Estados Unidos. No documento, Trump afirmou que o ex-presidente brasileiro estaria sendo alvo de perseguição política.
Nos dias seguintes, o presidente dos EUA aumentou o tom das críticas ao processo contra Bolsonaro. Em declarações à imprensa norte-americana, classificou o julgamento conduzido pelo Supremo Tribunal Federal como uma “caça às bruxas”. Posteriormente, uma nova carta foi encaminhada diretamente a Bolsonaro, pedindo que os procedimentos judiciais fossem interrompidos “imediatamente”.
Apesar das ações do governo norte-americano, a percepção majoritária entre os brasileiros é de que a inelegibilidade de Bolsonaro deverá ser mantida. A decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que em 2023 considerou o ex-presidente inelegível por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, segue em vigor. A pena, de oito anos, impede Bolsonaro de concorrer em eleições até 2030.
Além do processo eleitoral, Bolsonaro também é réu em ações penais relacionadas à tentativa de golpe de Estado investigada no âmbito do Supremo Tribunal Federal. A Procuradoria-Geral da República já apresentou denúncias que ainda aguardam julgamento. Nos bastidores, integrantes do Judiciário avaliam que a pressão internacional não alterará o curso das investigações.
Especialistas consultados por veículos da imprensa brasileira têm afirmado que a Constituição e o sistema jurídico do Brasil não preveem interferência externa em decisões do Poder Judiciário. Mesmo que ações diplomáticas avancem, decisões como a que tornou Bolsonaro inelegível só podem ser modificadas por meio de recursos legais dentro do próprio sistema judiciário nacional.
O Palácio do Planalto ainda não comentou oficialmente o conteúdo das cartas enviadas por Trump. Fontes do governo indicam que a posição do Brasil é manter a separação entre as esferas diplomática e institucional. Nos bastidores, o entendimento é que as ameaças de sanções comerciais não encontrarão apoio suficiente no Congresso dos EUA para se consolidarem como política de Estado.
A pesquisa da Genial/Quaest surge em um momento de aumento da tensão entre os governos de Brasil e Estados Unidos. A imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, caso confirmada, deverá gerar impacto em diversos setores da economia nacional, com possível redução nas exportações para o principal parceiro comercial fora da América do Sul.
Enquanto isso, aliados de Bolsonaro mantêm expectativa de que as pressões políticas internacionais possam gerar algum efeito prático. Parlamentares da oposição têm defendido a criação de comissões para analisar o impacto de eventuais sanções dos EUA sobre o Brasil e propor estratégias de resposta institucional.
Apesar do cenário de incertezas, a pesquisa indica que a opinião pública brasileira tende a considerar improvável qualquer interferência externa no sistema jurídico do país. A manutenção da inelegibilidade de Bolsonaro é tratada como um desfecho consolidado por grande parte da população, mesmo entre eleitores que apoiam seu retorno à disputa eleitoral.
A Genial/Quaest informou que os dados completos da pesquisa serão disponibilizados em seu site oficial ao longo da semana.