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Nova gestora do TikTok contra o discurso de ódio já foi militar em Israel

Erica Mindel, ex-instrutora do exército israelense, assume a gestão de discurso de ódio no TikTok, em meio a críticas sobre censura e pressão dos EUA O TikTok, uma das redes sociais mais populares do mundo, anunciou a contratação de Erica Mindel, ex-instrutora do exército israelense, para liderar sua política global de discurso de ódio. A […]

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A contratação reacende o debate sobre a influência militar e diplomática na definição de regras das redes sociais em tempos de conflito no Oriente Médio.
Enquanto Big Techs são acusadas de favorecer Israel, TikTok aposta em figura controversa para lidar com o discurso — e reacende o embate por vozes online / Reprodução

Erica Mindel, ex-instrutora do exército israelense, assume a gestão de discurso de ódio no TikTok, em meio a críticas sobre censura e pressão dos EUA


O TikTok, uma das redes sociais mais populares do mundo, anunciou a contratação de Erica Mindel, ex-instrutora do exército israelense, para liderar sua política global de discurso de ódio. A nomeação ocorre em um momento delicado para a plataforma, que tem enfrentado intensa pressão do governo dos Estados Unidos por ser considerada um espaço fértil para manifestações pró-palestinas nos últimos anos.

Segundo revelou o Jewish Insider no início desta semana, Mindel foi nomeada para o cargo de “Gerente de Políticas Públicas, Discurso de Ódio” no TikTok. A nova executiva terá a missão de desenvolver e aplicar diretrizes da empresa sobre o tema, além de influenciar debates legislativos e regulatórios. A atuação também incluirá o monitoramento de tendências, com atenção especial ao antissemitismo.

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A escolha, no entanto, foi alvo de críticas nas redes sociais. Muitos usuários expressaram preocupação de que a presença de Mindel na liderança da área possa representar uma tentativa de silenciar vozes pró-Palestina e restringir o alcance de conteúdos relacionados à resistência palestina, num contexto onde o TikTok tem sido um dos principais canais de divulgação dessas pautas.

Mindel tem um histórico profissional alinhado com a segurança e a diplomacia dos EUA e de Israel. Antes de ingressar no TikTok, atuou no Departamento de Estado americano, onde trabalhou com Deborah Lipstadt, enviada especial para monitorar e combater o antissemitismo durante a administração do ex-presidente Joe Biden. Ainda antes disso, serviu por dois anos no Exército de Israel, como instrutora no Corpo Blindado da Unidade de Porta-vozes — setor militar responsável por comunicações estratégicas e relações públicas das Forças de Defesa de Israel.

A criação do cargo ocupado por Mindel teria sido recomendada durante reuniões promovidas em 2024 por grupos de lobby pró-Israel, como a Liga Antidifamação (ADL). Dan Granot, diretor nacional de política antissemitismo da entidade, afirmou que a nomeação é resultado de uma “convocação de alto nível” e uma “recomendação central” feita à indústria de tecnologia na época.

A ADL é frequentemente criticada por classificar críticas às políticas do governo israelense — mesmo quando feitas por organizações de direitos humanos — como manifestações de antissemitismo, o que levanta preocupações sobre os critérios que serão aplicados na moderação de conteúdo pela nova gestora do TikTok.

Nos últimos anos, o TikTok se consolidou como uma plataforma relevante para a disseminação de conteúdo de apoio à causa palestina, incluindo vídeos que expressam solidariedade ao povo palestino ou retratam os impactos dos conflitos na região. Isso colocou a rede no centro de disputas geopolíticas e pressões legislativas.

Em 2023, o aplicativo foi alvo de apelos de censura por parte de parlamentares dos EUA. Já em 2024, o Congresso americano aprovou um projeto de lei exigindo a venda do TikTok para uma empresa americana — sob pena de banimento em território norte-americano. A legislação foi sancionada, e o aplicativo chegou a ser temporariamente banido no país. A medida foi posteriormente revertida com a chegada de Donald Trump à presidência. Em abril de 2025, a ByteDance, dona chinesa do TikTok, conseguiu prorrogar o prazo para a venda em 75 dias.

“A ByteDance vem discutindo com o governo dos EUA uma possível solução para o TikTok US. Um acordo ainda não foi firmado. Há questões importantes a serem resolvidas. Qualquer acordo estará sujeito à aprovação da legislação chinesa”, declarou a empresa, à época.

Durante esse período, diversas decisões judiciais apontaram que a alienação forçada do TikTok “simplesmente não é possível: nem comercialmente, nem tecnologicamente, nem legalmente”, indicando que a solução para o impasse será mais política do que técnica.

Paralelamente, crescem as denúncias de censura dentro da plataforma. Usuários têm relatado que conteúdos relacionados à Palestina, ao Hezbollah ou a outros grupos de resistência estão sendo ocultados ou removidos com maior frequência. Fontes ligadas ao Congresso dos EUA revelaram que a motivação por trás da campanha para restringir o TikTok não seria a preocupação com espionagem chinesa, mas sim a proteção da “imagem de Israel”.

O TikTok não está sozinho nesse cenário. Empresas como a Meta (dona do Facebook e Instagram) e o Google também têm sido acusadas de remover sistematicamente conteúdos relacionados à causa palestina. Em 2022, a Human Rights Watch acusou a Meta de “silenciar vozes em apoio à Palestina e aos direitos humanos palestinos”.

Já o Google foi alvo de protestos internos por parte de seus funcionários, que se opuseram ao envolvimento da empresa com o Projeto Nimbus — uma parceria bilionária para fornecer serviços de inteligência artificial e computação em nuvem ao Exército de Israel. O caso ganhou ainda mais repercussão após a gigante da tecnologia anunciar, no início de 2025, a intenção de comprar a startup israelense de segurança em nuvem Wiz, por US$ 32 bilhões. A empresa foi fundada por ex-integrantes da Unidade 8200, braço de inteligência das forças armadas israelenses, envolvido em operações militares no Líbano.

A nomeação de Erica Mindel reacende, portanto, um debate mais amplo sobre a influência de interesses geopolíticos na moderação de conteúdo online, o papel das Big Techs na liberdade de expressão e a crescente militarização do setor tecnológico. Em tempos de polarização e conflito, quem decide o que pode ou não ser dito nas redes sociais está, cada vez mais, no centro das disputas políticas globais.

Ofensiva contra vozes independentes do Oeste Asiático

O caso do The Cradle reacende o debate sobre o grau de poder que empresas privadas de tecnologia, como a Meta, exercem sobre a esfera pública digital e a liberdade de imprensa em escala global. Em um contexto de crescente militarização da informação e disputas geopolíticas intensificadas, a capacidade de plataformas privadas de definir sozinhas o que pode ou não circular na internet gera preocupações crescentes entre defensores dos direitos civis, jornalistas independentes e organizações internacionais.

Especialistas em governança digital apontam que o episódio ilustra o esvaziamento progressivo de espaços informativos alternativos, especialmente os que operam fora dos circuitos editoriais das potências ocidentais. “A remoção do The Cradle das redes sociais da Meta é um golpe contra o pluralismo informativo. Estamos assistindo a uma tendência em que determinadas narrativas são suprimidas sistematicamente, enquanto outras ganham projeção automática”, disse à reportagem a pesquisadora libanesa Nayla Mansour, especialista em liberdade de expressão no mundo árabe.

Embora a Meta afirme seguir políticas claras de combate à incitação ao ódio e ao terrorismo, críticos argumentam que as diretrizes da empresa são aplicadas com forte viés político. “Quando veículos independentes são banidos por cobrir fatos com fontes locais, enquanto mídias alinhadas aos interesses de Washington e Tel Aviv continuam operando normalmente, não se trata de uma questão técnica, mas de um projeto político de exclusão informacional”, afirma o analista sírio Samer al-Khatib, colunista do Orient XXI.

Esse padrão de conduta da Meta não está isolado. Ele se insere em uma onda mais ampla de repressão digital contra conteúdos que contestam a hegemonia narrativa ocidental, especialmente no que se refere ao Oriente Médio. Plataformas como TikTok e X (antigo Twitter) também têm sido pressionadas por governos e entidades de lobby a adotar políticas mais severas contra vozes críticas às ações militares de Israel e ao apoio dado pelos EUA a esses conflitos.

Nos bastidores, existe ainda o temor de que as grandes plataformas estejam sendo cooptadas, direta ou indiretamente, por interesses estratégicos que vão além do controle da desinformação. Documentos revelados por whistleblowers e reportagens de veículos como The Intercept e Rest of World mostram que departamentos de segurança nacional em países como Estados Unidos, Reino Unido e Israel mantêm diálogo constante com empresas de tecnologia, sugerindo diretrizes de moderação, termos de busca e até algoritmos de recomendação.

“A Meta age como um ator geopolítico”, resume Hossam Bahgat, fundador da Iniciativa Egípcia pelos Direitos Pessoais (EIPR). “Ela não apenas modera conteúdo, mas molda o que o mundo vê. E isso é extremamente perigoso quando se trata de zonas de guerra ou regiões com estruturas frágeis de comunicação, como Gaza, Beirute ou Sana’a.”

Ao eliminar uma plataforma como o The Cradle, a Meta não apenas reduz o acesso a perspectivas locais — muitas vezes as únicas disponíveis em meio à destruição de infraestruturas jornalísticas — como também contribui para a consolidação de um “vazio narrativo”, que favorece discursos de poder e silencia populações inteiras.

Organizações como o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) e a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) alertam que esse tipo de censura corporativa pode ter impactos duradouros e devastadores sobre a liberdade de imprensa. “Estamos diante de um novo tipo de apagamento: não aquele promovido por governos autoritários, mas por plataformas que se apresentam como neutras enquanto seguem agendas próprias ou alheias”, afirma a diretora da FIJ para a Ásia Ocidental, Ghada Atallah.

Enquanto isso, o público segue buscando alternativas. Com o banimento da Meta, o The Cradle viu crescer significativamente seu número de seguidores em plataformas como Telegram e Rumble — redes que, até o momento, mantêm uma postura mais aberta à diversidade de vozes, mesmo diante de pressões externas. O site também intensificou a publicação de boletins por e-mail e canais RSS, formas mais diretas e difíceis de censurar de distribuição de conteúdo.

O episódio lança uma luz incômoda sobre a nova configuração da informação global. Em tempos em que poucas empresas controlam o fluxo de notícias que alcançam bilhões de pessoas, a censura já não é uma prática restrita a regimes autoritários, mas uma realidade cotidiana dentro de democracias que, paradoxalmente, dizem defender a liberdade de expressão.

Seja por ação deliberada, seja por omissão diante de pressões políticas, o resultado é o mesmo: a perda de diversidade informativa, o enfraquecimento do jornalismo independente e a transformação da internet em um campo de batalha onde apenas certas narrativas podem sobreviver. E, nesse cenário, a exclusão do The Cradle é apenas mais um sintoma de um problema muito maior — e muito mais perigoso.

Com informações de The Cradle e Agências de Notícias

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Anônimo

31/07/2025 - 13h14

Tentei muito ler a matéria, mas depois de ler tantas bizarrices tive que parar mesmo sendo algo que eu tinha vontade de ler! “Departamento de Estado americano, Congresso americano, empresa americana, território norte-americano” América é um CONTINENTE, não um país! Se tivesse estudado saberia disso! Desde 1507 esse continente que foi chamado primeiramente de Novo Mundo, pois os continentes Europa, África e Ásia juntos eram conhecidos como Velho Mundo, passou a se chamar América. Esse nome foi dado pelo cartógrafo Martin Waldseemüller em homenagem ao Américo Vespúcio, por ele ter reconhecido que o nosso continente não era a Índia. Assim sendo, todas as pessoas e coisas relativas ao nosso continente chamado América são americanos e não somente as pessoas e coisas do Estados Unidos, que só foi criado em 1776, com o nome genérico com a referência do continente no nome.

Anônimo

31/07/2025 - 13h13

Tentei muito ler a matéria, mas depois de ler tantas bizarrices tive que parar mesmo sendo algo que eu tinha vontade de ler! “Departamento de Estado americano, Congresso americano, empresa americana, território norte-americano” América é um CONTINENTE, não um país! Se tivesse estudado saberia disso! Desde 1507 esse continente que foi chamado primeiramente de Novo Mundo, pois os continentes Europa, África e Ásia juntos eram conhecidos como Velho Mundo, passou a se chamar América. Esse nome foi dado pelo cartógrafo Martin Waldseemüller em homenagem ao Américo Vespúcio, por ele ter reconhecido que o nosso continente não era a Índia. Assim sendo, todas as pessoas e coisas relativas ao nosso continente chamado América são americanos e não somente as pessoas e coisas do Estados Unidos, que só foi criado em 1776, com o nome genérico com a referência do continente no nome.


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