Pesquisa interna do PL mostra Lula em alta e expõe desgaste de Bolsonaro após crise com EUA

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia de Entregas do Governo Federal ao Vale do Jequitinhonha. Parque de Eventos de Minas Novas, Minas Novas - MG. Foto: Ricardo Stuckert / PR

Um levantamento interno encomendado pelo Partido Liberal (PL) revelou avanço do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas intenções de voto, ao mesmo tempo em que expõe a queda de apoio a Jair Bolsonaro (PL), segundo informações publicadas por Bela Megale, do jornal O Globo.

O crescimento de Lula, segundo a reportagem, é de três pontos percentuais, coincidindo com a escalada da crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos e a adoção de sanções comerciais por parte do governo de Donald Trump.

De acordo com a apuração, a repercussão negativa do aumento tarifário de 50% imposto pelos EUA a produtos brasileiros vem alterando a percepção do eleitorado. O movimento teria sido impulsionado por ações do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que permanece em território americano desde fevereiro.

Eduardo tem atuado junto a autoridades dos Estados Unidos pedindo sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), além de defender a anistia de seu pai e de aliados investigados por atos contra o Estado Democrático de Direito.

A sondagem interna do PL estaria em consonância com dados divulgados por pesquisas públicas. A mais recente rodada do instituto AtlasIntel, realizada em parceria com a agência Bloomberg, mostrou que, pela primeira vez desde 2024, a aprovação do governo Lula ultrapassou numericamente o índice de desaprovação.

Grupo de Bolsonaro enfrenta desgaste político e diplomático

O impacto das articulações internacionais de Eduardo Bolsonaro junto a parlamentares republicanos e membros do governo Trump, antes visto como uma forma de mobilização ideológica, passou a ser interpretado como elemento gerador de instabilidade econômica e política para o Brasil. Lideranças do PL estariam avaliando que a exposição do país à retaliação comercial americana fortaleceu a imagem de Lula diante do eleitorado, ao mesmo tempo em que elevou o custo político para o ex-presidente e seus aliados.

Além das tarifas, o Departamento de Comércio dos EUA iniciou investigações sobre práticas comerciais brasileiras, incluindo temas como o sistema de pagamentos instantâneos Pix e as barreiras aplicadas ao etanol americano. O efeito dessas medidas já preocupa setores do agronegócio e da indústria nacional, bases eleitorais consideradas estratégicas para o bolsonarismo.

Inelegibilidade e cenário de 2026

As dificuldades se acumulam em um momento crítico para o campo bolsonarista, que tenta articular uma estratégia para as eleições presidenciais de 2026. Jair Bolsonaro permanece inelegível após condenação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e ainda não há consenso interno sobre um nome alternativo com viabilidade eleitoral.

A pesquisa interna do PL, segundo interlocutores citados por O Globo, teria sido recebida com apreensão por integrantes da legenda. A leitura é de que, se o cenário atual se mantiver, a vantagem de Lula poderá se consolidar nos próximos meses. O partido avalia formas de mitigar o impacto da crise e reverter a tendência desfavorável, mas reconhece que o desgaste causado pela diplomacia paralela do clã Bolsonaro tem gerado desconfiança até entre setores que historicamente apoiam o ex-presidente.

Efeitos da política externa na campanha

A ofensiva internacional promovida por Eduardo Bolsonaro, vista como uma extensão da retórica adotada pelo grupo desde o fim do governo Bolsonaro, agora levanta questionamentos dentro da própria base. A percepção de que a postura confrontacional com países parceiros estratégicos — como os Estados Unidos — pode resultar em perdas econômicas reais para o país tem sido usada por adversários políticos como elemento de crítica.

Nos bastidores do Palácio do Planalto, assessores presidenciais consideram que a condução do impasse com Washington fortaleceu a imagem de Lula junto a eleitores indecisos. O presidente tem defendido que “a política externa não deve servir a interesses pessoais ou partidários”, conforme afirmou em entrevista recente ao New York Times.

Aprovação do governo em alta

A pesquisa da AtlasIntel aponta que a aprovação de Lula chegou a 50,2%, enquanto a desaprovação recuou para 49,7%. Os dados foram colhidos entre os dias 25 e 28 de julho e indicam um cenário de leve recuperação da imagem do presidente junto à opinião pública, especialmente em meio às repercussões da “Tarifa Bolsonaro”, como a medida americana vem sendo chamada por interlocutores do governo.

Enquanto o Planalto tenta contornar os efeitos econômicos das sanções com um plano de contingência e medidas de apoio a setores impactados, o grupo de Bolsonaro enfrenta dificuldades para manter sua base mobilizada diante do cenário de inelegibilidade, instabilidade econômica e isolamento diplomático.

A movimentação do PL nos próximos meses será decisiva para definir se o ex-presidente ainda terá protagonismo eleitoral em 2026, ou se a crise atual marcará uma inflexão duradoura na correlação de forças políticas no país.

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