Integrantes do Palácio do Planalto avaliam que a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos, determinada pelo presidente Donald Trump, representa um marco político com efeitos semelhantes aos eventos de 8 de janeiro de 2023. A comparação foi revelada por fontes do núcleo político do governo, ouvidas pela Coluna do Estadão.
Na visão do Executivo, a medida adotada por Washington se configura como uma agressão à soberania nacional. Assim como os ataques às sedes dos Três Poderes promovidos por extremistas bolsonaristas, o tarifaço norte-americano pode gerar uma resposta institucional unificada.
O objetivo do Planalto é aproveitar esse cenário para realinhar sua relação com o Congresso Nacional, estabelecendo uma nova base de diálogo a partir da retomada dos trabalhos legislativos.
“Mudou o astral”, afirmou um assessor próximo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, resumindo o impacto político percebido internamente. A interpretação no entorno presidencial é de que a iniciativa de Trump desmobilizou setores da extrema-direita no Brasil, que agora se veem em posição defensiva após as consequências econômicas e diplomáticas do gesto americano.
Congresso pode retomar diálogo com o Planalto após tensão recente
A avaliação é de que a recente tensão entre o governo e o Congresso, especialmente após o veto de Lula ao projeto que previa o aumento no número de deputados, tende a perder força diante do novo cenário. Interlocutores do Executivo acreditam que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), já superou o episódio e que há espaço para reconstruir o diálogo.
A estratégia do Palácio do Planalto envolve o lançamento de uma pauta conjunta com foco em duas propostas prioritárias para o segundo semestre: a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública. A equipe de articulação política do governo avalia que essas matérias podem servir como base para a retomada do entendimento com parlamentares da base e da oposição.
Governo se apoia em avanço da popularidade e efeito nas redes
O novo plano de articulação tem como suporte a recente melhora nos índices de popularidade de Lula. De acordo com pesquisa realizada pelo instituto AtlasIntel, em parceria com a agência Bloomberg, divulgada no dia 31 de julho, o presidente registrou pela primeira vez em 2025 um índice de aprovação superior ao de desaprovação.
No cálculo do Planalto, o crescimento da aprovação pública do governo tem potencial para reduzir resistências dentro do Legislativo. A percepção é de que a comunicação institucional tem alcançado maior efetividade junto à população, especialmente após episódios como a revogação do decreto sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que gerou debate no Congresso.
Apesar da derrota legislativa pontual, o governo considera que saiu fortalecido no campo da opinião pública. Nas redes sociais, a narrativa construída associou parlamentares à defesa de privilégios, enquanto o Executivo foi retratado como defensor de medidas voltadas à tributação de grupos com maior poder aquisitivo.
PT aposta em estrutura digital para consolidar discurso
O Partido dos Trabalhadores também se movimenta para reforçar a presença digital da legenda. A direção nacional do partido pretende ampliar os investimentos em comunicação online com recursos do fundo partidário. O plano é fortalecer os canais de divulgação de conteúdo em defesa do governo e consolidar a imagem do presidente Lula nas redes sociais com foco nas eleições presidenciais de 2026.
A meta inclui a formação de uma rede de apoiadores com atuação coordenada, utilizando dados analíticos, conteúdos segmentados e monitoramento em tempo real para enfrentar a oposição digital. A legenda avalia que o ambiente de redes sociais terá papel central na próxima disputa eleitoral e considera essencial consolidar uma base mobilizada e permanente.
Governo vê oportunidade de reação política diante de pressão externa
Nos bastidores, o Planalto considera que a taxação dos produtos brasileiros pelos Estados Unidos pode ser transformada em vetor de unidade política. A avaliação é de que o gesto do governo Trump abre espaço para o fortalecimento da imagem do Executivo tanto no plano interno quanto no exterior.
A equipe presidencial vê o momento como oportunidade para reposicionar o Brasil no cenário internacional, com o discurso de que medidas unilaterais como a adotada por Washington ameaçam os princípios do comércio multilateral e da diplomacia entre Estados soberanos. O tema será explorado em fóruns internacionais e por meio de articulação com aliados comerciais.
O governo também avalia que o episódio pode contribuir para neutralizar discursos de adversários políticos que buscaram se alinhar ao ex-presidente norte-americano. A expectativa é de que a imposição de tarifas seja interpretada por parte da população como consequência direta da atuação externa de lideranças da oposição.
Ambiente legislativo pode favorecer avanço da pauta econômica
Com o retorno dos trabalhos legislativos nesta semana, o Executivo aposta em um ambiente político mais favorável para avançar nas propostas prioritárias. Mesmo reconhecendo a fragmentação do Congresso, o governo acredita que o cenário de tensão externa pode levar a uma trégua institucional temporária, com apoio mais amplo às medidas de impacto econômico e social.
A combinação entre popularidade crescente, mobilização partidária e discurso nacionalista em resposta à política comercial dos EUA pode, segundo interlocutores do Planalto, permitir que o segundo semestre legislativo tenha desfechos mais previsíveis do que os meses anteriores.


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