Vice-presidente americano anuncia fim do financiamento à Ucrânia e exige que a Europa assuma o custo da guerra
Em um discurso que pode marcar uma virada na política externa dos Estados Unidos em relação ao conflito na Ucrânia, o vice-presidente J.D. Vance afirmou neste domingo (10) que Washington encerrou sua participação direta no financiamento da compra de armas para Kiev. Em entrevista à Fox News, Vance deixou claro que a responsabilidade por sustentar o esforço de guerra deve agora ser assumida pelos países europeus, especialmente os membros da OTAN.
“Terminamos com o financiamento da guerra na Ucrânia. Queremos chegar a uma solução pacífica para isso”, disse Vance, em tom direto, durante sua passagem pelo Reino Unido, onde se reuniu com autoridades europeias para discutir o futuro do conflito. “Acho que os americanos estão cansados de continuar enviando seu dinheiro, seus impostos para esse conflito em particular”, completou.
Mas o recado não foi apenas de desengajamento. Vance abriu espaço para que os europeus continuem apoiando a Ucrânia — desde que o façam com seus próprios recursos. “Se os europeus quiserem se manifestar e realmente comprar armas de produtores americanos, estamos bem com isso, mas não vamos mais financiá-los nós mesmos”, afirmou, destacando que os EUA podem se manter como fornecedores, mas não como pagadores.
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As declarações vêm à tona em um momento de intensa movimentação diplomática, com uma cúpula de alto nível marcada para sexta-feira no Alasca entre o presidente Donald Trump e o líder russo Vladimir Putin. O encontro, inédito em sua natureza, tem como pauta central a negociação de um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia — um compromisso que Trump assumiu durante sua campanha eleitoral, prometendo acabar com o conflito “em 24 horas”.
Segundo fontes próximas à Casa Branca, o acordo em discussão pode envolver “alguma troca de territórios para o benefício de ambos os lados”, como o presidente Trump já antecipou publicamente. O Kremlin, por sua vez, teria apresentado uma proposta concreta à administração americana, na qual propõe o controle russo sobre as regiões do leste ucraniano em troca da interrupção das hostilidades.
A proposta, no entanto, foi imediatamente rejeitada pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Em um vídeo publicado no X (antigo Twitter), ele foi enfático: “A Ucrânia está pronta para decisões reais que possam trazer a paz. Qualquer decisão contra nós, qualquer decisão sem a Ucrânia, é ao mesmo tempo uma decisão contra a paz.” A ausência de Zelensky na reunião do Alasca — já confirmada pela não convocação por parte de Putin — tem gerado desconforto em Kiev e preocupação entre aliados europeus.
Apesar disso, a Casa Branca e o embaixador dos EUA na OTAN, Matthew Whitaker, deixaram em aberto a possibilidade de uma futura reunião tripartite envolvendo Trump, Putin e Zelensky, embora sem data ou local definidos.
Enquanto isso, a Europa assiste com atenção e apreensão ao novo rumo da política americana. Líderes europeus já emitiram um alerta coletivo no domingo: qualquer acordo negociado entre EUA e Rússia “deve proteger os interesses vitais de segurança da Ucrânia e da Europa”. Para muitos, a ideia de uma solução imposta de fora, sem a presença direta de Kiev, soa como uma ameaça à soberania ucraniana e ao equilíbrio de poder no continente.
Vance, durante sua visita ao Reino Unido, reforçou a posição americana com uma mensagem clara aos aliados europeus: “O que dissemos aos europeus é simplesmente, antes de tudo, que isso está na sua região, na sua porta dos fundos, vocês precisam se esforçar e assumir um papel maior nisso.” Ele acrescentou: “[E] se você se importa tanto com esse conflito, você deveria estar disposto a desempenhar um papel mais direto e substancial no financiamento dessa guerra.”
A mudança de postura dos EUA não surgiu do nada. Desde junho, o governo Trump vem pressionando os países da OTAN a aumentar seus gastos militares para 5% do PIB — um salto significativo em relação aos 2% historicamente recomendados. Em julho, o presidente selou um novo acordo: os EUA enviariam armas avançadas à Ucrânia, mas elas seriam compradas diretamente por nações europeias, que assumiriam os custos. Um modelo que, na prática, transforma os EUA em fornecedor, não em financiador.
Agora, com o fim explícito do financiamento direto, a pergunta que paira no ar é: será que a Europa está pronta para carregar esse fardo sozinha? Até onde estão dispostos a ir os europeus para manter a Ucrânia armada e resistente, especialmente diante de um possível acordo de paz negociado entre Trump e Putin — um acordo que pode não contemplar os desejos de Kiev?
A reunião no Alasca, marcada para acontecer em um cenário de gelo e isolamento geográfico, pode simbolizar muito mais do que uma conversa entre dois líderes. Pode representar o momento em que o Ocidente se divide — entre quem quer paz a qualquer custo e quem insiste que a paz sem justiça é apenas rendição disfarçada. E enquanto isso, a Ucrânia, no centro do furacão, observa os bastidores do poder, lembrando ao mundo: “Paz sem nós não é paz.”


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