Menu

Índia desafia EUA em boicote às marcas americanas

Executivos, influenciadores e políticos unem-se em um apelo para transformar o “Made in India” em símbolo global de força e identidade Enquanto filas se formavam do lado de fora da mais nova loja da Apple em Mumbai e adolescentes discutiam os sabores do último lançamento do McDonald’s em Nova Délhi, um novo sentimento começou a […]

1 comentário
Apoie o Cafezinho
Siga-nos no Siga-nos no Google News
Enquanto filas lotam lojas como Apple e McDonald’s, cresce a pressão por um boicote que defenda a indústria e o empreendedorismo indiano.
O anúncio de tarifas por Trump acendeu debates na Índia, onde o orgulho nacional impulsiona o consumo de produtos locais em reação ao embate econômico / Reprodução

Executivos, influenciadores e políticos unem-se em um apelo para transformar o “Made in India” em símbolo global de força e identidade


Enquanto filas se formavam do lado de fora da mais nova loja da Apple em Mumbai e adolescentes discutiam os sabores do último lançamento do McDonald’s em Nova Délhi, um novo sentimento começou a tomar conta das redes sociais e das conversas de café: o de que o amor pelas marcas americanas pode estar entrando em xeque. Tudo por conta de uma decisão de Donald Trump do outro lado do mundo — a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos indianos importados pelos Estados Unidos — que acendeu uma chama de indignação nacional e reacendeu o debate sobre dependência econômica e orgulho local.

A Índia, hoje o país mais populoso do mundo, tornou-se um dos mercados mais cobiçados pelas grandes corporações americanas. De gigantes como Amazon e Apple a marcas do dia a dia como Coca-Cola, Pepsi e Starbucks, o apelo desses nomes transcende o produto: eles são vistos por muitos como símbolos de status, modernidade e sucesso. A base de consumidores de classe média alta cresce a passos largos, e com ela, o desejo por produtos internacionais. O WhatsApp, da Meta, por exemplo, tem mais usuários na Índia do que em qualquer outro país. A Domino’s opera mais pontos de venda no país do que em qualquer outro lugar do planeta. E lançamentos de tecnologia da Apple ainda provocam aglomerações dignas de evento pop.

Leia também:
Israel admite que matou jornalistas da Al Jazeera deliberadamente
EUA largam o cofre e deixam guerra à Europa
Trump ameaça China para sufocar petróleo russo

Mas, nos últimos dias, esse entusiasmo começou a esfriar — ou, pelo menos, a ser questionado. Após Trump anunciar tarifas pesadas sobre exportações indianas, uma onda de reações começou a surgir, especialmente entre executivos indianos, apoiadores do governo e usuários de redes sociais. O recado é claro: é hora de repensar o consumo e priorizar o que é feito no próprio país.

Apesar de ainda não haver sinais concretos de queda nas vendas, o clima está mudando. Nas plataformas digitais, hashtags como #BoycottAmericanProducts e #BuyIndian ganharam força. Comerciantes de pequeno porte, empreendedores e até grandes CEOs indianos começaram a usar suas vozes para defender o “Made in India” não apenas como uma alternativa, mas como um movimento de resistência econômica.

Manish Chowdhary, cofundador da Wow Skin Science, uma empresa de cosméticos naturalmente inspirada na medicina ayurvédica, publicou um vídeo emocionado no LinkedIn que rapidamente viralizou. Nele, faz um apelo quase poético ao orgulho nacional: “Fizemos fila para comprar produtos vindos de milhares de quilômetros de distância. Gastamos orgulhosamente em marcas que não são nossas, enquanto nossos próprios fabricantes lutam por atenção em seu próprio país.” Ele pede apoio aos agricultores, às startups e à indústria local, citando o exemplo da Coreia do Sul, onde produtos de beleza, alimentos e tecnologia conquistaram o mundo com identidade própria. “Precisamos transformar o ‘Made in India’ em uma obsessão global”, disse.

A crítica não se limita ao setor de consumo. Rahm Shastry, CEO da DriveU — um aplicativo indiano de motoristas sob demanda, similar ao Uber —, foi além. Em uma postagem no LinkedIn, afirmou: “A Índia deveria ter seu próprio Twitter/Google/YouTube/WhatsApp/FB, como a China tem.” A frase toca em um nervo exposto: a dependência digital do país em relação a plataformas estrangeiras, mesmo com um setor de tecnologia local forte e maduro.

Empresas de serviços de TI indianas, como TCS e Infosys, há décadas são peças-chave na economia global, fornecendo soluções de software para clientes nos EUA, Europa e além. No entanto, quando o assunto é mercado interno, o domínio de gigantes americanos ainda é inegável — especialmente no varejo e na tecnologia do cotidiano.

Foi nesse contexto que o primeiro-ministro Narendra Modi entrou em cena no domingo, durante um evento em Bengaluru, o coração tecnológico da Índia. Sem citar nomes ou empresas diretamente, Modi fez um “apelo especial” pela autossuficiência. “Nossas empresas de tecnologia já fabricam produtos para o mundo inteiro”, disse. “Mas agora é o momento de darmos mais prioridade às necessidades da Índia.” As palavras, embora cuidadosamente diplomáticas, foram interpretadas como um sinal claro de que o governo está alinhado com o crescente movimento de valorização nacional.

Enquanto isso, as grandes marcas americanas seguem em silêncio. Até o momento, McDonald’s, Coca-Cola, Amazon e Apple não responderam aos pedidos de comentário da Reuters sobre a crescente pressão no mercado indiano. Mas o silêncio pode não ser uma opção por muito tempo.

O que se vê hoje na Índia não é apenas uma reação passageira a uma política comercial externa. É um momento de reflexão coletiva — sobre identidade, soberania econômica e o papel do consumidor no jogo global. A pergunta que fica no ar é: será que o encanto pelas marcas americanas pode, de fato, se desfazer diante de um sentimento de orgulho nacional? Ou será que o hábito de consumo, moldado por décadas de globalização, é mais forte do que qualquer campanha de boicote?

O que parece certo é que, desta vez, o campo de batalha não é apenas diplomático — é também cultural, emocional e, acima de tudo, comercial. E enquanto os indianos decidem o que comprar, o mundo observa: será que o “Made in India” está prestes a virar um movimento global?

Enquanto protestos crescem, Tesla inaugura novo showroom na Índia em meio a tensão comercial com os EUA

Enquanto manifestações contra marcas americanas se espalham por cidades indianas e grupos nacionalistas intensificam o chamado ao boicote, um novo capítulo se desenha no cenário econômico do país: a Tesla, em gesto ousado e simbólico, inaugurou na segunda-feira (11) seu segundo showroom na Índia, em pleno coração de Nova Délhi. O evento, marcado pela presença de autoridades do Ministério do Comércio indiano e representantes da embaixada dos Estados Unidos, foi um contraponto visível ao clima de tensão que tomou conta do país após as novas tarifas impostas por Donald Trump sobre produtos indianos.

A inauguração da loja da montadora elétrica, com suas paredes de vidro e design futurista, aconteceu enquanto pequenos comícios organizados pelo grupo Swadeshi Jagran Manch — ligado ao Partido Bharatiya Janata (BJP), do primeiro-ministro Narendra Modi — se espalhavam por diferentes regiões do país no domingo. Os manifestantes, com cartazes e bandeiras tricolores, pediam que os indianos se voltassem para produtos nacionais e rejeitassem marcas estrangeiras, especialmente as dos Estados Unidos.

“Esse é um apelo ao nacionalismo e ao patriotismo”, afirmou Ashwani Mahajan, um dos principais representantes do grupo, em entrevista à Reuters. Ele reconheceu que a mudança de hábito levará tempo, mas insistiu: “As pessoas agora estão olhando para os produtos indianos. Levará algum tempo para frutificar, mas a consciência está crescendo.”

Para impulsionar esse movimento, o grupo tem disseminado uma tabela por meio do WhatsApp — uma ferramenta usada por centenas de milhões de indianos — listando alternativas nacionais a produtos estrangeiros. Sabonetes, pastas de dente, refrigerantes e bebidas energéticas de origem indiana são apresentados lado a lado com seus concorrentes americanos, como Colgate, Pepsi e Dove, em uma tentativa de guiar o consumidor rumo ao que chamam de “autonomia econômica”.

Nas redes sociais, a campanha ganhou força com gráficos compartilháveis e mensagens diretas. Um dos mais compartilhados traz o título “Boicote redes de alimentação estrangeiras”, acompanhado de logotipos de McDonald’s, KFC, Domino’s e outras cadeias globais. A intenção é clara: desafiar o apelo dessas marcas, que, por décadas, se tornaram parte da rotina urbana da classe média indiana.

Mas, como muitas vezes acontece em países de dimensão continental como a Índia, a realidade nas ruas nem sempre segue o ritmo das campanhas online. Em Lucknow, capital do estado de Uttar Pradesh, Rajat Gupta, 37 anos, sentou-se tranquilamente em um dos bancos de madeira do McDonald’s na segunda-feira para saborear seu café de 49 rúpias (cerca de R$ 3,03). Ao lado, um McPuff ainda fumegava. Para ele, a política comercial entre Washington e Nova Délhi não deveria interferir em escolhas tão simples do dia a dia.

“As tarifas são uma questão de diplomacia, e meu McPuff e meu café não devem ser arrastados para isso”, disse, com um sorriso. “Eu entendo o sentimento patriótico, mas também acho justo escolher o que é bom, barato e acessível. Isso aqui tem tudo a ver com custo-benefício, não com geopolítica.”

A cena é emblemática de um país em transição — onde o orgulho nacional convive com a conveniência global, onde o discurso do “compre o que é seu” enfrenta a realidade de uma geração que cresceu com iPhones, Netflix e batatas fritas do McDonald’s como parte da cultura urbana.

A presença da Tesla na inauguração, cercada por autoridades indianas e diplomatas americanos, pareceu um gesto de resistência silenciosa. Enquanto alguns pedem o fechamento de portas, a montadora elétrica escolheu abrir uma nova. O showroom em Nova Délhi não vende carros ainda — a entrada oficial da Tesla no mercado indiano ainda está em negociação —, mas serve como vitrine de um futuro possível, onde inovação e parcerias internacionais ainda têm espaço, mesmo em tempos de crescente nacionalismo econômico.

Com informações de CNN*

, , , ,
Apoie o Cafezinho
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Comentários

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site O CAFEZINHO. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Escrever comentário

Escreva seu comentário

José

11/08/2025 - 15h46

Falta esse sentimento ao Brasil, falta deixarmos de ser vira-latas dos EUA e começarmos a valorizar mais nossa Pátria.
Onde estão “os governantes do Brasil” que ainda não fizeram isso.
Despertar o orgulho o Patriotismo Brasileiro.


Leia mais

Recentes

Recentes