Mensagens, anotações e documentos extraídos do celular do coronel da reserva do Exército Flávio Peregrino, assessor do general Walter Braga Netto, revelam bastidores inéditos das articulações golpistas posteriores à derrota de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. O material, apreendido pela Polícia Federal em dezembro do ano passado durante operação que também prendeu Braga Netto, foi obtido pelo O Estado de S. Paulo e reforça acusações que serão levadas a julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo as anotações, Bolsonaro “sempre quis” se manter no governo mesmo após a derrota nas urnas. Peregrino registrou que militares tentaram ajudá-lo a alcançar esse objetivo, contrariando a versão pública do ex-presidente de que teria resistido a pressões por um golpe.
Críticas à defesa e disputa de narrativas
O coronel criticou a estratégia adotada pela defesa de Bolsonaro, que buscava atribuir exclusivamente aos militares a responsabilidade pelas articulações para contestar o resultado eleitoral. Em uma das mensagens, Peregrino classificou a postura como “oportunismo”, afirmando que o objetivo era “livrar a cabeça do B [Bolsonaro]” e que isso colocava “o projeto político dele acima das amizades e da lealdade” de figuras como o general Augusto Heleno.
As anotações indicam que, de acordo com relatos de indiciados, advogados e militares envolvidos, as medidas discutidas incluíam a decretação de Estado de Defesa, Estado de Sítio, emprego de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e uso do artigo 142 da Constituição. Essas ações eram justificadas internamente por supostas suspeitas de parcialidade no processo eleitoral e desconfiança nas urnas eletrônicas. “Tudo isso para achar uma solução e ajudar o Pres B [presidente Bolsonaro] a se manter no governo (pois SEMPRE foi a INTENÇÃO dele)”, escreveu Peregrino.
Incômodo com afastamento e autocrítica
O material revela também a insatisfação de Peregrino com a tentativa de Bolsonaro de se distanciar das ações e transferir a culpa aos militares que o assessoravam no Palácio do Planalto. “Deixar colocarem a culpa nos militares que circundavam o poder no Planalto é uma falta total de gratidão do B [Bolsonaro] àqueles poucos, civis e militares, que não traíram ou abandonaram o Pres. B [Bolsonaro] após os resultados do 2º turno das eleições”, registrou.
Em um tom de mea culpa, o coronel admitiu que “erraram todos” ao não promoverem a desmobilização dos acampamentos instalados em frente a quartéis e por não convencerem Bolsonaro a desistir de permanecer no poder.
As anotações devem reforçar as investigações sobre o envolvimento do ex-presidente em uma suposta trama para subverter o resultado eleitoral de 2022, ampliando o acervo probatório que será analisado pelo STF.


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