Defesa de Bolsonaro questiona provas no STF, ataca delação de Mauro Cid e tenta minimizar acusações de golpe

O presidente Jair Bolsonaro. Foto: Isac Nóbrega/PR

A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um documento em que questiona provas, contesta depoimentos e tenta minimizar as acusações relacionadas à tentativa de golpe de Estado e a atos antidemocráticos. O texto, repleto de citações, alterna entre a negação de fatos e a justificativa de condutas amplamente condenadas por instituições e pela sociedade.

Os advogados alegam cerceamento de defesa, afirmando que não tiveram acesso integral ao conjunto probatório, embora tenham recebido cerca de 70 terabytes de dados, ainda que de forma tardia.

Outro ponto central do documento é a tentativa de descredibilizar a delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens, sob o argumento de que o militar teria deposto sob coação. No entanto, mensagens obtidas pela própria defesa mostram Cid admitindo omissões e manipulações nos relatos, o que levanta questionamentos sobre a utilização seletiva de seu testemunho.

O texto também apresenta a transição presidencial pacífica como prova da inocência de Bolsonaro, ignorando ataques reiterados às urnas eletrônicas, a reunião ministerial em que cogitou medidas de intervenção e as tentativa de golpe do dia 8 de janeiro.

Sobre os atos desse dia, a defesa sustenta que o ex-presidente não teve relação com os ataques, citando a ausência de provas formais de liderança, embora vídeos mostrem manifestantes agindo em seu nome e mencionando-o durante a invasão. Bolsonaro, na ocasião, permaneceu em silêncio, rompendo-o apenas dias antes, com uma declaração genérica que não fazia referência direta ao episódio.

O documento reflete uma tentativa de reescrever os acontecimentos, alinhada à estratégia de vitimização política característica do bolsonarismo. Enquanto os advogados falam em “perseguição”, as investigações apontam para um projeto de ruptura institucional que encontrou resistência inclusive dentro das Forças Armadas. Como cita o próprio texto, “o devido processo legal vale para todos. Todo acusado tem o direito a ampla defesa”. O que permanece incerto é se essa narrativa será suficiente para afastar as acusações mais graves contra o ex-presidente.

Lucas Allabi: Jornalista em formação pela PUC-SP e apaixonado pelo Sul Global. Escreve principalmente sobre política e economia. Instagram: @lu.allab
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