Redução na inflação e aumento do poder de compra explicam melhora na avaliação do governo mesmo diante de desafios econômicos
A percepção da população sobre a alta dos preços dos alimentos apresentou uma queda significativa nos últimos meses, refletindo alívio econômico e contribuindo para a melhora na avaliação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo a pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira (20), a parcela da população que percebe aumento nos preços dos alimentos recuou de 76% em julho para 60% em agosto, uma redução de 16 pontos percentuais.
A pesquisa, que ouviu presencialmente 12.150 pessoas entre os dias 13 e 17 de agosto, tem margem de erro de dois pontos percentuais.
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Alívio inflacionário e melhora no poder de compra
O recuo na percepção da inflação ocorre pelo segundo mês consecutivo e segue um movimento de alívio inflacionário que vem sendo registrado ao longo do ano. Em março, por exemplo, o índice de percepção de alta nos alimentos atingiu 88%. Esse comportamento acompanha os dados oficiais do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que indicou deflação de 0,27% no grupo de alimentos e bebidas em julho, segundo o IBGE. Produtos como o café moído, que registraram 18 meses consecutivos de aumento, tiveram queda de 1,01%, contribuindo para essa melhora.
O impacto do recuo nos preços também se reflete no poder de compra da população. Segundo o levantamento, 70% dos brasileiros consideram que seu salário rende menos do que há um ano, contra 80% em julho. Por outro lado, aqueles que sentem que conseguem comprar mais produtos subiram de 11% para 16%.
Expectativas econômicas e avaliação do governo
A percepção positiva sobre a economia também se estende às expectativas para os próximos 12 meses. A proporção de brasileiros que acreditam que a situação econômica vai melhorar subiu de 35% em julho para 40% em agosto, enquanto os que temem piora caíram de 43% para 40%.
O CEO da Quaest, Felipe Nunes, aponta que esses dados ajudam a explicar o aumento na aprovação do presidente Lula, que passou de 43% para 46%. A desaprovação, por sua vez, recuou de 53% para 51%. Segundo ele, “a percepção do comportamento do preço dos alimentos trouxe alívio às famílias e reduziu a pressão sobre o custo de vida. Ao mesmo tempo, a postura do presidente diante do tarifaço imposto pelos Estados Unidos foi vista como sinal de liderança e defesa dos interesses nacionais”.
Conexão com o tarifaço dos EUA
O levantamento reforça que a reação do governo brasileiro frente às tarifas de 50% impostas pelo presidente norte-americano Donald Trump teve impacto direto na avaliação do presidente. Para Nunes, a combinação de menor pressão inflacionária e a imagem de um líder que reage a desafios externos contribui para o avanço da aprovação de Lula neste momento.
Em síntese, a pesquisa Quaest evidencia que o alívio nos preços, a melhoria do poder de compra e a percepção de firmeza do governo diante de crises internacionais ajudaram a consolidar um ambiente mais favorável à imagem do presidente, mesmo que desafios econômicos e sociais ainda estejam presentes no cotidiano da população.
Outro fator destacado por Felipe Nunes é a postura do governo diante do tarifaço de 50% aplicado pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, em vigor desde 1º de agosto. De acordo com a pesquisa, 49% dos entrevistados consideram que Lula age em defesa dos interesses do Brasil na crise com o governo de Donald Trump, enquanto 41% avaliam que o presidente estaria apenas buscando autopromoção.
Além disso, o levantamento aponta que 48% dos entrevistados acreditam que Lula e o PT adotaram a melhor postura frente às tarifas, em contraste com 28% que atribuem a posição mais adequada a Jair Bolsonaro e seus aliados. Esses dados indicam que a combinação entre a redução da percepção de inflação e a atuação do governo na esfera internacional contribuiu de maneira significativa para o aumento da aprovação presidencial registrado nos últimos meses.