Tarifaço dos EUA e comida mais barata faz aprovação de Lula disparar

O recuo nos preços dos alimentos e a reação ao tarifaço de Trump abriram espaço para a segunda alta consecutiva na aprovação de Lula, aponta pesquisa / Reprodução

A firmeza diante das tarifas impostas por Trump foi vista como sinal de liderança, reforçando a imagem de Lula em meio à instabilidade.


A nova rodada da pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira (20/8), mostrou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) registrou sua segunda alta consecutiva na taxa de aprovação. O índice subiu para 46%, contra 43% em julho. Apesar da melhora, a desaprovação segue numericamente maior: 51% disseram não aprovar a gestão do petista, embora esse percentual tenha recuado em relação aos 53% do mês passado e aos 57% verificados em maio.

De acordo com o cientista político Felipe Nunes, CEO da Quaest, dois fatores principais ajudam a explicar essa reação positiva: a queda recente da inflação, sobretudo nos alimentos, e a resposta firme do governo brasileiro ao tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Você aprova ou desaprova o trabalho que o presidente Lula está fazendo? / Pesquisa Genial/Quaest
Como você avalia o trabalho que o presidente Lula está fazendo? / Pesquisa Genial/Quaest

Segundo ele, “a percepção do comportamento do preço dos alimentos trouxe alívio às famílias e reduziu a pressão sobre o custo de vida. Ao mesmo tempo, a postura firme de Lula diante do tarifaço imposto por Donald Trump foi vista como sinal de liderança e defesa dos interesses nacionais. Menos pressão inflacionária somada à imagem de um presidente que reage a desafios externos ajudam a explicar o avanço de sua aprovação neste momento”.

Menos pressão no bolso das famílias

Os números reforçam a análise do pesquisador. Em julho, 76% dos entrevistados diziam sentir aumento no preço da comida. Agora, essa percepção caiu para 60%. Outros 20% afirmaram que os preços permaneceram estáveis, e 18% chegaram a perceber queda — percentual expressivamente maior do que os 8% do mês anterior.

Esse alívio no custo da alimentação impactou diretamente a sensação de poder de compra: a fatia dos brasileiros que acreditam estar comprando menos do que há um ano recuou de 80% para 70%. Já em relação ao futuro próximo da economia, o cenário, antes majoritariamente pessimista, ficou dividido: 40% acreditam que vai melhorar e outros 40% acham que a situação deve piorar.

Tarifaço e a imagem de Lula frente à crise

O levantamento também avaliou como a população percebeu a atuação de diferentes lideranças políticas diante do tarifaço de Trump contra o Brasil. Lula, apesar de críticas, foi o que mais se beneficiou na comparação.

Para 46% dos entrevistados, o presidente agiu mal em relação às tarifas, mas 44% consideraram sua conduta positiva. Outros 10% não souberam responder ou preferiram não opinar.

Já os números foram mais duros para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Questionados sobre a atuação deles diante das medidas dos EUA, 55% avaliaram que os dois tiveram uma postura ruim, contra apenas 24% que aprovaram suas reações. Outros 21% ficaram sem opinião definida.

Embora Lula ainda enfrente uma taxa de desaprovação acima da aprovação, os dados da Quaest sugerem que a percepção da população pode estar mudando em meio à melhora dos indicadores de inflação e à atuação do governo em temas de política internacional. A tendência de queda na rejeição, somada ao crescimento de três pontos percentuais na aprovação, indica que o presidente conseguiu recuperar parte da confiança perdida nos últimos meses.

Tarifaço e família Bolsonaro

As tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros começaram em abril deste ano, durante o governo de Donald Trump, e em agosto sofreram um aumento expressivo, chegando a 50%. Apesar da ampliação, quase 700 itens nacionais ficaram de fora da medida.

Nesse cenário, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, ganhou destaque. Ele está nos EUA desde fevereiro, onde tem mantido encontros com autoridades locais. Segundo ele, o objetivo é denunciar supostas violações de direitos fundamentais no Brasil, especialmente contra seu pai.

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No entanto, a percepção da opinião pública vai em outra direção. De acordo com a pesquisa Quaest, 69% dos entrevistados acreditam que Eduardo defende interesses pessoais e familiares em suas articulações no país norte-americano. Apenas 23% consideram que sua atuação se volta de fato para os interesses do Brasil.

A movimentação do deputado também entrou no radar das instituições brasileiras. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a abertura de um inquérito para investigar a conduta de Eduardo, sob a suspeita de que ele tenha atuado para pressionar o governo norte-americano a impor sanções contra autoridades brasileiras. Para o Planalto, essa postura estaria dificultando as negociações do Brasil em relação ao tarifaço.

O levantamento da Quaest foi realizado entre os dias 13 e 17 de agosto em oito estados: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul e Pernambuco. Ao todo, foram feitas 12.150 entrevistas presenciais. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.

Com os resultados, o cenário revela um momento de alívio para o governo Lula, que ainda enfrenta forte rejeição, mas começa a colher frutos de uma inflação mais controlada e de uma imagem fortalecida diante de desafios externos. Ao mesmo tempo, a pesquisa expõe o desgaste da família Bolsonaro em relação ao tema do tarifaço, reforçando uma percepção majoritária de que suas ações não estão alinhadas aos interesses do país.

Com informações de Metrópoles*

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