À medida que se aproxima o julgamento da chamada “trama golpista” no Supremo Tribunal Federal (STF), marcado para 2 de setembro, o Centrão intensifica suas articulações em Brasília para preservar influência política e evitar associação direta com o desgaste do ex-presidente Jair Bolsonaro. Embora parte da base desses partidos ainda dependa do apoio do eleitorado bolsonarista, líderes do PP, Republicanos e até mesmo do PL ensaiam movimentos de distanciamento, calculando os efeitos de uma eventual condenação sobre o cenário eleitoral de 2026.
Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados e um dos principais articuladores do Centrão, tem adotado postura cuidadosa. Embora tenha sido aliado estratégico de Bolsonaro no Congresso, Lira agora prefere se concentrar na condução de pautas de interesse da Casa e nas negociações com o governo Lula para liberação de emendas e cargos. O silêncio calculado em relação ao processo contra o ex-presidente é visto como uma forma de preservar capital político para a sucessão na Câmara e manter-se como peça-chave em qualquer governo.
No Republicanos, lideranças como o deputado Marcos Pereira (SP), presidente nacional do partido, também trabalham para reduzir a dependência do bolsonarismo. Pereira tem dado sinais de que pretende reposicionar o Republicanos como força conservadora, mas pragmática, capaz de dialogar com diferentes espectros do poder. Essa movimentação reflete o receio de que o partido seja engolido pela crise de imagem que se aprofunda em torno de Bolsonaro.
Já no PL, partido de Bolsonaro, a situação é mais delicada. O presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, insiste em manter o ex-presidente como figura central, mas, nos bastidores, parlamentares do partido avaliam a necessidade de preparar nomes alternativos para disputar espaços em 2026. Deputados federais como Altineu Côrtes (PL-RJ), líder do partido na Câmara, e senadores como Rogério Marinho (PL-RN) e Carlos Portinho (PL-RJ) têm procurado manter distância das polêmicas pessoais de Bolsonaro, concentrando a atuação em temas econômicos e no discurso de oposição ao governo federal.
O pragmatismo também aparece no PP, que além de Lira, abriga figuras como Ciro Nogueira (PI), ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro. Embora publicamente ainda defenda o ex-presidente, Nogueira tem intensificado conversas com lideranças de diferentes blocos, preservando sua posição de articulador influente em Brasília. Esse duplo movimento traduz o estilo do Centrão: lealdade até certo ponto, mas sempre com a porta aberta para novas alianças.
Caso Bolsonaro seja condenado, a tendência é que o Centrão avance em direção a uma reorganização do campo conservador, apostando em nomes com menor desgaste, capazes de herdar parte do eleitorado de direita sem carregar o peso das acusações de golpe. Nesse contexto, a lealdade ao ex-presidente, antes considerada ativo eleitoral, já começa a se transformar em passivo político para os caciques do Congresso.