A reportagem da Bloomberg reconhece a capacidade do país em enfrentar adversidades sem abrir mão de soberania e escolhas próprias
A economia brasileira voltou a ser pauta internacional e, desta vez, em tom positivo. De acordo com reportagem divulgada pela agência americana Bloomberg, o Brasil mostra sinais consistentes de resiliência mesmo diante de um cenário de juros altos, inflação acima da meta e turbulências externas como a guerra comercial imposta pelo governo de Donald Trump.
Segundo dados oficiais divulgados nesta terça-feira, a inflação anual desacelerou no início de agosto, puxada pela queda nos preços de alimentos e transportes. No acumulado de 12 meses, o índice registrou alta de 4,95%, abaixo da previsão anterior de 5,3% e ligeiramente acima da mediana estimada por analistas consultados pela própria Bloomberg, de 4,89%. Na comparação mensal, houve recuo de 0,14%, a primeira queda desde 2023.
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Embora a desaceleração ofereça algum alívio ao bolso do consumidor, o Banco Central segue firme na decisão de manter a taxa básica de juros, a Selic, em 15% – o maior patamar em quase vinte anos. A medida busca assegurar o controle da inflação, que, apesar da queda recente, ainda está distante da meta oficial de 3%.
Outro fator que contribuiu para aliviar pressões inflacionárias foi o fortalecimento do real frente ao dólar. A valorização da moeda brasileira reduziu parte do custo de produtos importados, ainda que o comércio varejista tenha registrado retração.
No campo político e internacional, o Brasil enfrenta o peso das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos nacionais. Ainda assim, a postura firme do governo em defesa da soberania e da produção interna tem repercutido positivamente. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que havia sofrido críticas no início do ano devido ao aumento nos preços de itens básicos como carne e café, conseguiu recuperar apoio popular ao mobilizar o país contra as barreiras comerciais de Washington.
Apesar do ambiente global desafiador e da cautela dos investidores, a Bloomberg reconhece que a maior economia da América Latina continua demonstrando vitalidade. O cenário de inflação em queda, somado à política monetária rígida e à valorização do real, reforça a capacidade do Brasil de enfrentar adversidades externas sem abrir mão de suas próprias decisões econômicas.
A mensagem que fica é clara: mesmo sob pressões internacionais, o Brasil segue em crescimento, preservando sua soberania e mostrando ao mundo que é capaz de construir seus próprios caminhos de estabilidade.
Mercado financeiro reduz previsão de inflação
O mercado financeiro voltou a revisar para baixo a expectativa de inflação no Brasil. De acordo com o Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (25) pelo Banco Central, a projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passou de 4,95% para 4,86% em 2025. Esta é a décima terceira queda consecutiva nas estimativas do mercado, sinalizando uma confiança crescente de que a inflação está sob maior controle.
Apesar da revisão, o número ainda ultrapassa o limite estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). A meta de inflação é de 3% ao ano, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo — o que significa que o teto permitido é de 4,5%.
Cenário recente da inflação
Os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em julho, a inflação oficial ficou em 0,26%, influenciada principalmente pela alta da energia elétrica. Por outro lado, os preços dos alimentos tiveram queda pelo segundo mês consecutivo, o que ajudou a aliviar a pressão sobre o índice.
No acumulado de 12 meses, o IPCA ainda está acima do esperado, chegando a 5,23%, o que reforça o desafio do Banco Central em trazer a inflação para dentro da meta estabelecida.
As projeções de médio e longo prazo também foram ajustadas: para 2026, a inflação esperada caiu de 4,4% para 4,33%; para 2027, ficou em 3,97%; e para 2028, em 3,8%.
Política de juros e perspectivas
Para segurar a inflação, o Banco Central mantém a taxa Selic em 15% ao ano, patamar mais alto em quase duas décadas. O Comitê de Política Monetária (Copom) interrompeu, na última reunião, o ciclo de altas consecutivas da Selic após sete aumentos seguidos. A decisão foi influenciada pelo recuo gradual da inflação e pelo início de desaceleração da economia.
Em comunicado, o Copom ressaltou que a política comercial dos Estados Unidos tem gerado incertezas adicionais sobre os preços no mercado internacional. Embora tenha sinalizado a manutenção da taxa de juros no curto prazo, não descartou a possibilidade de novos aumentos, caso a inflação volte a se descolar das metas.
As previsões do mercado indicam que a Selic deve encerrar 2025 ainda em 15%, caindo gradualmente para 12,5% em 2026, 10,5% em 2027 e 10% em 2028.
Taxas elevadas têm impacto direto no consumo e no crédito. De um lado, encarecem os financiamentos e estimulam a poupança, ajudando a conter a inflação. Por outro, podem frear a atividade econômica, dificultando a expansão da produção e do emprego.
PIB e atividade econômica
No campo do crescimento, a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) foi levemente revisada, de 2,21% para 2,18% em 2025. Para os próximos anos, a expectativa é de crescimento mais modesto: 1,86% em 2026, 1,87% em 2027 e 2% em 2028.
Os resultados recentes, no entanto, mostram que a economia brasileira vem resistindo. No primeiro trimestre, puxada principalmente pela agropecuária, o PIB avançou 1,4%. Já em 2024, o país registrou crescimento de 3,4%, consolidando o quarto ano seguido de expansão — a maior sequência desde 2021, quando o avanço foi de 4,8%.
Moeda americana
Em relação ao câmbio, as projeções do mercado indicam que o dólar deve encerrar 2025 em torno de R$ 5,59. Para 2026, a expectativa é de leve alta, com a moeda norte-americana cotada a R$ 5,64.
Resiliência em meio aos desafios
Os números revelam um país que, mesmo diante de incertezas externas e da necessidade de manter juros elevados, segue em trajetória de crescimento. A combinação entre inflação em queda gradual, crescimento sustentado e fortalecimento de setores como a agropecuária indica que o Brasil preserva sua capacidade de enfrentar turbulências globais sem perder de vista seus objetivos de desenvolvimento.
Com informações de Bloomberg e Agências de Notícias*