A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), convocou na manhã desta segunda-feira (8), no Palácio do Planalto, uma reunião com ministros de partidos do Centrão. O encontro teve como objetivo alinhar estratégias para conter o avanço de um projeto de lei que prevê anistia a envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro. A iniciativa, que ganhou força nas últimas semanas dentro da Câmara dos Deputados, tem potencial para beneficiar diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), anulando possíveis condenações relacionadas ao episódio.
Foram chamados ministros de MDB, PP, União Brasil, PSD e Republicanos, além de integrantes de partidos da base histórica do governo, como PT, PSB e PDT. A ideia do Planalto é pressionar esses auxiliares – muitos deles parlamentares licenciados – a atuarem nas suas bancadas, reduzindo a coesão em torno da proposta. O temor é que, caso o apoio se consolide, a votação seja inevitavelmente pautada pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
O ambiente no Congresso, no entanto, está longe de ser unânime. No PSD, há divisão explícita entre parlamentares a favor e contra a anistia. Já no MDB, a direção nacional mostra resistência, mas alas regionais, sobretudo no Sul e no Centro-Oeste, demonstram simpatia pela ideia. Partidos como PP, União Brasil e Republicanos, por outro lado, já manifestaram apoio quase integral à medida. No PL, legenda de Bolsonaro, a pressão é ainda maior: além da anistia judicial, parte da bancada defende a reversão da inelegibilidade do ex-presidente – demanda que encontra forte resistência em outras siglas do Centrão.
Integrantes do governo reconhecem, nos bastidores, que a mobilização em torno da anistia também reflete um clima de insatisfação da base parlamentar. Deputados e senadores cobram maior agilidade na liberação de emendas e maior atenção às suas pautas regionais. Essa insatisfação tem sido usada por líderes partidários como moeda de troca para reforçar o movimento em defesa de Bolsonaro.
Apesar de oficialmente a reunião de Gleisi tratar de uma agenda mais ampla – que inclui a discussão da PEC da Segurança Pública, medidas provisórias prestes a vencer e o projeto que isenta do Imposto de Renda quem recebe até R$ 5 mil – o tema da anistia tende a dominar os debates.
Hugo Motta, que comanda a Câmara, tem enviado sinais ambíguos. Em reunião com líderes, chegou a admitir que o apoio ao projeto cresceu e que o assunto seria inevitavelmente discutido. No entanto, dias depois, recuou e declarou não haver consenso para votação. Nesta semana, preferiu esvaziar a pauta da Casa, restringindo votações a temas de consenso, muitos deles em formato virtual.
A pressão sobre Motta aumentou após sua reunião com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). O paulista é visto por aliados como potencial candidato à Presidência em 2026 e, segundo interlocutores, a defesa da anistia seria uma forma de conquistar o eleitorado bolsonarista e pavimentar uma aliança com o ex-presidente.
No último 7 de Setembro, em Brasília, o cenário político ganhou novos contornos. Durante o desfile cívico, realizado com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de ministros do governo, houve manifestações contrárias à anistia, em contraste com a pressão crescente no Congresso.
A tendência é que o debate só avance de fato na próxima semana, após o julgamento no Supremo Tribunal Federal que pode definir a responsabilidade criminal de Bolsonaro e de outros investigados nos atos golpistas. Até lá, Planalto e Centrão seguem em uma disputa de bastidores, que pode determinar não apenas o futuro do ex-presidente, mas também o equilíbrio de forças entre governo e oposição no Legislativo.


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